Sebastião Salgado desperta consciência sobre Amazônia em nova mostra em Paris
Paris, 18 mai (EFE).- O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado inaugurou nesta terça-feira, no museu Filarmônica de Paris, mais que uma exposição, uma porta para a Amazônia, uma mostra imersiva e musical que busca conscientizar sobre a urgência de proteger a floresta.
Aos 77 anos, Salgado chegou à Filarmônica pelas mãos da curadora, sua esposa, a editora e ambientalista Lélia Wanick-Salgado, que fez a cenografia de "Salgado - Amazônia", um dos eventos culturais da esperada reabertura de museus da capital francesa programada para quarta-feira.
"Lélia queria que as pessoas se sentissem perdidas na selva e ouvissem os depoimentos dos indígenas. Queremos que as pessoas tenham uma outra consciência da Amazônia quando forem embora", explicou Salgado à Agência Efe.
O projeto reúne 200 imagens em preto e branco capturadas em 48 viagens ao coração da imensa floresta, de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a oito vezes a superfície da França.
Com o passar do tempo, a floresta amazônica tem sofrido danos irreparáveis: o desmatamento e a expansão das terras agrícolas acabaram com 17,25% de sua área entre 1988 e 2019.
Mas existem aqueles, como Salgado, que fizeram do contato com a Amazônia uma peregrinação sagrada e buscam conscientizar o mundo para evitar um dano maior.
CONTATO COM O PASSADO.
"A Amazônia é indescritível. Estar com os indígenas é como estar em contato com o princípio da humanidade, com a nossa pré-história. Temos sorte de poder ter contato com eles, e por isso temos que protegê-los", disse Salgado.
O fotógrafo compartilhou lembranças sobre sua relação com as comunidades indígenas que visitou e que vivem em 25% da Amazônia. Segundo ele, as visitas para fotografar indígenas sempre foram mediadas por associações e a convite dos mesmos, que marcam a data e perguntam sobre o "seu mundo".
"Uma pessoa chega lá, procedente de uma das cidades mais privilegiadas do mundo, pensando que aquela gente não sabe nada. Mas eles sabem tudo, é você quem não sabe nada. Nós estamos na América há 500 anos, eles estão há 20 mil", ressaltou Salgado, que fez retratos de comunidades como Ashaninka, Korubo, Zuruahã e Marubo.
MÚSICA E IMERSÃO.
Concebida como uma experiência de imersão graças à instalação de perspectivas idealizada por Léila Wanick-Salgado e à música do compositor francês Jean-Michel Jarre, a exposição abrirá as portas na quinta-feira, com um mês e meio de atraso por causa do fechamento dos museus na França.
Após Paris, onde ficará até 31 de outubro, a mostra viajará para São Paulo, Rio de Janeiro, Roma e Londres, entre o final de 2021 e 2022.
"Não queríamos cair na música ambiente ou num discurso técnico. A selva é muito barulhenta e todos os seus sons são independentes, é o oposto de uma orquestra", explicou Jarre sobre a música.
Para encarar o desafio, Jarre utilizou o arquivo do Museu de Etnografia de Genebra e trabalhou com sons orgânicos, eletrônicos e naturais para estabelecer "uma harmonia de sons" que nada têm a ver uns com os outros.
Outra parte da mostra também é acompanhada por músicas de compositores brasileiros: "O Mito da Criação do Rio Amazonas", sinfonia de Heitor Villa-Lobos, e melodias de Rodolfo Stroeter, que traz um retrato musical de povos indígenas.
Convicto de que esta exposição é um ato de compromisso político em prol da defesa da Amazônia, Salgado defendeu que o que falta hoje para proteger este paraíso é "honestidade".
O fotógrafo definiu o governo do presidente Jair Bolsonaro como "predador", mas lembrou que o desmatamento da Amazônia começou há 40 anos com a exportação em massa de madeira, carne, soja e outros produtos para a Europa.
"Falta honestidade planetária, temos uma vontade real de proteger este espaço e não comercializar produtos de áreas desmatadas", frisou.
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