Bruno e Rodrigo Fagundes sobre romance em 'Volta por Cima': 'Dois mocinhos'
Amigos na vida real, Bruno Fagundes, 35, e Rodrigo Fagundes, 54, vivem um romance entre homens maduros em "Volta por Cima". Na novela das 19h, Gigi e Bernardo se encontraram na reta final da trama escrita por Claudia Souto.]
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Romance entre mocinhos
Bernardo e Gigi deram seu primeiro beijo na semana passada, ao som de Marina Lima. O momento era aguardado tanto pelos atores quanto pelos fãs. "Quando eles se conheceram, o público já começou a torcer. Para nós, como atores, foi um presente sentir essa aceitação quase que imediata", conta Bruno.
No papo, Rodrigo explica que houve um direcionamento da autora para que Gigi tratasse Bernardo de maneira diferente, sem objetificá-lo, como fazia com os demais homens. "Ele nunca tinha tido uma relação, um sentimento de amor ou algo mais profundo. Isso começou a mudar com o Bernardo".
Eles se encontraram numa festa, e o Gigi fica flertando com o Bernardo, que percebe e fala no ouvido dele: 'Sei uma coisa boa que você pode fazer: meditação'. Foi divertido, tinha humor e sedução. Depois, a Cláudia [Souto] me orientou: 'Vai mudando um pouco o olhar. Que não seja só tesão, que tenha afeto'. E a gente foi construindo isso. A gente conversou para chegar no romance de novela, sabe? Que a gente está acostumado a ver com o mocinho e com a mocinha, agora são dois mocinhos. Isso é tão bonito, é tão importante. Rodrigo Fagundes
Bruno, por sua vez, começou a pensar no que uniria os dois personagens. "Qual é o elemento que faz com que os dois se olhem de forma diferente? Fui buscar isso dentro do Bernardo. Ele é um cara inseguro. Por mais que seja psicólogo, isso não quer dizer nada. Ele vem de uma relação que o machucou. Então comecei a construir essa solidão que acho que é muito comum. Ainda mais quando falamos de afetos dissidentes, de dois homens maduros, gays".
Somos acometidos por uma solidão endêmica, por muitos fatores. Nosso tempo, as redes sociais... Estamos em comunidade, mas ao mesmo tempo, cada vez mais solitários. Quis trazer esse elemento para a relação. Logo no início, conseguimos plantar isso nas cenas, e o público pescou. Bruno Fagundes
Mais representatividade
Nas últimas décadas, Rodrigo aponta que houve avanços e retrocessos em relação à representação da comunidade LGBTQIA+. Para ele, novelas como "Volta por Cima", que tem três personagens gays sem estereótipos, ajudam a naturalizar a presença de homens gays e seus afetos dentro e fora das telinhas. "Antes, quando ia ter um personagem gay, isso já era uma 'questão'. Hoje, o cenário mudou, mas ainda tem muito caminho".
Em 'A Próxima Vítima' tinha dois adolescentes gays, filhos das personagens da Susana Vieira e da Zezé Motta. Era tratado de forma séria, com drama, mas lembro que o André Gonçalves, na época, apanhou na rua. Em 'América', cortaram o beijo do Bruno Gagliasso. Depois teve o beijo do Mateus Solano com o Thiago Fragoso, mas voltou a ter cortes. Essa batalha nunca vai acabar. A maior conquista é naturalizar esses afetos na TV aberta, porque no streaming e no cinema isso já avançou mais. Rodrigo Fagundes
O próprio Rodrigo enxerga a mudança ao longo da carreira. Entre 2005 e 2015, ele interpretou um personagem que era lido pelos telespectadores como um homem gay. "Sou um exemplo disso. Fiz o Patrick no 'Zorra Total' por nove anos. Era aquele papel da 'bicha engraçada', um alívio cômico, apesar de eu fazê-lo de forma mais histérica e virgem, o público interpretava como gay. Eram outros tempos, outro tipo de programa".
A partir de seus personagens, Bruno quer fazer as pessoas pensarem e se despirem de preconceitos. Recentemente, ele produziu e atuou em "A Herança", peça que narra dilemas e diferentes gerações de homens gays de forma ousada. Ele espera novos patrocínios para retomar o projeto.
Meu trabalho não serve só para entreter, apesar de eu achar que precisa ser gostoso e divertido para quem assiste. Mas ele também precisa cutucar, avançar discussões, trazer temas espinhosos. Se a gente for literal demais, vira panfletário. A graça é transformar o discurso de um jeito que ele te atravesse sem que você perceba. Bruno Fagundes
História de amor (entre amigos)
Primos? Irmãos? Nada disso! Apenas coincidência de sobrenome. Bruno e Rodrigo se conheceram pessoalmente em 2022 durante a novela "Cara e Coragem", também de Claudia Souto, após muitos anos de confusões sobre seus nomes. "Sempre perguntavam se eu era o Rodrigo: 'Ah, te vi no lugar tal'. E eu: 'Não, sou o Bruno'. E com ele também rolava: 'Você é filho do Antônio Fagundes?' No primeiro dia de 'Cara e Coragem', a gente brincou: 'Ah, então você é meu irmão perdido'. Mal sabíamos que viraríamos irmãos de alma".
Rodrigo lembra que até jornalistas se confundiam. "A história melhora: meu pai se chamava Victorino Antônio Fagundes. Sempre que eu dava entrevista, a primeira pergunta era: 'Como é ser filho do Antônio Fagundes?'. E eu dizia: 'Não sou, só sou fã'. E até hoje, de vez em quando, alguém troca nosso nome. Já disseram até que o Bruno é casado com o Wendell [Bendelack, escritor, marido de Rodrigo]. A gente riu muito disso. Mas olha, eu amo esse menino como um irmão mais novo".
Enquanto grava a novela, Bruno vive uma temporada na casa de Rodrigo e Wendell. "Tiveram a generosidade de me abrigar. Não sou do Rio, e eles me abriram a casa. Isso não tem preço. É um gesto de amor profundo".
Em 'Cara e Coragem', não tivemos nenhuma cena juntos. Agora, 90% das minhas cenas foram com o Rodrigo. E tem sido uma felicidade imensa. Já éramos amigos. Descobrir que somos bons parceiros profissionais foi a surpresa mais deliciosa. A gente tem escuta, troca, confiança. Nosso trabalho é feito de encontros, de afeto. E contracenar com alguém que eu amo e confio torna tudo mais forte. Bruno Fagundes