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Loucura e sorte: série mostra de forma explícita histórias de transplantes

Operação Transplante mostra cirurgias sem censura - Divulgação/ Max Operação Transplante mostra cirurgias sem censura - Divulgação/ Max
Operação Transplante mostra cirurgias sem censura Imagem: Divulgação/ Max

De Splash, em São Paulo

26/03/2025 05h30

Transplante de órgãos é um assunto ainda tabu para muitas pessoas, principalmente porque, muitas das vezes, ele envolve morte. Desmistificar o assunto é o objetivo da série documental Operação Transplante, uma coprodução da Mixer Filmes e WBD, com exibição semanal pela Max. A estreia acontece amanhã, dia 27 de março, e também no Discovery Home&Health, às 19h.

A cada episódio, duas histórias de transplante são mostradas. A produção acompanha desde a preparação daqueles que esperam um órgão, até o processo de exames e a complexa logística. São relatados também a rotina dos médicos responsáveis, assim como o convencimento das famílias em luto para aceitarem a doação.

Em entrevista a Splash, o diretor-geral da série, Rodrigo Astiz, falou sobre a dificuldade envolvida na produção, e a classificou como "a mais complexa" em que já trabalhou até hoje. "A quantidade de emoções envolvidas na produção é muito grande. Ela é complexa porque você nunca sabe quando vai acontecer, e porque a logística do transplante é uma loucura. É uma corrida contra o relógio o tempo todo, a partir do momento que o órgão é destinado a alguém."

Diferente de gravações com agendas fixas, Operação Transplante sofreu de "tempos dilatados", pois não havia datas ou horários certos para as filmagens acontecerem. Nem mesmo era possível prever quanto tempo de cirurgia seria necessários, pois dependendo do órgão, o procedimento pode chegar a 15 horas de duração.

Tudo isso torna a produção da série excepcionalmente difícil.
Rodrigo Astiz, a Splash

A escolha dos personagens foi feita a partir da posição na fila do transplante. No Brasil, a fila de órgãos é única e transparente, gerida pelo Ministério da Saúde, com critérios de priorização baseados na gravidade da doença, tipo sanguíneo e compatibilidade genética, mas também em ordem cronológica de inscrição. Ela abrange tanto pacientes do SUS, quanto de planos de saúde.

Astiz explica ter priorizado as pessoas que estavam mais próximas do início da fila, ou seja, com maior chance de que eles fossem transplantados no período de três meses —espaço de tempo escolhido pela produção.

Transporte de órgãos para transplante pode ser feito por helicópteros Imagem: Divulgação/ Max

Após a escolha dos personagens, um novo elemento entrava em jogo: a sorte. Para que tudo ocorresse de maneira certeira para as gravações, equipes eram deixadas a postos: uma para registrar a captação do órgão e outra já se encaminhava para encontrar o paciente e acompanhá-lo desde o centro cirúrgico, até a recuperação.

Ao longo de oito episódios de 45 minutos cada, a série mergulha na complexidade do sistema de transplantes brasileiro. Com acesso exclusivo a cinco dos maiores hospitais transplantadores de São Paulo, a produção revela os bastidores de 18 histórias impactantes, que incluem transplantes de coração, fígado, rim, pulmão, pâncreas-rim e medula óssea.

"Ninguém passou impune a essa série"

Durante conversa com Splash, Rodrigo Astiz e a responsável pela área de produção e desenvolvimento de séries originais de não-ficção para Warner Bros Discovery, Adriana Cechetti, se emocionaram ao relembrar detalhes da produção.

Com a voz embargada, o diretor-geral conta que toda a equipe de produção ficou envolvida com os casos abordados. "É um trabalho pesado, de muitas horas, mas à medida que as pessoas vão terminando o projeto, elas não param de agradecer a oportunidade."

A gente fica torcendo. Sofremos junto, mas também torcemos junto.
Rodrigo Astiz

Cechetti contou a Splash que foram criados protocolos para suporte emocional da equipe, com psicóloga à disposição. "Lidar com o tema e com os pacientes emocionalmente é também um desafio a todos os envolvidos."

Caráter educativo

Operação Transplante é diferente não somente pela sua temática, mas também pela maneira como mostra as cirurgias: sem filtros ou cenas borradas, os procedimentos são explícitos, com os órgãos sendo mostrados à câmera sem censura. Adriana Cechetti conta ter sido uma escolha editorial, por entenderem a importância de explicar, com detalhes, o funcionamento não apenas da medicina utilizada, mas do próprio órgão.

Você entende por que aquela pessoa precisava de um transplante quando tiram o órgão dela. Ou quando você vê o coração batendo de novo, é incrível.
Adriana Cechetti

Astiz considera o processo "quase milagroso", e ecoa a opinião de Cechetti. "Você tirar um órgão doente, colocar outro, e funcionar? É ciência, mas é praticamente um milagre. Acho importante o espectador entender isso, mas também acho que faz parte do envolvimento criado. Você acompanha desde o começo, e está torcendo. Ver aquele órgão bater gera entendimento."

Para o diretor-geral, há também o caráter educativo. Primeiro, o de conscientizar as pessoas para cuidarem de seus corpos, por ser nítida a diferença entre um órgão doente e outro saudável. Em segundo lugar —e talvez o mais importante— a de falar da importância da doação de órgãos.

Cenas de cirurgia são mostradas em Operação Transplante Imagem: Divulgação/ Max

O Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Mesmo com este número, ainda é preciso criar o entendimento das famílias sobre a importância.

Segundo dados de novembro de 2024 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a recusa da família é a principal razão das doações de órgãos serem inviabilizadas, com cerca de 45% dos parentes recusando a doação após morte encefálica. O segundo motivo que impede a efetivação dos potenciais doadores é a contraindicação médica, que corresponde a 18% dos casos, segundo a ABTO.

Isso apareceu de forma muito espontânea nos depoimentos finais das famílias dos transplantados. No segundo episódio acontece um transplante de coração, e a esposa fala: 'Sei que uma família perdeu um ente querido, eu me emociono também, mas olha o benefício que esse coração trouxe.' É uma vida que pode salvar várias outras. Estimular isso, dar para o espectador a possibilidade de refletir sobre, é valiosíssimo.
Adriana Cechetti

Operação Transplante teve apoio da Central de Transplantes da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, de hospitais públicos e privados e de renomados médicos e suas equipes.