Festival de Cannes começa com o musical 'Annette' e um júri com muitas críticas
Com o musical "Annette", Adam Driver e Marion Cotillard abrirão hoje o Festival de Cannes, cujo júri presidido pelo diretor americano Spike Lee defendeu que o cinema e a militância andam de mãos dadas.
A Palma de Ouro será disputada por cineastas renomados, como o americano Wes Anderson, o holandês Paul Verhoeven, o iraniano Asghar Farhadi e diretores que já receberam o prêmio máximo em Cannes, como o italiano Nanni Moretti e o tailandês Apichatpong Weerasethakul.
O festival, que não foi realizado no ano passado devido à pandemia, deseja recuperar o tempo perdido: 24 filmes, rodados antes e durante a pandemia, estão na mostra oficial — o maior número dos últimos anos, embora a América Latina tenha ficado de fora.
O evento começará com o primeiro filme em inglês do francês Leos Carax, um musical com o americano Adam Driver e a francesa Marion Cotillard.
O #MeToo presente na grande tela
"A covid continua aí, mas estar presente no retorno do festival é um grande sentimento de alívio e excitação", disse Driver à AFP.
"Annette" é "perfeita" para abrir o festival, pois "convida os espectadores a vibrarem com um grande espetáculo", disse Cotillard. Os dois atores interpretam um casal de artistas glamourosos até que tudo muda, em uma trama ambientada nos tempos de #MeToo.
O filme, com roteiro e música do grupo californiano Sparks, concorre à Palma de Ouro, que será concedida no dia 17 de julho pelo júri presidido por Spike Lee, o primeiro afro-americano a assumir o cargo.
'Um mundo governado por gangsters'
Antes de começar, Lee deu um caráter político ao festival.
Segundo ele, o júri não deve "criticar apenas os filmes, mas também o mundo" e os "gangsters" que o "governam", citando Donald Trump, o brasileiro Jair Bolsonaro e o russo Vladimir Putin. Ele também lamentou que em seu país os negros continuem sendo "caçados como animais".
Na tradicional entrevista coletiva do júri, outros membros foram combativos, como o brasileiro Kleber Mendonça Filho. O diretor de "Bacurau" defendeu que uma das formas de "resistir" é divulgar a informação e denunciar, por exemplo, "o fechamento da Cinemateca Brasileira há mais de um ano", uma "forma muito clara de reprimir a cultura e o cinema".
As mulheres, que são maioria no júri, exigiram de sua parte mais igualdade no setor, lembrando que apenas uma delas, Jane Campion, conquistou a Palma de Ouro em toda a história do Festival por "El Piano", em 1993.
"Mesmo dentro de uma cultura tão masculina, fazemos filmes diferentes, explicamos as histórias de uma maneira diferente. Vamos ver o que acontece" com um júri de cinco mulheres e quatro homens, disse a atriz americana Maggie Gyllenhaal.
Almodóvar de volta ao tapete vermelho
Paralelamente, o Festival concederá amanhã a Palma de Ouro honorária à atriz e diretora Jodie Foster, que compareceu a Cannes pela primeira vez ainda adolescente, há 45 anos, para apresentar "Taxi Driver", de Martin Scorsese. Nele, contracenou com Robert De Niro.
A cerimónia de inauguração contará ainda com a presença do diretos espanhol Pedro Almodóvar, dois anos depois de ter perdido a Palma de Ouro com "Dor e Glória". O prêmio foi conquistado pelos sul-coreanos com "Parasita".
As celebridades poderão tirar a máscara e posar para as câmeras no tapete vermelho, mas a organização do festival estabeleceu estritas condições de acesso. Europeus vacinados, ou com imunidade natural, devem apresentar o documento de saúde reconhecido pela UE, enquanto os demais participantes devem ser submetidos a um teste de PCR a cada 48 horas. As salas não terão, no entanto, limite de capacidade.
As restrições à pandemia tornarão o Festival menos lotado. Mas os quase 30.000 participantes coexistirão com os milhares de visitantes que foram passaro verão nas praias desta luxuosa cidade da Côte d'Azur, pela primeira vez pois o evento costuma ser realizado em maio.
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