Novo 'Tropa de Elite'? Globo e Disney rodam filme em 'Faixa de Gaza' no Rio
O Complexo da Maré, onde estão 16 favelas da zona norte do Rio de Janeiro, é o cenário de "Na Linha de Fogo" — primeira parceria entre Globoplay e Disney no cinema brasileiro. Splash acompanhou um dia de filmagem do longa que ainda não tem data de estreia.
Realidade ou ficção
Produzido pelo AfroReggae, o filme gira em torno da luta pelo controle territorial entre traficantes e forças policiais. A trama aborda os dilemas éticos enfrentados por policiais em um ambiente de caos e violência. Tudo isso em uma superprodução, com direito a efeitos especiais, helicópteros e blindados.
Cenas do longa foram gravadas entre áreas comandadas pelas facções Terceiro Comando Puro e Comando Vermelho, conhecida como "Faixa de Gaza". Splash esteve no local, em um dia de temperatura superior aos 40º. O cenário real, de casas furadas por tiros de armas potentes, servia de cenário para o longa que mostra exatamente o impacto devastador dessa guerra na vida das pessoas nas favelas do Rio de Janeiro.
Questionado se o filme seria um novo "Tropa de Elite", o diretor Afonso Poyart disse que alguns elementos podem ser semelhantes. "Tropa de Elite é sempre uma barra alta. Estamos filmando em uma comunidade real, temos muitas cenas de ação, cenas de combate que se assemelham a um filme de guerra. É guerra urbana. As cenas que a gente descreve aqui traz 20 ou 30 policiais e 50 homens do outro lado. Tiro, bomba, granada, helicóptero".
Foi a primeira vez que o diretor paulista rodou um longa em uma área com disputa territorial pelo tráfico. Segundo ele, foi um choque a primeira visita. "Tem homens usando fuzis na rua, é uma experiência bem diferente.
"Mas o que AfroReggae faz é transformador ao trazer o audiovisual para dentro da comunidade", afirma ele. "A presença de uma equipe desse tamanho aqui, as crianças vão se interessando, a comunidade vai melhorando com a nossa presença. Enquanto estamos aqui, o índice de criminalidade diminuiu".
Esse lugar é todo furado de balada, você tem certeiras espalhadas, é uma zona de guerra, onde as pessoas moram, as crianças vão para escola. Sou de São Paulo e nunca tinha tido essa experiência tão profunda... A verdade se imprime em cada fotograma do filme. Temos pessoas da comunidade na produção, no elenco, ex-policiais, é quase um documentário. Afonso Poyart
Polícia é protagonista
Os dois protagonistas são delegados da CORE —batalhão especial da Polícia Civil— que tem visões de mundo bem diferentes. Embora Fabiano Noronha (Dilsinho Oliveira), coordenador delegado da CORE, seja considerado autoritário e "matador", o personagem é admirado por sua corporação devido sua habilidade de comandar, exceto por seu colega Abdias Reis (William Nascimento), o segundo delegado da CORE.
Noronha é muito intenso. É muito racional, mas quando as coisas saem do controle, ele fica irracional. Ele tem a equipe de elite mais operacional do Rio na mão, então, nada pode sair do controle dele... Noronha e Abdias são muito diferentes. Querem chegar no mesmo resultado, mas por caminhos diferentes. Eles precisam se unir. Dilsinho Oliveira
Abdias é um personagem muito humano, é um ativista, um negro retinto periférico nascido em comunidade. É um cara que tem personalidade, que quer mudar as coisas. coisas, Ter um Abdias no dia a dia é muito importante... Existem muitos Abdias na polícia civil. Oportunidade de homenagear o ativista Abdias do Nascimento, mas também Benjamin de Oliveira (1870-1954), o primeiro palhaço negro do Brasil. O personagem presta serviço comunitário no hospital do INCA para as crianças com câncer. Cenas emocionantes. William Nascimento
Os dois fizeram um treinamento intenso para filmar cenas de ação como a que um helicóptero é derrubado durante conflito. "Tive uma preparação com personal, ganhei 13 kg, fiquei mais forte para pegar condicionamento físico e tive preparação para entender a conduta de patrulha, tive aulas dentro da CORE, como eles andam, como eles reagem, como eles atiram".
Dilsinho é ex-policial e acredita que os espectadores vão fazer uma constatação quando o filme for divulgado. "O povo carioca vai ver na telona o que vive diariamente. Para o restante do Brasil, a gente vai poder mostrar com riqueza de detalhes o que acontece aqui dentro. É uma guerra diária. Vamos ver muitas armas no filme, mas ele fala sobre pessoas, há uma questão racial que muitas pessoas não enxergam".
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.