Manipulação da Globo ou dificuldade de fãs em aceitar quem pensa diferente?
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Desde que comecei a fazer esta coluna sobre o BBB 25, aqui em Splash, com um olhar psicanalítico sobre o programa, os comentários de alguns fãs vêm me chamando a atenção. É grande o número de pessoas dispostas a acreditar em teorias impossíveis para tentar confirmar seus desejos.
Vou tentar explicar sem citar nomes de participantes para não despertar sentimentos muito apaixonados. Muitos comentários, por exemplo, defendem a ideia de que a Globo estaria protegendo este ou aquele participante, que tem um favorito, que já escolheu o ganhador? Será, mesmo?
O BBB é um programa que gera cifras astronômicas para a emissora, que move um batalhão de funcionários, dentro e fora da TV. Tem anunciantes gigantes como Mercado Livre, McDonald 's, Claro, Stone, Nestlé, MRV? Será que dá para acreditar, mesmo, que, em nome de proteger um participante, às vezes até anônimo, a Globo arriscaria a credibilidade do programa que traz tanta receita para a empresa? Arriscaria perder anunciantes deste porte porque tem um fã fervoroso infiltrado na produção? Faz sentido isso?
Tem gente que vai além: acredita que, junto à Globo, os sites se uniram para 'passar pano' para este ou aquele competidor. Por que fariam isso? Imagine o trabalhão que daria criar uma reunião secreta de veículos de imprensa concorrentes, todos dispostos a arriscar suas reputações, inclusive os profissionais, só porque são fãs em comum de alguém que está dentro da casa do BBB? Isso parece viável?
Também tem gente que acredita que estas empresas estão compradas. Por quem? Que valor um participante, que frequentemente é bem pobre, teria de pagar para um veículo de comunicação arriscar seu negócio e anos de história? Como um ser humano, que entra no programa sonhando em comprar uma casinha para dar para a mãe, compraria um portal de notícias? Você pode dizer que já entraram alguns ricos, mas ricos a ponto de comprar os sites do Brasil? E por que gastariam todo esse dinheiro, infinitamente maior do que o prêmio? Pelo título de campeão? E se vários estão fazendo isso, todos os outros que não ganharem estariam gastando essa fortuna incalculável à toa? E, mesmo depois desse desperdício todo de dinheiro, nem jogam tudo no ventilador para denunciar o esquema?
Será que são essas grandes empresas que estão dispostas a qualquer coisa para proteger um participante ou são os fãs que estão dispostos a acreditar em qualquer teoria que vá de encontro com seus próprios desejos. A meu ver, a vontade de que seu favorito seja também o favorito do mundo é tão grande que cega alguns telespectadores.
É mais fácil concluir que é tudo uma marmelada do que aceitar que a maioria do público pense diferente de você. Num país tão grande, com tanta gente diferente, as unanimidades são impossíveis. Imagine, se não é todo mundo que gosta de cachorro caramelo, o ser mais fofo deste Brasil, que dirá de um participante de BBB. Se não é todo mundo que ama chocolate, dá para acreditar que todo mundo amaria a mesma pessoa, injustiçada por um complô?
Eu mesmo leio muitos comentários dizendo que defendo participantes, e a cada coluna o meu suposto protegido muda, pois eu falo de diferentes pessoas e uso o comportamento delas como exemplo. Será? Não é difícil não ter favoritos nesta que é uma das temporadas mais mornas da história do programa. Minha torcida, mesmo, é para que o BBB 25 acabe e eu volte a dormir mais cedo. Quero retomar a natação.
*Vladimir Maluf é psicanalista clínico formado pelo CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos), em São Paulo, jornalista e estrategista de conteúdo digital com passagens pelo UOL, Terra, Globo.com e iG e consultor sobre diversidade e produção de conteúdo digital. Ganhou o Prêmio UOL na categoria "Melhor Conteúdo" em 2020.
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