'Infestação' usa medo para abordar crise de imigrantes

Um terror com aranhas. Dá para definir assim o filme Infestação, de Sébastien Vanicek, que chega agora aos cinemas. Mas é possível ir além. O diretor faz o impensável: transforma essa história em uma provocação.

O filme começa com Kaleb comprando uma aranha para sua coleção de animais. Só que ela foge. E se reproduz. Centenas (ou milhares?) de aranhas começam a tomar conta do prédio. Dá até para escapar do susto em alguns momentos, mas a aflição está sempre ali, com as pernas das aranhas tomando conta do enquadramento ou, então, desfocadas ao fundo.

A grande sacada de Vanicek, no entanto, não está na forma como cria um clima de medo com relação aos bichos. Ao falar das aranhas, e dessa tal infestação, o cineasta e roteirista fala também sobre como os franceses veem a camada da população que está retratada no roteiro: os refugiados, os pobres, os negros, os periféricos.

Paralelo

"Não gostamos que tenham oito pernas, que possam se mover rápido, que possam ir de um lado para o outro, que possam pular. E isso é xenofobia. Você julga alguém pela sua aparência", disse o diretor ao ScreenRant. "É um paralelo interessante com as aranhas, porque elas são julgadas por suas aparências, assim como as pessoas dos subúrbios são julgadas por sua origem. Eu trato meus personagens como as aranhas."

Há uma certa melancolia no tom com que Vanicek filma - o que, inclusive, atrapalha um pouco o longa em seu resultado final, à medida que ele investe em alguns dramas que não funcionam de verdade e desacelera a narrativa com passagens dispensáveis.

Ainda assim, sobra um grito de guerra das aranhas contra os seus predadores. E fica a pergunta: quem vai sobrar dessa infestação? E, afinal de contas, qual é a verdadeira infestação que existe à nossa volta nos dias de hoje?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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