Nunca tive contato com a Igreja Universal, diz o budista Heródoto Barbeiro
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O jornalista e advogado Heródoto Barbeiro está completando 5 anos na Recordnews, canal noticioso UHF da Record.
Em meio à crise institucional e moral que o país atravessa, Heródoto, 70 anos, acha que o combate à corrupção começa não na Lava-Jato, mas quando alguém devolve um troco dado a mais na padaria, ou quando não tenta subornar um policial de trânsito para escapar de uma multa. “É preciso ensinar política desde o ensino fundamental”, acredita.
Também escritor, o principal âncora da Recordnews responde aos críticos que, cinco anos atrás, acharam que ele “se vendeu” ao aceitar trabalhar numa emissora ligada a uma igreja.
Ele afirma que nunca teve qualquer contato com a hierarquia da Universal.
“Meu chefe se chama Douglas Tavolaro (chefe nacional do Jornalismo), que sempre apoiou o jornal da forma que vai para o ar: plural, alegre, irreverente, irônico, construido por uma equipe de jornalistas que perseguem todos os dias a ética, a isenção e o interesse público”, declara Heródoto.
Leia a seguir a entrevista feita com o jornalista Heródoto Barbeiro.
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O sr. é advogado, jornalista e historiador. Na sua opinião, qual dessas profissões está “enlouquecendo” mais no atual momento brasileiro?
Sem dúvida a de jornalista. O noticiário é muito volátil e carregado de emocionalismo, o que atrapalha a busca da objetividade.
Porque o sr. há de concordar que são essas três profissões que mais trabalho estão tendo ou terão de agora em diante.
Creio que, a curto prazo, os jornalistas terão mais trabalho. A médio prazo, os advogados. À longo prazo, será para os historiadores que vão escrever sobre o turbulento período que vivemos hoje.
Há uma grita generalizada, nas ruas, na internet, na imprensa, contra a corrupção e corruptos. Só que no dia a dia a gente ouve falar de pouquíssimas pessoas que, por exemplo, acham uma carteira cheia de dinheiro e a devolve. Isso não é sinal de que muitos “gritalhões” podem estar sendo apenas passionais (para não dizer hipócritas?)
O primeiro passo para combater a corrupção é não dar dinheiro para o fiscal de trânsito para quebrar uma multa. Ou devolver o troco a maior que recebeu. Ou seja, é preciso construIr a cidadania e ensinar que ética é aquilo que faço quando ninguém está vendo.
Sei que o sr. é um homem otimista, mas existe alguma esperança de melhora no país?
Sim, basta a gente mudar. Este ano vai ter eleição para prefeito e vereador, é a nossa chance de votar em gente íntegra. Daqui dois anos poderemos fazer o mesmo com deputados e senadores. Está na nossa mão. Basta saber separar o joio do trigo e não ir no efeito manada de votar porque fulano é mais bonito ou promote o que não pode cumprir.
Vou fazer ao senhor a mesma pergunta que levou Pelé a fazer uma declaração (e ser bombardeado depois) no início dos anos 70: o brasileiro não sabe votar?
Sim, sabe. Saber votar não é o resultado somente de uma eleição. É um processo. A cada dois anos temos a possibilidade de mudar, se não mudarmos é porque a nossa consciência política é muito frágil. É preciso ensinar política na escola desde o curso fundamental.
O sr. está completando 5 anos na Recordnews. Até hoje a audiência da emissora é muito pequena (está em 37º lugar, com 0,25 de média). A que o sr. atribiu tão pouco público para uma emissora jornalística?
Somos uma soma de audiências não medidas. Por exemplo, o jornal é exibido simultaneamente no Portal R7 do Grupo Record. Isto é medido? Estamos em todas as parabólicas, em canais como Sky. Não se pode condensar a audiência da RecordNews apenas ao canal 42 do UHF. É uma distorção.
Não é frustrante para o sr. que sempre falou com grande públicos (no rádio, por exemplo) hoje ter uma audiência menor?
Estou, junto com a equipe, construindo um projeto de credibilidade e compromisso com a busca do interesse público. O fato do jornal estar em múltipla plataforma proporciona uma interatividade excepcional. Estou contente em trabalhar aqui, quando venho trabalhar de metrô várias pessoas me falam do jornal. Finalmente, o meu ego está sob controle.
O sr. inovou ao criar num telejornal um quadro musical (que acabou virando programa), sempre após o noticiário. Como foi essa ideia de juntar música com notícia?
Essa ideia não foi minha, foi do jornalista Marco Nascimento. É o único jornal que encerra com um musical. A ideia de transformá-lo em um programa foi minha. Assim ele vai ao vivo todos os dias no R7, às 20h20, gravado nos finais de semana na Record News e uma das músicas encerra o jornal as 22 hs, Nunca me passou pela cabeça fazer um programa musical, mas estou gostando muito e aprendendo com os artistas. É uma oportunidade gratificante. Já passaram por aqui uns 5 mil artistas…..
O sr. recebeu muitas críticas (para variar, na internet) quando foi para a Recordnews. Diziam que o sr. estava “se vendendo”, que a emissora era religiosa e que iriam calá-lo etc. Que mensagem o sr. tem para esses seus críticos do passado?
Creio que todos precisam fiscalizar o meu trabalho. Julgar pelo que veem no noticiário. Tenho uma cláusula de autonomia editorial que sempre foi respeitada pela empresa. Portanto os erros que ocorrerem devem ser creditados a mim. Sou budista, tenho uma estátua do Buda sobre minha mesa. Respeito a religião dos outros e tenho sido respeitado na minha. Quero ser julgado pelo meu trabalho.
Alguma vez o sr. ou sua equipe sofreram alguma ingerência de pessoas da igreja Universal?
Nunca, não tenho contato com a hierarquia da Igreja Universal. Meu chefe é o Douglas Tavolaro, que sempre apoiou o jornal da forma que vai para o ar: plural, alegre, irreverente, irônico, construido por uma equipe de jornalistas que perseguem todos os dias a ética, a isenção e o interesse público.
O sr. não acha que descaracteriza o perfil da emissora o fato de programação religiosa ser exibida nas madrugadas?
Não, uma vez que ela não interfere no editorial do jornal.
Última pergunta: onde o senhor acha que estará daqui a 5 anos?
Não sei onde estarei amanhã muito menos daqui a cinco anos, nós budistas só nos preocupamos com o presente uma vez que a vida é um fluxo.
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