Muito diferentes? Compare as aberturas de 1988 e 2025 de 'Vale Tudo'

O remake de "Vale Tudo", que estreia nesta segunda-feira, ganhou uma abertura que lembra a vinheta da versão original, exibida em 1988. A música "Brasil", composição de Cazuza, George Israel e Nilo Romero, na voz de Gal Costa (1945-2022), foi mantida.

Apesar das semelhanças, a nova abertura ganhou uma repaginada, principalmente em decorrência das mudanças tecnológicas e estéticas que aconteceram nos últimos 37 anos.

Abertura de 1988

Em 1988, o stop motion predominou na vinheta criada pela equipe de Hans Donner. A tradicional técnica de animação foi usada para mostrar imagens que representam o Brasil. Alimentos típicos, monumentos históricos, festividades e outros símbolos culturais, além de momentos cotidianos convencionais do brasileiro compõem a sequência.

Na antiga versão também se destacam o ritmo acelerado e uma estética bem "anos 1980". O predomínio de cores vibrantes e as transições com cortes secos e movimentos mecânicos, típicos da tecnologia da época, chamam a atenção.

Fotos dos protagonistas compunham a abertura. Regina Duarte, Gloria Pires, Antonio Fagundes e Carlos Alberto Riccelli, os atores principais da história original, foram destacados na vinheta.

A primeira "Vale Tudo" carregava sequelas da ditadura militar. Exibida três anos após a reabertura democrática do país, a novela foi a última a ter que passar pelo crivo da Divisão de Censura de Diversões Públicas. Ainda assim, conseguiu exprimir na abertura o momento vivido à época, com a busca por avanços sociais.

Crítica sutil à desigualdade social. Além de reforçar a representação da abertura do período democrático, a vinheta de 1988 destacou imagens contrastantes do Brasil, como a seca e o cotidiano de garimpeiros e pescadores frente a proprietários de iate, por exemplo.

Abertura de 2025

Em 2025, a equipe da designer Júlia Rocha fez uso de efeitos digitais modernos. Com estética mais cinematográfica e imagens em alta resolução, mescla cenas de drone, time-lapse e elementos gráficos mais sutis e refinados.

Equipe do remake buscou trazer nesta abertura a ideia de esperança. A vinheta da reedição reaproxima símbolos como a bandeira e as cores verde e amarelo, que, nos últimos anos, caíram na polarização de certos grupos.

Essa esperança é fundamental para diferenciar da abertura original e para mostrarmos que o país de hoje precisa ainda mais desta esperança. Por que não usar a bandeira? Por que não usar o verde e amarelo? Acho que isso talvez seja uma relação de diálogo entre a abertura. Não é uma obra que olhe com pessimismo, mas sim que acreditam no país.
Christiano Calvet, gerente de criação da TV Globo

Foi feita uma atualização da crítica social para refletir temas contemporâneos. Redes sociais, vício em apostas, fake news, desigualdade digital, meritocracia, e corrupção atualizada ao contexto político-social recente estão entre os assuntos abordados

Desigualdade social é ponto em comum, mas na atual versão mensagem é mais direta. Na abertura do remake há diversos contrastes sociais apontados, exibindo o cotidiano dos trabalhadores frente ao estilo de vida da alta sociedade.

Não há imagens do elenco, diferente da primeira versão. Desta vez, a equipe de criação preferiu deixar a vinheta sem referências a personagens.

Homenagem a Gal Costa, que morreu em 2022. Intérprete da música composta por Cazuza, George Israel e Nilo Romero, a musa da Tropicália é referenciada com uma imagem que fecha a vinheta.