Família Senna teve controle de série e Galisteu 'não é foco', diz sobrinha
A família Senna fez questão de manter o "controle sobre a narrativa e o personagem" a cada fase da produção da nova série da Netflix, diz para Splash Bianca Senna, sobrinha do piloto e diretora da empresa que cuida de sua marca.
"Senna" estreou nesta sexta-feira (26) e é o maior investimento da história da Netflix no Brasil.
O projeto da série começou há 12 anos, ainda com a ideia de filme. Antes disso, nos anos 90, produtores de Hollywood tentaram entrar em acordo com a família para recriar Senna na ficção, sem sucesso.
Bianca admite que a exigência de controle dos herdeiros tornou o plano mais demorado. Até que eles se entenderam com a produtora brasileira Gullane e a Netflix. "Uma das principais razões [da demora] é que a família queria ter certeza do que iria sair - que faria jus à personalidade do Ayrton", ela diz.
Galisteu sem foco
Uma ideia da família, que Bianca explica para Splash, é de que as relações amorosas de Ayrton não estariam "no foco da história".
No caso de Adriane Galisteu, o termo é seguido à risca: no 5º episódio, ela aparece dançando no fundo de uma boate, sem foco. Depois, a câmera a enquadra por menos de dois minutos.
As outras duas ex-companheiras mais famosas, Xuxa e Lilian Vasconcellos, sua ex-mulher, têm muito mais tempo de tela. A desaprovação da família ao namoro entre Ayrton e Adriane aparece em diversos relatos da vida do piloto, como a biografia "Ayrton: O Herói Revelado", de Ernesto Rodrigues.
Questionada sobre o espaço de Adriane na série, Viviane diz: "É uma pena que as pessoas fiquem com essa preocupação tão grande com relação a isso, porque não foi por isso que o Ayrton virou quem ele é", diz Bianca.
Veja abaixo um resumo da conversa
Como a série pode impulsionar a marca Senna?
Passar para as novas gerações quem foi o Ayrton pelo entretenimento é fundamental para a gente, não só pela marca, mas pelo legado dele.
Quem não o viu correr pode saber porque ele se tornou esse herói nacional. Foi um trabalho de 50 mãos, com muito tempo para a gente chegar a este resultado.
Você já disse que, para manter o legado do Senna, tenta "se adaptar à medida que o mundo muda". Como faz isso para a geração Z, que não o viu correr?
A série é um bom exemplo. A gente estava discutindo um filme e acabou lançando uma série. Esse é o formato mais consumido agora.
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O projeto da série foi desenvolvido ao longo de 12 anos. Quais foram os desafios e como a família participou deles?
Foi um processo longo por várias razões. Uma das principais é que a família queria ter certeza do que iria sair - que faria jus à personalidade do Ayrton. Era menos sobre quem vai aparecer, qual vai ser o arco da história, e mais sobre passar o Ayrton como ele era.
Isso fez com que a gente demorasse a achar o parceiro certo, que tivesse essa abertura.
Neste meio de entretenimento, normalmente eles [produtores estrangeiros], uma Warner, uma Lionsgate, compram os direitos sobre a imagem da pessoa e da história dela. E aí fazem o que querem. Contam do jeito que querem. Para a gente isso não funcionaria. A gente queria participar e ter certeza de que fariam do Ayrton o Ayrton.
Precisaria ter carro, pista, é um orçamento alto para fazer uma coisa de qualidade. Eram necessários parceiros, mas tinha toda a questão do controle sobre a narrativa e o personagem. Quando surgiu a Netflix a gente gostou muito do estilo deles, de querer contar da melhor maneira possível.
Vocês acompanharam, estavam nas gravações, conversavam com a equipe?
Foi um período intenso. A gente participou da construção de todos os roteiros, de todas as aprovações. Tinha parte de figurino - são pessoas reais, que representam minha avó, minha mãe - como era o estilo da casa? Eles não sabiam. A gente tinha que trazer muitas referências, como fotos de infância, para deixar o mais próximo possível da realidade.
