'Impunidade e corrupção': diretora expõe Bateau Mouche além da tragédia
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Já está disponível na Max o último episódio de "Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça", série documental inspirada na tragédia do naufrágio que chocou o Brasil no Réveillon de 1988 para 1989. A obra é dirigida e produzida pela dupla Guto Barra e Tatiana Issa, responsáveis por "Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez".
O Bateau Mouche é um caso muito emblemático, porque é muito mais do que a noite de 31 de dezembro daquele ano. Ele é uma história que se estende até hoje. É uma história de impunidade, de corrupção, de falhas e morosidade da Justiça. É uma história importante de ser contada.
Tatiana Issa, em entrevista a Splash
O passeio foi vendido como uma opção luxuosa para a Virada do Ano. Inspirado nas embarcações turísticas do rio Sena, na França, o Bateau Mouche 4 tinha como proposta oferecer um jantar refinado, com música, open bar e uma visão privilegiada do show de fogos da praia de Copacabana. O ingresso custava Cz$ 150 mil —cerca de R$ 2.737 pelos valores de hoje.

A lotação estava muito acima do permitido. Não se sabe exatamente o número de passageiros, mas estima-se que fosse perto de 150. Quando o barco foi construído, nos anos 1970, a lotação era de somente 20 pessoas. Com uma série de reformas (algumas delas irregulares, como a instalação de um piso de cimento e novas caixas d'água no convés superior), o número aumentou para 62, segundo a perícia —o que ainda é menos de metade do número de passageiros no dia do naufrágio.
O barco foi parado pela fiscalização, mas foi liberado após 20 minutos. Testemunhas dizem ter visto funcionários da empresa Itatiaia Turismo, organizadora do evento, subornando oficiais da Marinha. No entanto, as investigações não encontraram provas destas acusações.
Às 23h50, o barco começou a virar. Além do excesso de peso, a embarcação também enfrentava ondas de cerca de 1,50 m —para as quais o seu casco chato não era adequado. O naufrágio aconteceu entre a Ilha de Cotunduba e o Morro do Pão de Açúcar, e deixou 55 mortos.
Entre as vítimas, estava a atriz Yara Amaral. Aos 52 e no auge de sua carreira, Yara não sabia nadar e sempre teve medo do mar, mas decidiu participar do passeio a convite da amiga Dirce Grotkowsky.

Bernardo Amaral Goulart, filho de Yara, está na série documental e, segundo Tatiana Issa, o depoimento do homem foi bastante emocionante de ser filmado, levando os presentes na gravação às lágrimas.
A diretora esteve presente no velório de Yara Amaral, quando tinha apenas 15 anos. "Vi o Bernardo, e lembro da imagem de vê-lo naquele velório. Ele era tão menino, tinha a minha idade, adolescente, e teve a vida completamente mudada do dia para a noite. Lembro que aquilo me marcou muito."
Outro relato emocionante, conta Issa, é o de Renata Fiszman, que tinha 18 anos à época do acidente. "Você entende o que o trauma fez naquela menina, adolescente, naquela época, o quanto impactou a vida dela até hoje. O quanto ela não conseguia ser feliz, ela não conseguia amar, porque tinha um congelamento de trauma ali muito grande."

Guto Barra explicou que, por ser um assunto delicado, os entrevistados e até mesmo os atores que participaram das recriações das cenas de naufrágio eram tratados com atenção e psicólogos à disposição.
São muitas vítimas, e não é uma história só da tragédia lá atrás, da morte, é a história da indignação. Ainda tem gente que, até hoje, que está lidando com o processo, que está esperando.
Guto Barra
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