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'Auto da Compadecida': Fracasso na estreia, obra virou fenômeno nacional

'O Auto da Compadecida 2' Imagem: Laura Campanella/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

28/12/2024 05h30

O "Auto da Compadecida", do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, é uma das maiores criações da arte brasileira. A peça, lançada em 1955, é considerada um marco do teatro moderno nacional. No cinema, sua adaptação de 2000 tornou-se uma das maiores bilheterias da história, faturando cerca de R$ 11 milhões, com mais de 2 milhões de espectadores.

Ariano Suassuna tinha 28 anos, em 1955, quando escreveu "Auto da Compadecida". Ele se inspirou em três livretos de poesia popular do Nordeste.

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A peça estreou como um grande fracasso em Pernambuco. A primeira montagem teatral do Auto foi apresentada no Recife em setembro de 1956. A terceira das três apresentações chegou a ser cancelada por falta de público.

A reviravolta veio poucos meses depois, em apresentações no Festival de Amadores Nacionais, no Teatro Dulcina, Rio de Janeiro. No elenco estava a atriz Ilva Niño, que interpretou a mulher do padeiro. O grupo ganhou três medalhas de ouro: Melhor Atriz, pela atuação de Ilva, Melhor Espetáculo, Melhor Diretor (Clênio Wanderley).

Suassuna foi ao Rio acompanhar o elenco. Estava em lua de mel com a esposa Zélia, com quem se casou um dia antes da viagem. Numa conversa com a jornalista Adriana Victor, sua amiga, ele chegou a contar que um dos momentos mais marcantes de sua vida, que gostaria de reviver, foi a reação da plateia do Rio ao final do Auto: as pessoas subiram nas poltronas para aplaudir o elenco.

Uma das mais famosas críticas de teatro do país, Barbara Heliodora, adorou o espetáculo. Ela voltou ao teatro duas vezes para assistir à peça, no Rio, impressionada com a qualidade. Ela classificou o texto como um dos marcos do teatro brasileiro.

Apesar da fama do filme e série dirigidos por Guel Arraes, o Auto teve outras duas adaptações anteriores para o cinema. A primeira delas, "A Compadecida", foi lançada em 1969, com Regina Duarte (Nossa Senhora) e Antonio Fagundes (Chicó) no elenco, e contava com figurinos do artista Francisco Brennand e cenografia da arquiteta Lina Bo Bardi, criadora do Masp.

A segunda versão cinematográfica foi em 1987. O filme foi gravado pelos trapalhões Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Graças ao sucesso das montagens do "Auto da Compadecida", Suassuna comprou a casa da família, no Recife, na década de 1960. O casarão, construído em 1870, na zona norte da cidade, foi batizado por ele de Ilumiara A Coroada e é repleto de obras de arte. No jardim da casa, há um imenso painel esculpido em pedra com três imagens de Nossa Senhora e o letreiro "A Compadecida";

No texto original da peça, Cristo, ao reclamar de racismo com João Grilo, dizia: "Você pensa que eu sou americano para ter preconceito de raça?". Anos depois, Suassuna corrigiu a fala. "Isso mostra a minha visão totalmente falsa do Brasil, acreditando que estávamos muito à frente dos Estados Unidos. Não é verdade, o preconceito de raça no Brasil é profundamente enraizado, só que disfarçado", admitiu.

Em 2014, o diretor Guel Arraes propôs a Ariano Suassuna uma continuidade do "Auto". O escritor ficou de pensar se aceitaria, mas não chegou a levar o projeto adiante -acabou morrendo naquele ano. A ideia foi retomada em 2019 por Guel e resultou no novo filme.

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