Após 30 anos de carreira, Milhem Cortaz diz que 'caminho continua árduo'

Milhem Cortaz, 52, vive o personagem mais popular de sua carreira após mais de 30 anos de atuação. Apesar do sucesso que está tendo em "Volta por Cima" (Globo), ele revela que precisa ir atrás da maior parte dos trabalhos que faz, já que recebe poucos convites.

Correndo atrás dos sonhos

Cortaz pode ser visto hoje na pele de Osmar, personagem controverso da novela das sete, mas que, ainda assim, caiu na graça do público. Segundo o ator, esse é seu papel mais popular e revela que sua inspiração são "comediantes das antigas", como Mazzaropi, Ronald Golias, Didi, Dedé, Mussum, Zacarias...

Toda essa galera povoa minha cabeça e me dá a liberdade de ultrapassar alguns limites na novela: ser caricato, ser divertido, não ter limites, fazer coisas que não podemos fazer como ator. É um personagem que me dá muitas possibilidades de ir por caminhos que nunca consegui fora do teatro.

Apesar da longa carreira como ator, Cortaz chegou à trama após pedir um papel para a autora Claudia Souto. "Sempre vou atrás [dos papéis]. Posso ser sincero? 99% das vezes, eu vou atrás. Raramente sou convidado. Depois dos meus 30 anos, esse caminho continua árduo. Acho que o universo não deixa ser tão fácil para que eu continue sempre acreditando e me movendo com verdade, sem me acomodar. Mas tenho que confessar que é cansativo."

Apesar das dificuldades, o ator avalia que está amadurecendo profissionalmente ao fazer humor. Talvez por conta disso, ele diz que "uma novela nunca foi tão prazerosa como agora". "Tem sido uma 'volta por cima' no modo como me vejo em novela. Me sinto mais à vontade. Quero fazer mais humor", afirma ele.

Na história, Osmar ora pensa na irmã Doralice (Tereza Seiblitz) e na família, ora só pensa em dinheiro e em sua relação com Violeta (Isabel Teixeira). "É um personagem para confundir o público e divertir. Tudo vem no papel, a Claudia [Souto, autora] escreve todas as nuances. Só tenho que ficar atento para não cair nas ciladas de ator. Às vezes a gente começa a dominar um personagem e parar de prestar atenção."

E o meu figurino tem muito de Pedro Cardoso. Quando me visto, me sinto muito o Agostinho Carrara [de 'A Grande Família']. É legal, porque acabei de assisti-lo no teatro fazendo 'O Recém-Nascido' e, para mim, foi um banho de inteligência ver o Pedro Cardoso em cena, o melhor comediante do Brasil.
Milhem Cortaz

Da novela à padaria

O ator tem trabalhos marcantes no audiovisual, mas só agora sente que atingiu o grande público. "Infelizmente, o público não vai ao cinema. Mesmo a série 'Os Outros' estando na TV aberta, ainda é elitizado. Abriu muito para as classes A, B e C. Mas agora cheguei no topo. A novela me coloca no C, D e E, que é o público que me interessa, seja por doar pão, pelos trabalhos sociais ou por me assistir no teatro. Quero levar as pessoas para refletir no teatro".

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Meu grande sonho é me tornar uma pessoa popular. Quero poder trazer possibilidades para a vida de todo mundo. Depois de 30 anos de carreira como ator e no comércio, o meu objetivo é fazer bem às pessoas. Essa fama tem que se transformar em ações.
Milhem Cortaz

O ator tem uma padaria artesanal em Perdizes, em São Paulo, onde doa pães a quem não pode pagar. "Quando comecei, doava tudo. Fazia, mas os pães não eram tão bons, não tinha para quem vender, então doava na rua. Minha padaria continua doando, recebo 70 kg de farinha a mais para continuar doando. Quem chega na minha padaria sem dinheiro, leva pão. E ali do lado tem muitos pontos de motoboy, e eles já sabem. Aos finais de semana, levam um pão legal para comer com a esposa. Disso vem o projeto 'Pão bom para todo mundo'. O mesmo pão que eu quero vender, eu vou doar".

Cortaz sonha poder fazer ações maiores e diz: "A padaria é o início para transformar tudo isso em algo popular". "Quero transferir a produção para um balcão grande, empregar as pessoas que estão excluídas, o pessoal do semiaberto mais velho que está saindo da cadeia, para que eles ganhem dinheiro e, quem sabe, voltem para o bairro deles como padeiros. É muito utópico, mas, aos 52 anos, continuo sonhando".

Sou privilegiado, sou de uma classe média e ganhei a vida falando dos excluídos. E sou muito respeitado por eles. Só falo dos problemáticos, das pessoas que não são enxergadas com tanto carinho pelo mundo.
Milhem Cortaz

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