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Amor, músicas e vídeos ajudam Kubrusly a enfrentar demência: 'Apagou todos'

De Splash, em São Paulo

04/12/2024 05h30

O documentário "Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí" retrata a história de um dos jornalistas mais queridos do Brasil: Maurício Kubrusly, 79. A produção do Globoplay mostra como é a vida do repórter, que fez sucesso no Fantástico (Globo) com o quadro Me Leva Brasil, após o diagnóstico de demência.

"Quer entender, quer estar junto"

Famoso por trabalhar em TV, rádio e jornais de SP e RJ, Maurício Kubrusly observou os primeiros sinais de perda de memória há sete anos. Em 2019, ele recebeu o diagnóstico de demência fronto-temporal e foi afastado da TV Globo após 34 anos de trabalho para cuidados médicos.

Beatriz Goulart, casada com o repórter há mais de 20 anos, guia o documentário mostrando como é a nova rotina de vida de Kubrusly. Ele somente se recorda do nome da companheira 16 anos mais nova e tem seu apoio na vida pacata de passeios na praia, idas ao médico, encontros com amigos dos tempos de rádio e TV e volta ao passado através de suas reportagens

É engraçado que a única pessoa que ele sabe o nome é o meu. Ele apagou todos os nomes, é um negócio bem forte para mim. Ele continua gostando de todo mundo como se fosse apresentado novamente para as pessoa que ele conhecia há 30 anos: "Oi, como vai?". Isso é bacana nele, é sempre aberto a conhecer novas pessoas. Beatriz Goulart

Beatriz Goular e Maurício Kubrusly na piscina de casa Imagem: Reprodução/Globoplay

Mudança de São Paulo para Serra Grande, no sul da Bahia, ajudou o repórter a entender a sua condição médica. "No começo da demência, ele não acessava essa dor. Ele estava bem mais longe. Conforme a gente foi encontrando alguns recursos, o canabidiol e a mudança de vida para cá, ele está bem mais consciente do que está acontecendo", conta Goulart.

Ele pergunta: 'Pra quê a gente veio morar nesse fim de mundo que não tem ninguém?' Eu tento explicar de alguma forma, mas não funciona. No mar, ele entende e diz: "quero ficar aqui". Beatriz Goulart

Doença consumiu as lembranças e afetou a capacidade de ler e escrever de Kubrusly. Ele recebe ajuda da mulher em tempo integral para cumprir as atividades diárias e tem suas reportagens dos tempos de Fantástico utilizadas para se reconhecer quando esquece quem é.

Ele sempre fica me chamando, quer entender, quer estar junto. Quando ele tinha celular, ele me mandava mensagem de 10 em 10 minutos, mas ele perdeu a leitura e nem usa mais celular e email. Beatriz Goulart

Maurício Kubrusly tem auxilio da música para relembrar do passado Imagem: Reprodução/Globoplay

Além dos vídeos na TV, a música é outra ferramenta encontrada para ajudar Kubrusly a reviver o passado. Famoso crítico musical nas décadas de 1970 e 1980, o jornalista tem uma coleção de mais de 8.000 CDs na sala de som de sua casa para ouvir ao longo do dia.

Memória de Kubrusly guardou o nome da esposa e da canção "Esotérico", de Gilberto Gil. O trecho da música "mistério sempre há de pintar por aí" deu origem ao nome do documentário.

É o que mais ficou na vida dele. Ele tem um ipod com 15 mil músicas e ninguém tem mais ipod. Ele é tipo um DJ da nossa casa, ele acorda e escolhe o que a gente vai ouvir o dia inteiro. É como se fosse um programa de rádio. Beatriz Goulart

O documentário também destaca a história de amor de Beatriz e Maurício. Nas filmagens, a arquiteta conta como eles se conheceram e exibe o jornalista indagando "você ainda me ama?" e "eu sou bonito?" para companheira em momentos de intimidade.

"Nos conhecemos em um site de relacionamento há 21 anos. Ele tinha um nick (nome), mas não tinha foto, e eu não sabia que era. Ele falou que era uma pessoa conhecida e não podia mostrar foto. Então, falei: 'não me interesso por pessoas conhecidas, até logo'. Mas aí ficamos conversando uns dois meses, ele me ajudou a escrever o meu mestrado e, finalmente, fomos nos conhecer. Minha filha pesquisou e falou: 'esse cara tem uma cara conhecida'; e eu disse 'parece que ele é famoso. Vê aí quem é'", conta a mulher de Kubrusly.

"Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí" tem direção de Caio Cavechini e Evelyn Kuriki. O documentário estreia nesta quarta-feira (4), no Globoplay —plataforma de streaming da TV Globo.

Maurício Kubrusly tem vida discreta no sul da Bahia Imagem: Reprodução/Globoplay

Quem é Maurício Kubrusly?

Maurício Kubrusly é considerado um dos maiores jornalistas de cultura no Brasil. Ele trabalhou em rádios, jornais, revistas e TVs, e ficou marcado como importante crítico musical.

Aos 17 anos, Maurício visitou a rádio Jornal do Brasil para sanar a curiosidade de como funcionava os bastidores de uma rádio. Ele foi apresentado ao chefe de redação e ganhou emprego como repórter no veículo.

Durante a década de 1970 e 1980, Kubrusly ganhou destaque na mídia com a criação da revista Somtrês. A publicação mensal era considerada um dos pontos altos de crítica musical na época.

Após rápida experiência na TV Cultura, o jornalista foi contratado pela Globo, em 1985. Ele participou de coberturas importantes de Copas do Mundo, Jogos Olímpicos e cerimônias do Oscar, mas o auge da carreira foi no Fantástico.

Além de falar de cultura e comportamento, Kubrusly rodou o Brasil com reportagens curiosas para o quadro Me Leva Brasil. O jornalista já visitou mais de 150 cidades e percorreu cerca de 400 mil km por todo o Brasil. Em 2005, ele lançou um livro com o mesmo nome do quadro contando as histórias do programa.

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