'Nickel Boys' merece mais atenção do grande público


Thales de Menezes
Colaboração para Splash, em São Paulo
06/03/2025 14h28
"Nickel Boys" colecionou indicações na temporada de prêmios encerrada no último domingo com o Oscar. Teve duas indicações na cerimônia da Academia, integrando a lista dos dez candidatos a melhor filme.
Não ter recebido prêmios é consequência de um ano de vitórias pulverizadas em vários concorrentes. Porque "Nickel Boys" é um filme comovente e perturbador, como é o livro de Colson Whitehead.
O autor venceu dois Pulitzer, o segundo por "Nickel Boys", em 2020. O romance, passado em 1962, conta a história do adolescente negro Elwood, que pega carona com um homem dirigindo um carro roubado e é preso como cúmplice. Ele vai para um reformatório na Flórida, famoso pelo tratamento violento aos internos.
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Ele faz amizade com Turner, e os dois sofrem horrores num ambiente em que os jovens brancos têm regalias e aterrorizam a vida dos detentos negros. O filme constrói um microcosmo dos EUA na época, no calor da luta por direitos civis. Um filme que merecia muito mais do que indicações.
"Nickel Boys", 2024
Direção DaMell Ross
Elenco Ethan Herisse, Brandon Wilson, Aunjanue Ellis-Taylor
Classificação 14 anos
Onde Prime Video (Trailer)
Já disponível na sua tela...
Nicole Kidman, corajosa, é desprezada pelo Oscar
Se muitos reclamam de etarismo no Oscar, porque nem Demi Moore, nem Fernanda Torres ganharam a estatueta, Nicole Kidman pode entrar também na turma de veteranas preteridas, já que sua interpretação intensa em "Babygirl" nem foi indicada.
Sua atuação é, no mínimo, corajosa, no papel da executiva que vê sua vida pessoal e profissional virar de cabeça para baixo num romance com um jovem que trabalha em seu escritório.
"Babygirl", 2024
Direção Halina Reijn
Elenco Nicole Kidman, Harry Dickinson, Antonio Banderas
Classificação 12 anos
Onde ClaroTV+, AppleTV e Prime Video
Uma aranha gigante de estimação não é boa ideia
Aranhas gigantes assustam plateias nos cinemas desde os anos 1930. Então é surpreendente que "Sting", com diretor e atores desconhecidos, consiga criar uma trama que traz algum frescor ao gênero do terror com aberrações da natureza.
E o horror vem para dentro de casa pela garota Charlotte, de 12 anos, que captura uma aranha que em pouco tempo já está do tamanho de um cachorro e não para de crescer.
"Sting: Aranha Assassina", 2024
Direção Kiah Roache-Turner
Elenco Noni Hazlehurst, Jermaine Fowler, Alyla Browne
Classificação 16 anos
Onde ClaroTV+, Prime Video, AppleTV
O QUE ESTÁ BOMBANDO
'O Auto da Compadecida 2' não justifica sua incrível bilheteria
"O Auto da Compadecida 2" ultrapassou 4 milhões de espectadores nos cinemas brasileiros. Com isso, Selton Mello se tornou o ator mais visto nas telas do país nos últimos meses, com outros 4 milhões de ingressos vendidos de "Ainda Estou Aqui".
Pegando carona no furor do primeiro Oscar brasileiro, a continuação do filme de 2002 baseado em Ariano Suassuna foi para o topo dos mais vistos nas plataformas. Mas o filme escancara seus problemas e se mostra desnecessário.
Os méritos do primeiro longa estão na fidelidade a Suassuna e no talento de Matheus Nachtergaele e Selton Mello para encontrar o timing de comédia perfeito. Nessa continuação, o texto é fraco e os atores estão tanto descontrolados, principalmente Nachtergaele, fazendo um bufão acima do tom.
E nem parece uma grande produção. Traz alguma coisa da dramaturgia de TV, algo raso, sem momentos que coloquem o filme acima da média do que se vê a toda hora. Mas de que vale a opinião de um crítico contra 4 milhões de espectadores?
