Topo

Família Rothschild, uma dinastia no alvo das teorias da conspiração

29/04/2022 09h10

Viena, 29 Abr 2022 (AFP) - De caricaturas antissemitas do século XIX a informações falsas vinculadas à pandemia de covid-19, a dinastia Rothschild, que contribuiu para a época de ouro na Europa, é um dos alvos prediletos das teorias da conspiração.

Uma exposição aberta até 5 de junho no museu do Judaísmo de Viena percorre sua história e tenta compreender porque continua suscitando tantos rumores irracionais.

"Era uma família originária do gueto judeu de Frankfurt. Tudo começou com um pequeno comerciante de moedas que enviou cada um dos seus cinco filhos a cidades europeias, incluindo Viena" em 1821, explica a curadora Gabriele Kohlbauer-Fritz.

"Seu rápido sucesso inspirou os caricaturistas", continua seu colega Tom Juncker. Então se converteram "no rosto da indústria bancária nascente".

Após a abolição da censura em 1848, as vinhetas passaram a abordar progressivamente o tema de uma "pretendida conspiração judaica mundial que se mantém até hoje".

"Apontamos como os culpados, no lugar de atribuir aos mecanismos especulativos do capitalismo a responsabilidade de certas carências do sistema", acrescenta Juncker.

Uma litografia do século XIX representa, por exemplo, o fundador Mayer Amschel Rothschild com uma fisionomia opulenta e nariz arqueado, brincando com as classes dirigentes como se fossem malabares.

- Culpados de tudo -Depois de 1945 e do genocídio de judeus na Europa, mostrar abertamente antissemitismo era punido pela lei e o nome Rothschild se converteu em "um código", em "um nome genérico" para criticar o poder das elites.

"Sobretudo agora, no contexto da pandemia de coronavírus, está novamente em voga: nos encontramos ainda com os Rothschild", aponta Tom Juncker, diante de uma grande tela que reproduz mensagens conspiracionistas difundidas nas redes sociais.

Em 2020, publicações compartilhadas milhares de vezes no Facebook, brigando contra o "esquema da covid", afirmavam que um tal de Richard Rothschild havia registrado uma patente para um teste de diagnóstico do vírus em 2015.

O homem não tinha nenhum vínculo com a Rothschild & Co, como confirmou nessa época um porta-voz à AFP. Mas também, ainda que exista a patente, que descreve técnicas de análise de dados biométricos, a parte dedicada à covid só foi atualizada em setembro de 2020.

Ainda assim, internautas do mundo inteiro viram ali a prova de que a família sabia antes de todos em que situação o mundo se veria arrastado.

"Alguém aqui se deu conta muito cedo que havia dinheiro a ser ganho com uma doença" que começaria a se expandir quatros anos depois, dizia um internauta no Facebook.

Em outro caso, um integrante da dinastia aparece posando em um luxuoso cenário em frente a uma pintura que representa uma criatura diabólica que devora bebês. Também é falso: a foto original não mostra a mesma pintura, segundo as investigações da equipe de verificação digital da AFP.

- Legado esquecido -Longe de serem responsáveis por todos os males ocidentais, os Rothschild contribuíram de maneira decisiva na Europa graças à "sua gestão muito moderna", assegura Kohlbauer-Fritz.

O império austro-húngaro atravessava recorrentes dificuldades financeiras e Salomon Rothschild (1774-1855) se converteu rapidamente em figura indispensável para a monarquia até ganhar títulos nobiliárquicos, mesmo sem ceder à conversão ao catolicismo nem renunciar ao judaísmo.

O banco Credit-Anstalt, um hospital de ponta, uma grande fundação, uma estação, um jardim... Quase tudo o que ele e sua família construíram em Viena antes da anexação da Áustria por Adolf Hitler desapareceu.

"Os nazistas tomaram praticamente tudo", lamenta a curadora da exposição chamada "Rothschild em Viena, um thriller". A parte vienense da família emigrou para os Estados Unidos e seus descendentes jamais voltaram.

"Inclusive depois da guerra, os tratamos de maneira indecente", forçando-os a ceder parte de seus bens para demoli-los e erguer construções modernas, relata Gabriele Kohlbauer-Fritz, que se submergiu em uma busca ao tesouro para reencontrar as marcas desse legado esquecido.

Até 2016, Viena não havia dedicado um lugar aos Rothschild.

A parte napolitana da família fechou o negócio em 1863 depois que a unificação da Itália deixou a cidade em segundo plano.

Mas a saga continua sendo escrita atualmente de Londres, Paris ou Nova York, onde hospitais, bancos e fundos de investimento mantêm viva a marca no espaço público.

bg/anb/dbh/meb/dd

ROTHSCHILD & CO