Enganada por Walter Salles e presa na ditadura: o filme de Marília Pêra
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"Viva Marília!" é um dos destaques do festival É Tudo Verdade, sendo o filme de abertura do evento no Rio de Janeiro, na noite de hoje. A produção examina como o cenário histórico, político e social do Brasil nas décadas de 1960, 1970 e 1980 moldou a vida e a carreira da atriz Marília Pêra, que pertencia a uma geração de mulheres fortes e influentes que impactaram o país. Ela morreu em 2015, quando teve câncer de pulmão.
O documentário é feito a partir de recortes de obras estreladas por Pêra e entrevistas concedidas pela atriz. Já o nome do filme é uma referência ao programa mensal de variedades da Globo, Viva Marília, protagonizado pela atriz e inspirado no longa "Viva Maria", do cineasta francês Louis Malle. Abaixo, Splash reúne alguns dos fatos curiosos revelados pelo documentário de uma das maiores artistas brasileiras.
Enganada por Walter Salles
"Viva Marília" resgata depoimento de Pêra contando que foi "enganada" por Walter Salles, na época da produção de "Central do Brasil" (1998). Segundo ela, o diretor de "Ainda Estou Aqui" — vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano — a convenceu a fazer parte de "Central do Brasil" afirmando se tratar de um longa sobre "duas mulheres".
Foi só depois que a atriz descobriu que, na verdade, o filme era sobre Dora (Fernanda Montenegro) e Josué (Vinícius de Oliveira). Sua personagem, Irene, era coadjuvante na história, sendo uma vizinha e amiga da protagonista.
Marília Pêra tinha fama de não aceitar papéis que não fossem de protagonista. Mas este fato não é mencionado no documentário.

Lição de profissionalismo
Pêra, filha de atores, começou sua carreira fazendo peças aos 4 anos, na companhia de teatro da atriz Henriette Morineau, conhecida como Madame Morineau. A artista foi uma das figuras importantes na formação de Marília Pêra, ao lado dos pais da artista: Manuel Pêra e Dinorah Marzullo.
No documentário, Marília Pêra conta que, durante uma apresentação de "Medeia", em 1947, a atriz, ainda criança, não conseguia chorar quando era necessário. Madame Morineau se irritou e ficou sem falar com ela por três dias. Ao reclamar com o pai, a pequena atriz escutou que era contratada por Morineau, e que essa era a sua primeira lição de profissionalismo.
Ex-Marido
Ao longo da obra, a atriz comentou diversas vezes sobre suas relações amorosas. Ela se diz uma pessoa ciumenta, mas bastante amável. Ela chega a aparecer falando com muito carinho do ex-marido, Nelson Motta, com quem foi casada por oito anos, de 1972 a 1980, e tiveram duas filhas, Esperança e Nina.
Nelson Motta é o roteirista de "Viva Marília". Já Esperança Motta é codiretora, ao lado de Zelito Viana.

Presa
Marília Pêra foi presa e agredida pela ditadura militar em 1968, por sua participação na peça "Roda Viva", escrita por Chico Buarque e dirigida por José Celso Martinez Corrêa. O teatro foi quebrado por envolvidos com o governo autoritário, e algumas pessoas do elenco ficaram bastante machucadas.
Mesmo assim, a peça voltou no dia seguinte às prisões. "Todo mundo estava com medo, mas entrou em cena", diz a atriz. Foram anos terríveis, do ponto de vista da liberdade, mas anos extremamente criativos, porque isso era bonito. Como não se podia fazer, como tudo era proibido, nós fazíamos apesar da proibição.
Cinema
Durante entrevista a Paulo Francis, Marília Pêra recordou ter sido abordada pela renomada crítica de cinema norte-americana Pauline Kael, que escrevia na revista The New Yorker. Ela a teria elogiado pelo trabalho como a prostituta Sueli em "Pixote, a Lei do Mais Fraco", de 1980, dirigido por Hector Babenco.
Conversei com ela na festa da entrega dos prêmios, depois fui a uma sessão de cinema em que ela estava e sentei ao lado dela. Ela me disse: 'Estou com medo de ter você ao meu lado, pelo que vi você fazendo no 'Pixote' em cena'."
Marília Pêra
Pêra venceu três prêmios internacionais pela atuação: New York Film Critics Circle Awards, National Society of Film Critics Awards e Boston Society of Film Critics Awards.

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