'Foram várias condições': como a família Suassuna participa de 'Auto 2'?

"O Auto da Compadecida 2", que estreia nos cinemas em 25 de dezembro, contou com a liberação da família de Ariano Suassuna — autor da peça que inspirou a produção audiovisual de 1999. Sequência será lançada após 10 anos da morte do escritor.

Colocamos tantas condições que parecia ser para o projeto não sair. Precisávamos do mesmo diretor, mesmos roteiristas e protagonistas do primeiro 'Auto' para não descaracterizar a obra. Não existem Chicó sem Selton Mello, João Grilo sem Matheus Nachtergaele e Rosinha sem Virginia Cavendish.
João Suassuna, neto de Ariano

Como família influenciou novo filme

Familiares de Ariano não acompanharam as gravações. "Diria que a gente participou do roteiro de forma intimista, artística, ética e afetiva, mas também demos total liberdade, assim como fez Ariano em 1999. Representando a família, passamos vários materiais, obras, pensamentos, convicções e ideais do meu avô", diz João Suassuna em papo exclusivo para Splash.

Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano, deu apenas uma sugestão a Guel Arraes. "Como no primeiro filme foram utilizados personagens de outras peças de Ariano, eu pedi que ele fizesse o mesmo nesta nova adaptação. Como diretor, ele sempre foi muito feliz nesta parte", conta à reportagem.

Guel Arraes ouviu o pedido do filho do autor. Clarabela, interpretada por Fabiula Nascimento em "O Auto da Compadecida 2", é uma personagem da peça "A Farsa da Boa Preguiça", outro destaque da obra de Ariano Suassuna.

Só sei que foi assim!

Ariano Suassuna e Guel Arraes, diretor do filme, já pensavam em uma sequência para "O Auto da Compadecida". "Guel revelou, inclusive, que chegou às mãos deles um texto de papai. Mas, depois, eles pensaram juntos e desistiram de fazer a sequência. Ariano nunca explicou o motivo", lembra Manuel Dantas.

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A obra se chamaria "As Peripécias de João Grilo e Chicó", segundo João Suassuna. A ideia de lançar uma sequência foi retomada após a Globoplay lançar a série "O Auto da Compadecida", remasterizada, em dezembro de 2019. Ação celebrava os 20 anos da exibição da minissérie original — "Auto" foi ao ar primeiro na Globo, e só em 2000 foi adaptada para o cinema.

Mais da metade do Brasil assistiu. Foram cerca de 158 milhões de pessoas, segundo dados que nos foram passados. As pessoas estavam se emocionando após 20 anos, e as novas gerações também se encantaram com a história. A obra não envelhece quando é boa. Ela se torna atemporal e universal.
João Suassuna

Em 2020, Guel Arraes procurou Manuel Dantas para entender o que a família pensava sobre uma sequência. "Achei estranho de início. Ainda estávamos na pandemia, em tempos muito difíceis. A gente foi evoluindo com a opinião de Selton e Matheus. Eu levei a proposta para a família e fomos nos ajustando", lembra o filho de Ariano. Manuel garante ter sido a única vez que a família recebeu uma proposta para a criação de uma sequência.

Além dos membros da família Suassuna, um escritor participou da decisão. Trata-se de Carlos Newton, especialista na obra e amigo de Ariano. Antes de morrer, o autor de "O Auto da Compadecida" chamou Carlos e Manuel Dantas para discutir quais seriam os legados da obra dele.

O Brasil merecia um momento de alegria. Era a hora de refletir novamente sobre o país, mas através do riso.
Manuel Dantas Suassuna, sobre motivo de aprovarem sequência de 'Auto'

Com a nova produção confirmada, a família argumentou ser importante manter "pilares" defendidos por Ariano Suassuna. "Uma obra cômica, mas com profundo olhar social. Ariano nunca foi riso pelo riso, sempre propôs uma reflexão e trouxe emoção. Amizade, amor, fé, opressão social, relações entre patrões e empregados eram elementos importantes.

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Amiga do autor, Fernanda Montenegro também foi consultada pela produção. "Entendemos que, assim como Ariano colocou um Jesus Cristo negro diante de um Brasil racista e preconceituoso em 1955, quando escreveu a peça, era importante trazer uma representação de Nossa Senhora negra, com a participação de Taís Araújo."

Eu não sei o que ele, Ariano Suassuna, acharia desta sequência, sinceramente. O que foi feito traz as nossas ideias, nossos pensamentos. A gente cumpriu o que ele pediu e demos um passo adiante, com a ideia de agradá-lo.
Manuel Dantas Suassuna

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