No 'coração' da CCXP 24, artistas pedem atenção ao quadrinho brasileiro

A área que recebe o apelido de "coração da CCXP" não é o palco Thunder, nem o estande de um estúdio: é o Artists' Valley, onde quadrinistas expõem e vendem seus trabalhos.

Monge Han, 33, decidiu aproveitar o evento para lançar seu novo livro. Em entrevista para Splash, o autor de "Daruma: Perseverança" explica que tomou a decisão porque a CCXP é uma oportunidade de encontrar ao vivo leitores de várias partes do Brasil que o acompanham pela internet: "Foi um dos lugares em que mais senti que eu realmente impacto as pessoas de alguma forma".

Eu atendi um menino que chegou ao meio-dia e está até agora, que deve ser umas 18h, só no Artists' Alley. Se eu viesse como público, também só ficaria aqui. Monge Han

Ele chama atenção para a invisibilidade do quadrinho brasileiro, mesmo dentro da comunidade de HQs. O ilustrador aponta que estava dividindo o Artists' Valley com alguns dos maiores nomes da área. Ainda assim, quando se fala em quadrinhos, as pessoas pensam em mangás e heróis norte-americanos antes dos produtos nacionais: "O quadrinho brasileiro, como todas as artes brasileiras que não são músicas, é um pouco subestimado".

O quadrinista Monge Han, que lançou na CCXP a HQ 'Daruma'
O quadrinista Monge Han, que lançou na CCXP a HQ 'Daruma' Imagem: Luiza Missi/UOL

Isadora Zeferino, 31, costuma participar de feiras dentro e fora do Brasil. A quadrinista, que já expôs seu trabalho em países como Estados Unidos, México e Espanha, conta que os estrangeiros sempre se impressionam quando ela mostra o mapa da CCXP: "Na Comic Con de Nova York, os artistas ficam num galpão. No pavilhão, onde a galera está, os artistas não estão. Aqui, é a primeira coisa que você vê quando entra. Não tem como estar no evento sem ver os artistas".

Apesar disso, ela ainda sente falta de oportunidades para quadrinistas no Brasil. Isadora explica que decidiu participar de sua primeira New York Comic Con porque sabia que lá teria contato com recrutadores do mercado editorial e de agências de talentos —uma prática que só recentemente começou a acontecer também nas feiras brasileiras. "Na primeira vez, eu já recebi quatro cartões de visita da Disney. Foi assim que conheci a minha agente".

Por isso, Isadora publicou seu primeiro livro nos Estados Unidos antes do Brasil. "Mismatched", uma versão moderna de "Emma", de Jane Austen, foi lançado nos Estados Unidos em setembro e chegará no Brasil como "Missão Cupido" em fevereiro de 2025. "Eu me sinto em parte traidora do movimento, mas tenho que pagar minhas contas", brinca a ilustradora. Em sua loja na CCXP, a carioca fez questão de levar cinco exemplares da edição norte-americana por dia —o máximo que conseguiu colocar na mala para São Paulo.

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O nível de desenvolvimento dos quadrinhos no Brasil, os estilos diferentes, humorísticos, dramáticos, autobiográficos, e as pessoas acabam não sabendo porque é de acesso difícil. Imagina se fosse mais fácil. Se as pessoas estivessem fechando contratos em que podem ficar dois, três anos trabalhando num projeto? Isadora Zeferino

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