Indústria do cinema exige libertação de Hamdan Ballal após prisão em Israel


De Splash, no Rio
24/03/2025 22h49
A Associação Internacional de Documentários emitiu uma declaração após o cineasta palestino Hamdan Ballal, diretor de "No Other Land", ser preso por militares de Israel.
Associação estadunidense dedicada exclusivamente aos filmes documentários exige que o vencedor do Oscar 2025 seja liberado. Declaração foi enviada à imprensa internacional.
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Exigimos a libertação imediata de Ballal e que sua família e comunidade sejam informadas sobre sua condição, localização e a justificativa para sua detenção.
O que aconteceu
Hamdan Ballal foi agredido e preso na Cisjordânia, que é um território palestino, mas dominado por Israel. O cineasta teria sido atacado por israelenses e, em seguida, preso por militares das Forças de Defesa de Israel que atuam na Cisjordânia.
Ballal chegou a ser socorrido para tratar ferimentos provocados pelas agressões dos civis. Entretanto, quando estava na ambulância, ele teria sido retirado por militares de Israel, que interromperam o tratamento, segundo explicou à imprensa local Yuval Abraham, um dos diretores de "Sem Chão".
Forças de Defesa de Israel dizem "investigar o caso". No entanto, o Exército controlado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não forneceu mais detalhes sobre as agressões e o porquê da prisão do diretor palestino, nem mesmo para onde o cineasta foi levado. Ele é considerado desaparecido.
Grupo de cerca de 20 pessoas teria atacado Ballal e outros ativistas judeus, conforme a agência Associated Press. As vítimas teriam sido agredidas com pedras e bastões, e tiveram seus carros depredados.
Israel tenta manter o controle da Cisjordânia em meio à guerra contra o Hamas, iniciada em 2023, e que já provocou a morte de mais de 50 mil palestinos. Israel e o grupo extremista chegaram a selar um acordo de trégua no conflito no começo deste ano, mas a paz chegou ao fim e o estado judeu voltou a bombardear Gaza.
Israel mantém cerca de 140 assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, em um total de 450 mil israelenses em território palestino. Esse fato é criticado pela comunidade internacional.
Em "Sem Chão", é retratada a realidade dos moradores de Masafer Yatta, que tiveram suas vidas modificadas pela pressão de Israel. Na década de 1980, o exército israelense tomou a área para fazer uma zona de treinamento militar e expulsou os moradores do local, a maioria árabes beduínos.
Discurso no Oscar
Hamdan Ballal, o cineasta palestino que foi espancado e levado da vila onde mora por um grupo de soldados israelense, fez um discurso a favor da união entre Israel e Palestina ao vencer o Oscar 2025 de melhor documentário por "Sem Chão". "Nós fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntas nossas vozes são mais fortes. Enxergamos uns aos outros".
A destruição atroz de Gaza e seu povo, que deve acabar, os reféns israelenses brutalmente capturados no crime de 7 de outubro, que devem ser libertos. Quando olho para Basel [Adra, também codiretor do filme], vejo meu irmão, mas não somos iguais. Vivemos em um regime onde sou livre sob a lei civil, e Basel está sob leis militares que destroem sua vida e ele não pode controlar.
Hamdan Ballal
Ele continuou e disse haver uma solução pacífica. "Há um caminho diferente, uma solução política, sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos. E devo dizer, como estou aqui, que a política externa neste país está ajudando a bloquear esse caminho. Vocês não conseguem ver que estamos interligados, que meu povo pode estar realmente seguro se o povo de Basileia estiver realmente livre e seguro? Há outro caminho. Não é tarde demais para a vida, para os vivos."