Repórter volta às Malvinas para doc de guerra antes de morrer: 'Era fod*'
O jornalista Ricardo Pereira, que morreu no ano passado, aos 72 anos, ganhou um documentário sobre sua última grande aventura. "Malvinas: O Diário de uma Guerra" mostra seu encontro com um soltado veterano da Guerra das Malvinas, cujo diário foi encontrado pelo brasileiro durante uma cobertura em 1983.
Ricardo é de uma geração de superreporteres. Ele era muito fod*, e o bonito é que a história vem para cima dele. Ele estava ali disponível e a história vai atrás dele: 'não interessa se você está doente, vem me contar aqui'. Foi uma das histórias mais marcantes. Eugenia Moreyra, amiga de Ricardo Pereira e diretora do documentário, em entrevista para Splash
Motivação extra
Ricardo Pereira se aposentou na Globo em 2023 e tinha planos de curtir a família e descansar após quatro anos de batalha contra um câncer de pâncreas. Entretanto, ele recebeu duas boas notícias que o deram ânimo para viver: uma vacina alemã para combater a doença e a existência do personagem de uma matéria da Guerra das Malvinas.
Ele recebeu uma mensagem no Instagram de um professor dizendo que o soldado da matéria dele estava vivo. Daí, foi instantânea a ideia de criar alguma coisa. O tratamento que ele vinha fazendo, que era quimioterapia, já não estava dando efeito. Então, não foi só uma notícia do tipo: 'tenho uma história', era: 'tenho uma razão para continuar animado'. É uma daquelas coincidências meio incríveis, né? Sofia Pereira
Oportunidade de reviver a reportagem foi uma motivação extra ao jornalista em virtude da pouca eficácia do tratamento do câncer. "Ele se aposentou em setembro da Globo e descobriu o soldado em julho. Foi perfeito, porque já estava saindo do trabalho e o projeto chegou no momento certo para dar aquela motivação extra", completou Sofia Pereira, filha de Ricardo Pereira e produtora executiva do documentário.
Ida para Argentina marcou encontro emocionante com o veterano argentino Adrián Sachetto. Após colocar o papo em dia, o jornalista ouviu o antigo soldado topar o convite para voltar às Malvinas com suas famílias —na viagem que deu origem ao documentário.
Com o meu pai doente e a viagem até as Malvinas, que é muito longa e só tem um voo por semana, foi complicada a organização. Quando chegamos lá, o clima era muito difícil, estava muito frio, muito vento, terreno bem difícil de andar. Tudo isso cansou ainda mais o meu pai e a gente não conseguiu gravar tudo que tínhamos imaginado. Sofia
Adrian e Ricardo também foram impedidos de percorrer Goose Green, nas Malvinas, em virtude de uma quebra de regra. Com exposição de bandeiras da Argentina em solo inglês, a liberação para gravar no cemitério e no local onde o repórter achou o diário do soldado foi retirada.
Quando visitamos o cemitério, a família Sachetto tinha essas camisetas e as bandeiras da Argentina que são considerados protesto contra a Inglaterra. O proprietário de Goose Green retirou a nossa autorização para ir lá. O meu pai ficou bastante abalado com isso. Ele já estava fragilizado por causa da viagem e isso só piorou a situação. Sofia Pereira
Grande diferencial do jornalista na condução do documentário foi a leveza e empatia para contar a história sem apelos. "O Ricardo falava muitas vezes que 'era um produtor de felicidade' e ele era isso mesmo. Era muito fácil para ele chegar nas pessoas. Ele era um muito cativante", pontua Eugenia.
Doença e morte
Ricardo Pereira não estava tendo sucesso no tratamento do câncer de pâncreas. Apesar da nova vacina, ele não viu a doença regredir, mas não cogitou desistir do filme, por saber que era sua última grande matéria.
Tentamos falar da maneira mais delicada possível e usando, na maior parte das vezes, as palavras dele. Mesmo o melhor amigo dele, quando conta, lê um texto que ele escreveu. Ele não estava mais aqui quando a gente editou o filme, mas tentamos, ao máximo, botar a história com as palavras dele e a doença com as palavras dele também. Eugenia
O jornalista morreu duas semanas depois da viagem em família para as Malvinas. Assim, Sofia Pereira, sua filha, decidiu convidar a jornalista Eugenia Moreyra, amiga do pai, para assumir a direção da obra. "Antes da Eugênia vir, eu pensei que não ia dar. Me vi em uma situação difícil, porque também foi a minha primeira experiência com documentário e produção de audiovisual. E, obviamente, foi difícil me remover um pouco como filha e pensar em como criar algo que também é interessante para as pessoas verem. Mas nunca pensamos em não faze", pontua Sofia.
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Quero receberEugenia aconselha o grande público a assistir a nova produção do Globoplay. "Precisam assistir a 'Malvinas' para verem uma bela história. É uma história que tem tudo: guerra, emoção, encontro, luta pela vida. Então, acho que vale a pena ver para se emocionar, para conhecer. Não é uma história banal, de jeito nenhum".
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