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Repórter volta às Malvinas para doc de guerra antes de morrer: 'Era fod*'

Ricardo Pereira viajou às Malvinas para reviver detalhes da guerra Imagem: Reprodução/Globoplay

De Splash, em São Paulo

07/12/2024 05h30

O jornalista Ricardo Pereira, que morreu no ano passado, aos 72 anos, ganhou um documentário sobre sua última grande aventura. "Malvinas: O Diário de uma Guerra" mostra seu encontro com um soltado veterano da Guerra das Malvinas, cujo diário foi encontrado pelo brasileiro durante uma cobertura em 1983.

Ricardo é de uma geração de superreporteres. Ele era muito fod*, e o bonito é que a história vem para cima dele. Ele estava ali disponível e a história vai atrás dele: 'não interessa se você está doente, vem me contar aqui'. Foi uma das histórias mais marcantes. Eugenia Moreyra, amiga de Ricardo Pereira e diretora do documentário, em entrevista para Splash

Motivação extra

Ricardo Pereira se aposentou na Globo em 2023 e tinha planos de curtir a família e descansar após quatro anos de batalha contra um câncer de pâncreas. Entretanto, ele recebeu duas boas notícias que o deram ânimo para viver: uma vacina alemã para combater a doença e a existência do personagem de uma matéria da Guerra das Malvinas.

Ele recebeu uma mensagem no Instagram de um professor dizendo que o soldado da matéria dele estava vivo. Daí, foi instantânea a ideia de criar alguma coisa. O tratamento que ele vinha fazendo, que era quimioterapia, já não estava dando efeito. Então, não foi só uma notícia do tipo: 'tenho uma história', era: 'tenho uma razão para continuar animado'. É uma daquelas coincidências meio incríveis, né? Sofia Pereira

Oportunidade de reviver a reportagem foi uma motivação extra ao jornalista em virtude da pouca eficácia do tratamento do câncer. "Ele se aposentou em setembro da Globo e descobriu o soldado em julho. Foi perfeito, porque já estava saindo do trabalho e o projeto chegou no momento certo para dar aquela motivação extra", completou Sofia Pereira, filha de Ricardo Pereira e produtora executiva do documentário.

Ida para Argentina marcou encontro emocionante com o veterano argentino Adrián Sachetto. Após colocar o papo em dia, o jornalista ouviu o antigo soldado topar o convite para voltar às Malvinas com suas famílias —na viagem que deu origem ao documentário.

Com o meu pai doente e a viagem até as Malvinas, que é muito longa e só tem um voo por semana, foi complicada a organização. Quando chegamos lá, o clima era muito difícil, estava muito frio, muito vento, terreno bem difícil de andar. Tudo isso cansou ainda mais o meu pai e a gente não conseguiu gravar tudo que tínhamos imaginado. Sofia

Adrian e Ricardo também foram impedidos de percorrer Goose Green, nas Malvinas, em virtude de uma quebra de regra. Com exposição de bandeiras da Argentina em solo inglês, a liberação para gravar no cemitério e no local onde o repórter achou o diário do soldado foi retirada.

Quando visitamos o cemitério, a família Sachetto tinha essas camisetas e as bandeiras da Argentina que são considerados protesto contra a Inglaterra. O proprietário de Goose Green retirou a nossa autorização para ir lá. O meu pai ficou bastante abalado com isso. Ele já estava fragilizado por causa da viagem e isso só piorou a situação. Sofia Pereira

Grande diferencial do jornalista na condução do documentário foi a leveza e empatia para contar a história sem apelos. "O Ricardo falava muitas vezes que 'era um produtor de felicidade' e ele era isso mesmo. Era muito fácil para ele chegar nas pessoas. Ele era um muito cativante", pontua Eugenia.

Ricardo Pereira viajou com soldado argentino para as Malvinas para reviver detalhes da guerra Imagem: Reprodução/Globoplay

Doença e morte

Ricardo Pereira não estava tendo sucesso no tratamento do câncer de pâncreas. Apesar da nova vacina, ele não viu a doença regredir, mas não cogitou desistir do filme, por saber que era sua última grande matéria.

Tentamos falar da maneira mais delicada possível e usando, na maior parte das vezes, as palavras dele. Mesmo o melhor amigo dele, quando conta, lê um texto que ele escreveu. Ele não estava mais aqui quando a gente editou o filme, mas tentamos, ao máximo, botar a história com as palavras dele e a doença com as palavras dele também. Eugenia

O jornalista morreu duas semanas depois da viagem em família para as Malvinas. Assim, Sofia Pereira, sua filha, decidiu convidar a jornalista Eugenia Moreyra, amiga do pai, para assumir a direção da obra. "Antes da Eugênia vir, eu pensei que não ia dar. Me vi em uma situação difícil, porque também foi a minha primeira experiência com documentário e produção de audiovisual. E, obviamente, foi difícil me remover um pouco como filha e pensar em como criar algo que também é interessante para as pessoas verem. Mas nunca pensamos em não faze", pontua Sofia.

Eugenia aconselha o grande público a assistir a nova produção do Globoplay. "Precisam assistir a 'Malvinas' para verem uma bela história. É uma história que tem tudo: guerra, emoção, encontro, luta pela vida. Então, acho que vale a pena ver para se emocionar, para conhecer. Não é uma história banal, de jeito nenhum".

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