'Auto 2' é só o começo: festa pelos 100 anos de Suassuna terá 'Arianoverso'

O "Auto da Compadecida 2", que estreou nos cinemas no último dia 25, é a primeira de uma série de obras e ações que marcam o centenário do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, celebrado em junho de 2027.

Além do filme — uma espécie de continuidade do sucesso de bilheteria —, estão previstos para os próximos dois anos vários lançamentos que comemoram e discutem a obra de Suassuna. Além do lançamento de reedições de seus livros, com direito a uma coletânea inédita de poesias, há previsão também de um documentário para streaming e a circulação de uma exposição imersiva inaugurada no início deste ano na Paraíba.

Parte desse "Arianoverso" tem sido produzido pelo neto mais velho do escritor, o historiador e advogado João Suassuna, 39. "Meu Natal se chama 'O Auto da Compadecida' e Ariano Suassuna", brincava João, ao telefone, na véspera do lançamento do filme.

Com uma verve empresarial, João integra a equipe que produziu o novo longa-metragem dirigido por Guel Arraes. Desde 2014, após a morte de Suassuna, ele acompanha atividades relacionadas ao avô - de homenagens a uma aula-espetáculo que ele mesmo criou para contar histórias da vida do escritor.

"Eu 'vivo' Ariano Suassuna há 39 anos, desde que nasci. Hoje tenho oportunidade de ir na mesma praça, mesma quadra poliesportiva onde Ariano já deu aula-espetáculo", conta.

Isso é celebrar a memória dele e levar adiante a chama imortal que não restringe à família Suassuna, mas ao povo brasileiro.
João Suassuna

João Suassuna, neto de Ariano
João Suassuna, neto de Ariano Imagem: Divulgação

'Arianoverso'

Numa de suas inúmeras frases bem-humoradas, Ariano Suassuna chegou a dizer que o computador era seu inimigo. Mas foi justamente por meio da tecnologia que o neto dele encontrou uma forma de mantê-lo popular entre gerações mais novas.

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Em abril, João Suassuna inaugurou a exposição imersiva "O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso", idealizada por ele. O projeto utiliza projeções, cenografia e objetos pessoais para fazer os visitantes entrarem no universo criativo e emocional de Ariano.

A exposição ficou em cartaz em João Pessoa (PB) de abril a setembro, e em 29 de novembro estreou no Recife. São 1.300 metros quadrados, incluindo a reprodução em tamanho real de espaços da casa do escritor — um casarão na zona norte recifense, chamada de Ilumiara A Coroada, com várias obras de arte.

Segundo o produtor, a exposição deve passar por mais 12 cidades brasileiras em 2025. "Não é uma experiência acadêmica em um grande equipamento cultural que as pessoas não vão. É uma experiência em um shopping, de forma plural, para não restringir", explica.

João também administra no Instagram o perfil Ariano Mestre, onde publica conteúdos sobre o avô. "Nesse caso, a tecnologia é nossa aliada para se comunicar."

O diretor e roteirista João Falcão
O diretor e roteirista João Falcão Imagem: TV Cultura/Divulgação

'Reencontro'

O "Auto da Compadecida 2" é visto por João Suassuna como um "reencontro de João Grilo e Chicó", na ficção, e do "Brasil com os personagens" que marcaram a obra do avô. Ele e o tio, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, acompanharam o processo criativo do novo roteiro.

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O projeto do filme foi discutido entre a família e os produtores desde 2019. O roteiro foi desenvolvido durante a pandemia de covid-19.

Para João Falcão, que assina o roteiro com Adriana Falcão e Guel Arraes, a colaboração da família do escritor foi fundamental "para que o filme encontrasse seu caminho". Sem a orientação direta de Ariano Suassuna, Falcão explica que o desafio da equipe foi preservar a essência do original estabelecendo critérios claros, criando parâmetros como o tom farsesco e a coerência dos protagonistas.

O roteiro não utilizou personagens coadjuvantes, já que todos morreram no final do primeiro filme, e foi estruturado como uma trama única, diferentemente do formato em episódios do longa anterior. "Só batemos o martelo quando começamos a nos divertir com os personagens e suas invenções. Como se João Grilo e Chicó tivessem chegado junto e demonstrado que desejavam o reencontro", afirma o roteirista.

A escrita, diz ele, foi cuidadosa ao trabalhar com uma obra tão emblemática. "Tínhamos muita cerimônia na hora de criar em cima do original de Ariano, mas percebemos que o excesso de zelo nos travava. Decidimos, então, contar nossa própria história dentro de um universo já familiar", disse.

"Nunca achamos que seria fácil e, até a decisão de seguir, tivemos diversos encontros de criação", lembra João Falcão, que assina o roteiro com Adriana Falcão e Guel Arraes. "Foram três anos elaborando o roteiro, que passou por inúmeras versões até chegar à forma final."

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