Qual o papel do Brasil nas últimas polêmicas de 'Emilia Pérez'? Entenda
Desde que foi lançado, "Emilia Pérez" coleciona polêmicas. Contudo, acontecimentos da última semana podem ser decisivos no resultado do filme no Oscar — e o Brasil desempenhou um papel importante nessa história.
O que aconteceu
Na terça-feira (28), uma declaração de Karla Sofía Gascón no Brasil ganhou projeção internacional. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a protagonista do filme foi questionada sobre a rivalidade entre "Emilia Pérez" e "Ainda Estou Aqui", elogiou Fernanda Torres e afirmou: "O que eu não gosto é que há uma equipe nas redes sociais, que trabalha no entorno dessas pessoas, tentando diminuir o trabalho dos outros, como o meu, ou um filme".
Eu, em nenhum momento, falei mal de Fernanda Torres ou de seu filme, mas vejo muitas pessoas que trabalham no ambiente de Fernanda Torres que falam mal de mim e de 'Emilia Pérez'. Isso fala mais deles e de seu filme do que do meu. Karla Sofía Gascón
A atriz foi acusada de violar regra do Oscar — mas não é bem assim. O regulamento da premiação proíbe qualquer pessoa envolvida com um filme elegível ao Oscar de depreciar ou criar uma imagem negativa de um filme concorrente. No entanto, segundo a revista Variety, os comentários de Karla Sofía não foram diretamente sobre Fernanda Torres ou "Ainda Estou Aqui". Por isso, apesar de polêmica, a declaração não a desclassifica do Oscar. Até o momento, a Academia não se pronunciou sobre o caso.
Karla Sofía Gascón se pronunciou sobre o caso em comunicado à revista Variety. "Sou muito fã da Fernanda Torres e tem sido maravilhoso conhecê-la ao longo dos últimos meses. Nos meus comentários recentes, eu me referia à toxicidade e ao discurso violento de ódio nas redes sociais, que infelizmente continuo recebendo. Fernanda tem sido uma aliada maravilhosa, e ninguém diretamente associado a ela foi nada além de solidário e imensamente generoso", disse a atriz. Depois, nas redes sociais, ironizou a situação.
Na quinta (30), vieram à tona tweets preconceituosos da atriz. Nas postagens divulgadas pela jornalista canadense Sarah Hagi, Karla se diz contra a presença de muçulmanos na Europa e descreve a cultura islâmica como "um foco de infecção que a humanidade deve eliminar urgentemente". A partir daí, usuários do X começaram a pesquisar outros termos na conta da atriz e encontraram postagens polêmicas sobre George Floyd (que ela descreve como um "vigarista viciado em drogas"), a diversidade no Oscar de 2021 ("eu não sabia se estava assistindo a um festival afro-coreano, a uma manifestação do Black Lives Matter ou ao 8M") e até sua colega de elenco, Selena Gomez ("é uma rata rica que se finge de coitada").
A atriz pediu desculpas e apagou o perfil no X. "Como alguém em uma comunidade marginalizada, conheço muito bem esse sofrimento e lamento profundamente àqueles que causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão", disse em comunicado enviado à Variety.
Outras polêmicas
"Emilia Pérez" não foi bem recebido no México, país onde a história se passa. O filme foi criticado por ter uma única atriz mexicana: Adriana Paz, que não tem um papel de destaque na trama. A produção afirma que usou outros critérios de escolha do elenco: "Audiard olhou para todas igualmente. Ele não estava dizendo que queria uma atriz de renome. Ele só queria a melhor atriz para o papel. E acabaram sendo Selena e Zoe", disse a diretora de elenco Carla Hool em entrevista ao SAG-Foundation.
O diretor afirma que não estudou sobre o México. Questionado sobre o quanto estudou sobre a cultura do país, Jacques Audiard respondeu: "Não muito, eu já sabia o que precisava saber, pesquisei mais sobre os detalhes. E fui muito ao México para procurar atores, locações, cenários".
Outro tópico polêmico foi a representatividade no filme. Segundo a Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação (GLAAD), "Emilia Pérez" não tem uma boa representação transgênero, ao propagar estereótipos da comunidade ao reciclar os estereótipos e clichês, apesar de ter como protagonista uma atriz trans: Karla Sofía Gascón. "É um retrocesso para a representação trans", disseram.
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