Crunchyroll torce por anime brasileiro: 'Não precisa vir sempre do Japão'
Fábio Garcia
Colaboração para Splash, em São Paulo
16/12/2024 12h00
O anime veio para ficar, pelo menos é a impressão que ficava ao entrar na CCXP 24. Após vestir uma credencial temática de anime como "Solo Leveling", o visitante do maior evento de cultura pop da América Latina passava por publicidades de "Dragon Ball Daima", um grande palco temático otaku e esbarrava em muitos cosplays de "Frieren e a Jornada Para o Além". Isso sem contar a presença da Crunchyroll, serviço de streaming exclusivo de animes cujo estande estava localizado bem na entrada do evento.
Para celebrar essa grande importância do conteúdo otaku na CCXP, a Crunchyroll trouxe seus diretores para visitar o país, conhecer o evento e até apresentar o tradicional painel de anúncios de 2025 no palco Thunder, o maior do local. Splash teve a oportunidade de conversar individualmente sobre essa "invasão otaku" com Rahul Purini (presidente da Crunchyroll), Mitchel Berger (vice-presidente sênior) e Gita Rebbapragada (diretora de operações), e reunimos aqui as principais informações dessas três entrevistas.
Brasil, pirataria e produção nacional
Engana-se quem pensa que o Brasil é uma peça pouco importante para o mercado de animes. Durante um painel, realizado na Unlock CCXP, Rahul Purini confirmou que o país é o segundo maior mercado de assinantes da Crunchyroll, atrás apenas dos Estados Unidos. "A voz dos fãs brasileiros, assim como dos fãs do mundo todo, é muito importante para nós", reafirmou Mitchel em conversa com Splash.
Os executivos não ficaram com pé atrás nem para responder sobre assuntos mais espinhosos, como pirataria. "A melhor coisa que podemos fazer é oferecer um serviço acessível, seguro e legalizado. E também parte da receita vai para os estúdios de animes, então assistir na Crunchyroll tem um impacto direto nos criadores dos animes", revelou Mitchel.
O presidente da Crunchyroll completou: "Pirataria não é grande só no Brasil, mas no mundo. Se você procurar uma lista com os 20 sites mais acessados, vários são para ver anime. Nós temos que fazer a Crunchyroll ser tão competitiva e tão prática para os fãs que eles vão preferir assistir no nosso streaming."
Entusiastas de animação japonesa, eles também falaram sobre o diferencial dos animes e como produção, roteiro e estilo artístico servem para contar tramas únicas. Mitchel trouxe um olhar mais globalizado para o assunto: "Não significa que todas as histórias precisam vir do Japão. 'Solo Leveling' é uma história sul-coreana, alguns anos atrás tivemos o anime 'Radiant' baseado em uma obra francesa. Acho que boas histórias têm uma oportunidade nos animes".
Eu adoraria novos animes vindos de outras histórias. Eu adoraria ver um anime com histórias brasileiras, francesas, indianas. Isso é o que eu gostaria de ver, histórias locais desenvolvidas por criadores japoneses sob a perspectiva deles. Rahul Purini, presidente da Crunchyroll
Importância da dublagem
A Crunchyroll tem investido bastante em dublagem, às vezes conseguindo lançar produções dubladas simultaneamente ao lançamento japonês. E a dublagem parece ser fundamental para o mercado brasileiro: "No Brasil, nossa maior audiência está no conteúdo dublado", confirmou Purini.
Para os executivos, são várias formas de consumir a mesma obra. Mitchel, por exemplo, contou que ele e o filho têm preferências diferentes, mas acabam assistindo tanto dublado quanto legendado porque são experiências diferentes, quase outra obra.
Curiosamente muitas pessoas assistem tanto legendado quanto dublado. Eu acompanho legendado para ver o que vai acontecer, e depois volto a ver dublado em uma outra experiência. Gita, diretora de operações e próxima da área de dublagem da Crunchyroll
Gita também explica os desafios de dublagem. "Na versão legendada você pega uma pequena tradução do que foi dito. (...) Nossas dublagens de maior sucesso respeitam o desejo do criador da história, e fazem a sincronia labial e contextualizam para aquela região".
A dublagem acaba sendo escolhida até pela atividade que o espectador está fazendo. Gita comentou que pessoas que se dividem em muitas funções, por exemplo gostam de trabalhar enquanto assistem a um anime, vão preferir a versão dublada porque não podem ler as legendas no momento.
Filmes nos cinemas, animes em outros streamings
Nos últimos meses a Crunchyroll tem feito algumas estratégias para expandir para outras áreas, como o lançamento de filmes para o cinema, com a ajuda da Sony Pictures.
Os fãs gostam de ir ao cinema e ver seus animes na tela grande. Tive a chance de acompanhar o lançamento do especial de 'Demon Slayer' no cinema. Uma das coisas que as pessoas mais gostavam era ouvir a música de abertura e de encerramento com um som de cinema, era uma ótima experiência. Nem todo mundo tem a possibilidade de ir a uma CCXP, mas as pessoas amam encontrar pessoas com quem compartilham o gosto por anime. Assistir em casa é uma coisa, mas ver em grupo é diferente. Quando trouxemos 'Dragon Ball Super Super Hero' percebemos que a cada personagem que aparecia, a plateia repercutia. Mitchel Berger, vice-presidente sênior da Crunchyroll
Outra estratégia tem sido disponibilizar algumas de suas séries para outros serviços de streaming, como a Netflix. Com um discurso alinhado, os três executivos concordaram que licenciar obras para outro player é uma forma de fazer mais pessoas terem contato com o mundo dos animes. O plano pode parecer estranho, mas Rahul tem uma boa explicação.
O que nós queremos com essa parceria é fazer com que as pessoas possam acessar os animes, assistir e, quando se apaixonarem, elas vêm para a Crunchyroll.
Perguntado se a estratégia tem dado resultado, o executivo lamenta que ainda é cedo para maiores informações: "Não temos muitos dados ainda". Pelo visto a invasão anime está acontecendo, e esse destaque na CCXP foi só o começo.