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SoundCloud vai remunerar artistas em função do tempo de reprodução

Hoje o SoundCloud utiliza um sistema de remuneração polêmico baseado numa proporção do total de reproduções - Getty Images
Hoje o SoundCloud utiliza um sistema de remuneração polêmico baseado numa proporção do total de reproduções Imagem: Getty Images

Da AFP, em Paris

02/03/2021 15h53

SoundCloud será, a partir de abril, a primeira plataforma de música a remunerar os artistas com base no tempo durante o qual são ouvidos, informou a empresa à AFP.

"A indústria vem exigindo isso há anos. Estamos felizes em ser os primeiros a trazer essa inovação para apoiar os artistas", disse à AFP Michael Weissman, diretor-geral da plataforma alemã.

Como a maioria das plataformas de streaming musical, como Spotify e Deezer, o SoundCloud utiliza atualmente um sistema de remuneração polêmico baseado numa proporção do total de reproduções.

Conhecido como "market centric", este sistema se opõe ao modelo "user centric", que se baseia nas reproduções individuais dos assinantes. Concretamente, o primeiro favorece as grandes estrelas, em detrimento de artistas menos conhecidos.

O primeiro também supõe que o dinheiro pago mensalmente pelos assinantes dessas plataformas não serve para remunerar os artistas ouvidos.

O sistema que a plataforma alemã inaugurará em 1 de abril permitirá que os artistas rentabilizem suas criações utilizando os serviços SoundCloud Premier, Repost by SoundCloud ou Repost Select, que vincula a remuneração ao que os fãs escutam.

No total, o novo sistema beneficiará "quase 100 mil artistas independentes", de acordo com SoundCloud.

Será mais "justo" e irá privilegiar uma maior diversidade musical, acrescentou a plataforma fundada em 2007 e que tem um repertório de mais de 250 milhões de canções criadas por 30 milhões de artistas.

O novo mecanismo vai apaziguar a ira dos artistas que há meses denunciam a forma como as plataformas os pagam?

"É uma iniciativa interessante", comentou à AFP Jean-Philippe Thiellay, presidente do Centro Nacional de Música da França, órgão que coordena o setor musical. "As coisas estão mudando no mundo do streaming, isso é positivo. Agora temos que ver como isso vai mudar exatamente para os artistas".

Em estudo recente realizado pelo gabinete Deloitte, a instituição estima que essa mudança no sistema de distribuição das plataformas de música teria um impacto menor na remuneração dos músicos menos conhecidos e que seu principal efeito seria estabilizar a "metade da classificação".

O relatório, que analisou apenas os casos de Spotify e Deezer, confirma que a mudança geraria maior diversidade musical, com aumento de 24% no faturamento da música clássica, 22% no "hard rock" e 18% no "blues". Em contrapartida, os gêneros mais populares, como o rap, registrariam uma perda de 21%.

Por sua vez, a Academia Britânica de Autores-Compositores, que atualmente está fazendo campanha por remunerações mais justas, aplaudiu o anúncio do SoundCloud. "Quando você vai para o sistema 'centrado no mercado', a remuneração dos artistas que têm uma audiência aumenta significativamente", disse seu presidente Crispin Hunt à AFP.

"O princípio básico de todos os mercados é que quanto mais clientes, mais receita. A remuneração dos artistas com base na duração das reproduções é baseada justamente nessa ideia", acrescenta.

A plataforma musical francesa Deezer disse que "está disposta a lançar um projeto-piloto" com esta nova fórmula. "Nesse sentido, esperamos que o SoundCloud nos apoie em nossa política de persuasão com as gravadoras", algumas das quais têm muito a perder com este novo sistema de remuneração.