O Ayrton era uma pessoa muito privada. Então o que as pessoas conhecem dele é o que aparecia nas corridas, né... e nas entrevistas. O que é muito diferente da vida normal dele. O Gabriel [Leone] me ligava várias vezes para perguntar: "Como o Ayrton reagiria aqui?"
A gente foi ver a série quando ainda não estava pronta, no final de maio. "Maratonamos" os seis episódios e foi incrível, eu não parava de chorar. A série é linda.
E o que havia de errado nos outros projetos que foi corrigido neste?
Era um risco muito grande. É um projeto de milhões para um estúdio. Investir e não ter 100% de controle do que vai acontecer é difícil. A gente não queria entregar [o controle], e teve que achar alguém com quem teria um diálogo mais próximo, para chegar a esse ponto em que o risco não era imponderável.
Um projeto audiovisual tem várias interpretações. A primeira é o roteiro, depois a versão do diretor, a interpretação do ator, a edição. A gente teve que olhar cada uma dessas fases e entender o limite em que os dois ficam felizes em relação a correr risco.
Como o Ayrton era muito privado, as pessoas não sabiam quem ele era fora das pistas. As pessoas não diriam que ele brincalhão, por exemplo, e ele era. Para fazer um roteiro em que cabe isso, você precisa ter esse diálogo aberto.
Você disse que não funcionaria vender os direitos sem ter o controle. Mas como foi a negociação financeira? A Netflix pagou ou houve uma cessão?
Não posso dar detalhes sobre isso, porque é confidencial, mas é um formato normal que acontece no audiovisual. A gente não deu e a gente não vendeu. A gente participa junto.
E quais eram os critérios para aprovar ou não o roteiro? Não só como familiar, mas como gestora da marca.
[Queria evitar] atitudes que vão muito contra a personalidade dele. Nesses anos tinha uns roteiros que saíram muito fora do que o Ayrton faria. Foi muito essa modulação da intensidade das emoções.
A entrada do Gabriel e do Vicente [Amorim, diretor] foi o momento em que a gente conseguiu ficar alinhado no que é o personagem. Eles tinham feito bastante pesquisa, então não estavam tão longe de onde a gente precisava chegar. Pelo contrário, muitas vezes traziam coisas que nem a gente sabia.
Teve essa desmistificação, porque acho que o problema é o preconceito que você tem sobre a pessoa.
Que tipo de preconceito você acha que existe sobre o Senna?
Um exemplo é de que ele era "o cérebro". Mas também era brincalhão.
A visão que muitas pessoas acabam tendo sobre o Ayrton é de que ele era muito sério, fechado, que ele era "mental". Isso era o oposto dele. Ele era muito mais emocional, simpático, muito mais coração
Ele estava num ambiente de muita pressão. Então obviamente não ia ficar sorrindo do jeito que fazia em casa. Então, desmistificar essa personalidade foi um ponto importante das discussões.
Ele morreu com um caso romântico inconcluso com a Adriane Galisteu. Como vocês decidiram retratar essa história, que desperta muito interesse popular?
O foco da história não é o lado romântico do Ayrton, porque não é isso que fez a história dele ser relevante, do tamanho que ele é para o Brasil e o mundo.
Ele teve namoradas, e estava, sim, namorando com a Adriane naquela época. Então a gente tratou isso com naturalidade dentro do enredo em que estávamos pensando. É uma pena que as pessoas fiquem com essa preocupação tão grande com relação a isso, porque não foi por isso que o Ayrton virou quem ele é.
Isso faz parte da vida de qualquer pessoa. Ele teve estes relacionamentos, e infelizmente morreu muito cedo. Ele poderia ter seguido uma relação, ter tido filhos. É uma pena, porque eu acho que ele seria um ótimo pai.
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