'O pai tá on!': Como dubladores colocaram o molho brasileiro em 'Moana 2'
"Moana 2" chegou aos cinemas brasileiros e está fazendo um grande sucesso: a animação bateu o recorde de bilheteria de um filme do The Walt Disney Animation Studios de todos os tempos no Brasil e no mundo, ultrapassando "Frozen 2". Além da história que emociona adultos e crianças, o filme conta também com uma importante equipe de dublagem, encabeçada por Any Gabrielly, 22, a voz de Moana, e Saulo Vasconcelos, 50, o Maui em português. No original, a protagonista é interpretada por Auli?i Cravalho, já o semideus, por The Rock.
Em entrevista exclusiva a Splash, os artistas contaram do processo de trazer o filme para mais perto do público brasileiro. Para isso, foram adicionadas expressões comumente usadas por brasileiros, como "o pai tá on", dito pelo semideus, ou "cachinhos", maneira carinhosa como o personagem chama Moana.
O que faço com a dublagem é isso: trabalhar no molho brasileiro. Ou seja: você vai se temperando com o molho brasileiro, para quando você chegar no estúdio, você só tem a parte técnica. Mas aí você joga o que você acha que as pessoas se conectam.
Any Gabrielly, em entrevista a Splash
Para Saulo Vasconcellos, é fundamental ter detalhes que liguem a obra ao país na versão brasileira, e vai além de apenas expressões: também está na maneira de falar. O ator explica poder interpretar Maui de maneira mais coloquial, usando, por exemplo, "tá" ao invés de "está".
É um trabalho de pesquisa local para trazer a cultura do Brasil.
Saulo Vasconcellos
Segundo Vasconcellos, a dublagem brasileira avançou nos últimos 15 anos, e considera o texto utilizado hoje em dia mais "picante". "Tem uma brasilidade", comenta.
Sucesso
Tanto Any Gabrielly quanto Saulo Vasconcellos fizeram a grande estreia no mundo da dublagem ao trabalharem em "Moana", de 2016, e se chocaram com o sucesso alcançado. "É diferente porque a gente fica trancado em uma cabine. Grava umas falas, umas músicas muito legais, tudo muito louco, mas não faz muito sentido. De repente vai para o cinema e começa a explodir as mensagens!", relembra a voz brasileira de Maui.
A experiência foi uma surpresa também para Gabrielly, que assume ter feito o teste para o primeiro filme sem saber como seria o trabalho de dublagem. "Entrei no estúdio e o diretor disse: 'anel'? Eu me perguntei: o que é anel?", diz em tom de brincadeira ao se referir aos anéis de dublagem, os quais são trechos de 20 segundos de uma produção audiovisual, utilizado para contabilizar o tempo de gravação e o número de horas trabalhadas por um dublador.
Foi tudo muito cru para mim, mas eu já tinha feito teatro musical, e sinto que, especialmente em um filme da Disney, existe esse lugar teatral. Eu também, por ser muito nova [à época, ela tinha 13 anos], acho que era muito moldável. Foi muito puro. O Rodrigo [Andreatto, diretor de dublagem] foi me guiando e eu estava abertona para fazer tudo.
Any Gabrielly
Rodrigo Andreatto é o diretor de dublagem de "Moana 2", responsável também por "Moana" e "Divertida Mente 2".
Além do pop
A dupla principal de dubladores conta com uma vasta carreira não apenas na atuação, mas também no cenário musical. Any Gabrielly fez parte do grupo Now United por cinco anos; já Saulo Vasconcellos estrelou diferentes musicais de sucesso, como "O Fantasma da Ópera", "Mamma Mia" e "Os Miseráveis".
"Moana 2", assim como "Moana", conta com músicas marcantes e, segundo os atores, é um desafio gravar as canções. "No teatro musical, a gente ensaia mil vezes antes de levar para o palco. Para o filme, não. Recebemos o material na hora, você não ensaia", conta Vasconcellos.
No filme de 2016, ele cantou o sucesso "De Nada" e, agora, canta "Quero Ouvir um Chee Hoo". "Me amarrei demais, mas estava com muita ansiedade. Essa nova é mais em cima de um rap, então é como um trava-língua, muito complicado. Tem que soar natural, como se fosse super espontâneo, e é tudo muito rápido, tecnicamente, para articular e entender as palavras, cada uma das sílabas. Senti muita dificuldade", relata.
Any Gabrielly também enfrentou um grande desafio nas gravações de "Moana 2", principalmente quando precisou interpretar "Além". "Estava num universo muito pop, pois estou gravando as minhas músicas pop, e eu tava em um grupo pop."
Por fim, os maneirismos e trejeitos típicos do gênero musical estavam intrínsecos à cantora, que precisou se desprender deles para Moana. "Fiz umas aulinhas antes para realmente voltar naquele espaço de teatro musical, nesse espaço Disney, que eu já sei existir essa exigência, e isso ajudou muito, mas são coisas que já estavam lá, por hábito", conclui Any Gabrielly.