"O Auto da Compadecida 2", 2024
Direção Guel Arraes, Flávia Lacerda
Elenco Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Taís Araujo
Classificação 12 anos
Onde nos cinemas (Trailer)
FIQUE DE OLHO
Quando Taylor Sheridan criou a série "1883", em 2021, ele arrebanhou fãs para um faroeste intenso, para adultos, com mais carga dramática do que tiroteios e longas cavalgadas. Ele conseguiu repetir a dose com "1923", que avança 40 anos no Velho Oeste e chega agora em sua segunda temporada, com episódios semanais.
Uma série encantadora, com a proeza de reunir Harrison Ford e Helen Mirren como um dos casais mais magnéticos do streaming.
"1923", 2022-2025
Criação Taylor Sheridan
Elenco Harrison Ford, Helen Mirren, Brandon Sklenar
Classificação 14 anos
Onde Paramount+
PARA MARATONAR
"O Leopardo", clássico que Luchino Visconti dirigiu em 1962 a partir do fantástico livro de Giuseppe Tomasi de Lampedusa, é material para minissérie de seis episódios, produção italiana da Netflix.
Conta como um príncipe na Sicília de 1860, aristocrata íntegro, tenta proteger sua família das lutas tensas numa Itália envolta numa ebulição social sem precedentes. Uma história de intrigas, romances secretos e grandes confrontos pessoais.
"O Leopardo", 2025
Criação Richard Warlow
Elenco Francesco Colella, Astrid Meloni, Mario Patanè
Classificação 14 anos
Onde Netflix
CLÁSSICO É SEMPRE CLÁSSICO...
Por que assistir a 'O Sol É para Todos'?
Lançado em 1962, "O Sol É para Todos" foi o filme certo na hora certa. Quando a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos crescia, a adaptação para as telas do único livro escrito por Harper Lee (1926-2016) trouxe no protagonismo de uma menina a visão brutal da segregação racial.
No Alabama de 1962, o advogado Atticus Finch, interpretação impecável de Gregory Peck, defende um negro acusado de ter estuprado uma jovem branca. Os efeitos morais de seu trabalho são refletidos por sua filha, Jean Louise, apelidada de Scout. A garota de nove anos é praticamente uma âncora que o mantém preso a sua retidão de caráter diante de todas as pressões externas da cidadezinha que quer ver o acusado enforcado.
O filme, assim como o livro, consegue ser ao mesmo tempo delicado e contundente. Uma obra que não envelheceu nada desde seu lançamento. A então atriz mirim Mary Badham não seguiu carreira. Fez mais dois filmes em 1966, e três nos anos 2000, como coadjuvante. Mas sua Scout é imortal.
'O Sol É para Todos', 1962
Direção Robert Mulligan
Elenco Gregory Peck, Mary Badham, Brock Peters
Classificação 12 anos
Onde Globoplay, AppleTV, Amazon Video (Trailer)
Oscar 2025... Só em Splash
Sadovski: Oscar celebra o cinema independente em noite, para Brasil, histórica
"Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, foi escolhido melhor filme internacional na cerimônia do Oscar realizada em pleno domingo de Carnaval.
Foi um momento histórico para o cinema brasileiro, que garfou sua primeira estatueta dourada, e um dos pontos altos em uma festa protocolar, de poucas surpresas e que ainda vale estes dois centavos de prosa.
Oscar 2025 prova que vitória de estrangeiros ainda é difícil e custosa
No Plano Geral, Flavia Guerra defende que Fernanda Torres entregou uma atuação "mais complexa" que a de Mikey Madison, vencedora do prêmio de melhor atriz no Oscar por "Anora".
"Discordo da escolha. Se o Oscar não fosse para a Fernanda Torres, acho que é Demi Moore quem merecia."
Programa Plano Geral é exibido sempre às quartas, às 11h, na home do UOL, com Flavia Guerra e Vitor Búrigo.