OPINIÃO
Fãs passam pano em passado violento de Chris Brown em show revisional em SP
Adriana Del Ré
Colaboração para Splash, em São Paulo
22/12/2024 11h43
A última vez que Chris Brown esteve no Brasil foi em 2010, e a experiência foi decepcionante para os fãs. Passando por aqui com a turnê 'Fan Appreciation Tour', derivada de seu álbum "Graffiti" (2009), pelas principais casas de shows de algumas capitais brasileiras, Brown fez um show curto, de uma hora de duração, quando mais mostrou suas habilidades como dançarino/coreógrafo do que propriamente como cantor. Na época, o rapper não era um artista em ascensão: já estava em seu 3º álbum e com um rastro de hits.
Passados 14 anos, Brown virou artista de grandes arenas. Neste sábado (21), voltou numa outra frequência: fez pouco mais de duas horas de show para uma plateia lotada, com 50 mil pessoas, no Allianz Parque, em São Paulo, onde volta a se apresentar neste domingo (22). E, diferentemente da outra vez, interagiu mais com os fãs. Ele traz a tiracolo a tour '11:11', inspirada em seu recente álbum, de mesmo nome, lançado em 2023. O brasileiro Mc Livinho fez show de abertura.
Considerado um dos principais nomes do R&B de sua geração, Brown faz um show retrospectivo, distribuído em grandes blocos ou atos, totalizando mais de 50 canções —o ano de 2025 marca os 20 anos do lançamento de seu disco de estreia, "Chris Brown", com o qual emplacou sucessos como "Run It!" e "Gimme That".
É uma superprodução, com direito a pirotecnia, troca de figurinos, bailarinos, muitas coreografias e hits. Apesar de, sem dúvidas, cantar ao vivo, ele faz claramente uso de autotune e playback em alguns momentos do show. Os fãs pareceram não se importar.
Sob uma chuva fina, a apresentação começou às 20h28, com "Angel Numbers/Ten Toes", do novo álbum, seguida por outras canções dessa sua produção mais recente, como "Summer Too Hot" e "Go Girlfriend", e também "Lurkin" e "Heat", do disco "Indigo" (2019), marcando o mote da turnê —o novo material— e mostrando também uma continuidade de trabalho. Mas não demorou muito para enfileirar hits mais antigos, como "Ayo", "Beautiful People" e "Yeah 3x".
Mas o ato seguinte, o 2, é o ápice do show todo, com uma série de hits dele de meados dos anos 2000, quando estava em início de carreira, como as já citadas "Run It!" e "Gimme That", além de "Yo (Excuse Me Miss)", "Say Goodbye" e "Kiss Kiss". Em "Wall to Wall", ele reproduz um trecho do videoclipe dessa música, sobrevoando sobre o público com ajuda de cabos, do palco principal até a outra pronta, no palco secundário, mais perto de uma parte da arquibancada.
O show segue com um bom roteiro de repertório nos demais blocos, com mais hits e baladas românticas —além de coreografias com cunho mais sexual. Mas a interrupção entre esses atos, com a apresentação de sets do DJ Fresh, para que Brown possa trocar de figurino, dá uma sensação de quebra de continuidade, esfriando o público, que precisa se "reaquecer" para o bloco seguinte.
Apesar dessa irregularidade, ele mantém a atenção da plateia até o final, quando canta "Forever", também uma de suas mais antigas, do álbum "Exclusive" (2007).
Nos últimos tempos, tem-se discutido sobre se é possível separar obra de autor ou autora quando a pessoa em questão tem posicionamentos controversos ou histórico conturbado/ polêmico/reprovável. Ou, como popularmente se diria nas redes sociais, "passar pano".
Chris Brown é talentoso, artista completo, um dos grandes de sua geração, não se pode negar. No entanto, aos 35 anos, já carrega em sua biografia episódios de violência doméstica e acusações de agressão. O caso da agressão à cantora Rihanna, sua ex-namorada e outra estrela da música, é o mais famoso.
E então: como separar a obra do artista Chris Brown da persona Chris Brown? Ao que tudo indica, o público que lota seus shows, incluindo uma geração mais jovem de fãs, tem conseguido fazer isso.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL