A princesa japonesa que largou realeza para se casar com namorado de origem humilde
Sobrinha do atual imperador do Japão, Mako se casou com Kei Komuro, que conheceu durante faculdade, após longa espera; ela descartou ritos habituais do casamento e recusou dote de R$ 7,2 milhões.
Após longa espera, a princesa Mako do Japão, sobrinha do atual imperador do país, se casou com seu namorado da faculdade, Kei Komuro, perdendo assim seu status real.
Segundo a lei japonesa, membros do sexo feminino da família imperial têm que renunciar à realeza ao se casarem com um "plebeu", embora o mesmo não aconteça com os homens.
Além disso, apenas herdeiros masculinos são candidatos ao trono. O Japão é conhecido por um país patriarcal e extremamente conservador.
O atual imperador, Naruhito, por exemplo, se casou com Masako, uma ex-diplomata. Seu pai, que abdicou a seu favor em 2019, foi o primeiro membro da realeza japonesa a se casar com uma plebeia, Michiko.
Naruhito e Masako tiveram uma única filha, Aiko, que, portanto, não ascenderá ao Trono do Crisântemo (nome pelo qual o trono imperial do Japão é conhecido). O irmão de Naruhito, Fumihito, pai de Mako, passa a ser, assim, o primeiro na linha de sucessão.
A princesa Mako também descartou os ritos habituais de um casamento real e recusou um pagamento de 152,5 milhões de ienes (cerca de 7,2 milhões de reais) oferecido às mulheres da realeza após a renúncia de seu status real.
Ela é a primeira mulher da monarquia japonesa a fazer isso.
'Harry e Meghan do Japão'
Mako e Komuro devem se mudar para os Estados Unidos, onde ele trabalha como advogado, após o casamento. A mudança atraiu comparações inevitáveis com Meghan Markle e o Príncipe Harry, do Reino Unido, e, por isso, os recém-casados receberam o apelido de "Harry e Meghan do Japão".
Como Markle, Komuro está sob intenso escrutínio desde que seu relacionamento com a princesa Mako foi anunciado. Ele foi recentemente criticado por usar rabo de cavalo quando voltou ao Japão.
Alguns tabloides e usuários de redes sociais disseram que seu penteado, visto como não convencional no Japão, era impróprio para alguém que iria se casar com uma princesa.
Também houve um protesto nesta terça-feira (26/10) contra o casamento de Mako e Komuro.
'(Ele) é insubstituível'
Em uma entrevista a jornalistas, Mako disse que se desculpou por qualquer problema causado por seu casamento.
"Lamento o transtorno causado e sou grata por aqueles (...) que continuaram a me apoiar", disse ela, segundo a emissora japonesa NHK. "Para mim, Kei é insubstituível o casamento foi uma escolha necessária para nós."
Komuro acrescentou que amava Mako e queria passar a vida com ela.
"Eu amo Mako. Só temos uma vida e quero que a passemos com quem amamos", disse Komuro, segundo a agência de notícias AFP. "Estou muito triste que Mako esteja em péssimas condições, mental e fisicamente, por causa das falsas acusações."
A princesa Mako deixou sua residência em Tóquio por volta das 10h (21h de segunda-feira, 25/10, em Brasília) para registrar seu casamento, fazendo várias reverências a seus pais, o príncipe herdeiro Fumihito e a princesa Kiko. Ela também abraçou sua irmã mais nova antes de sair, informou a agência de notícias Kyodo.
O casal vem recebendo ampla cobertura da imprensa ao longo dos anos, o fez com que a princesa desenvolvesse transtorno de estresse pós-traumático.
Seu relacionamento gerou polêmica no país.
Nesta terça-feira, pessoas foram fotografadas protestando contra o casamento em um parque japonês.
Muitos slogans pareciam trazer à tona questões financeiras em torno da família de Komuro, especificamente sua mãe.
A agora ex-princesa ficou noiva de Komuro em 2017 e os dois deveriam se casar no ano seguinte. Mas o casamento foi adiado devido a alegações de que a mãe de Komuro tinha problemas financeiros: ela teria feito um empréstimo com seu ex-noivo e não devolveu o dinheiro.
O palácio negou que o atraso no casamento de Mako e Komuro estivesse relacionado a esse episódio, embora o príncipe herdeiro Fumihito tenha dito que era importante que as questões financeiras fossem resolvidas antes do casamento.
De acordo com o correspondente da BBC em Tóquio, Rupert Wingfield-Hayes, a animosidade em relação a Komuro vem de alguns japoneses conservadores que acreditam que ele não é um parceiro digno para a sobrinha do imperador.
Komuro, que recebeu uma oferta de emprego de um importante escritório de advocacia de Nova York, é de origem humilde, e os tabloides locais passaram anos tentando descobrir algo de podre sobre sua família, incluindo as acusações contra sua mãe.
Análise: Hideharu Tamura, BBC News, Tóquio
A reação ao relacionamento da princesa Mako e Kei Komuro por parte de alguns meios de comunicação e pessoas no Japão trouxe à tona a pressão que as mulheres enfrentam na família imperial japonesa.
A Imperial Household Agency, órgão do governo japonês responsável por divulgar informações sobre a família real, disse que a princesa Mako passou a sofrer de estresse pós-traumático por causa das duras críticas da imprensa e das redes sociais sobre seu noivado desde seu anúncio, há quase quatro anos.
Ela não é a primeira mulher na família real japonesa a ser afetada dessa forma.
Sua avó, a imperatriz emérita Michiko, de origem plebeia, foi silenciada há quase 20 anos, quando recebeu críticas pela imprensa como sendo "inadequada" para ser a mulher do imperador. Sua tia, a imperatriz Masako, sofreu depressão após ser acusada de não ter gerado um herdeiro homem.
As mulheres reais foram forçadas a aderir estritamente a certas expectativas: elas devem apoiar seus maridos, produzir um herdeiro e ser uma guardiã das tradições japonesas. Se elas fracassam, são violentamente criticadas.
Isso também é verdade para a princesa Mako, que desistiu de seu status real. E mesmo isso não foi suficiente para impedir os ataques contra ela, seu marido e seu casamento.
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