"Aqui na Band": Twitter não pode salvar programa sem público
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Faço este texto inspirado pela curta, grossa e certeira análise que meu colega Leandro Sarubo, do site "Teleguiado", escreveu ontem a respeito da saída de Luís Ernesto Lacombe da Band e da reformulação total que o programa "Aqui na Band" passará.
Isto é: se é que o programa continuará a existir.
Como meu colega bem explanou, o programa ficou pouquíssimo tempo no ar e mal chegou a dar 1 ponto de audiência desde a estreia. Um ponto são 75 mil domicílios na Grande São Paulo, principal praça da publicidade nacional.
De repercussão mesmo o "Aqui na Band" só teve a demissão repentina, atabalhoada e extremamente grosseira da ótima comunicadora Silvia Poppovic; sem falar na sua, digamos, curiosa substituição pela mulher do diretor do programa, Vildomar Batista.
Assim que estreou, o programa matinal da Band foi pouco a pouco controlado pelo jornalista auto-denominado "conservador" Lacombe.
Foi quando começou o "fenômeno" que mais se assemelha a uma praga atual na TV aberta: programas que dão zero de ibope, mas ficam entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Como num passe de mágica
Nem todo mundo sabe como ocorre essa "mágica" da multiplicação de posts sobre algo que ninguém está assistindo. Vamos explicar aqui então. São duas possibilidades de o "fenômeno" ocorrer.
Uma forma é o surrado uso de robôs e redes de bots que replicam e retuitam hashtags contra ou a favor de determinadas pessoas, assuntos ou... programas de TV!
Lacombe anunciava quase que todos os últimos dias: "Estamos nos trending topics do Twitter, pessoal!". E estavam mesmo. Como se isso fosse uma façanha, um feito da comunicação, um fenômeno.
Só que não.
Alinhado escancaradamente ao bolsonarismo, Lacombe —assim como outros apresentadores em voga— angariou imediatamente o apoio das hostes governistas.
Peça de ficção
Estava na cara que o "Aqui na Band" subir para os chamados TT´s não passava de mais uma peça de ficção da internet.
Tenho respeito intrínseco pela Band e especialmente por seu jornalismo —vivo repetindo isso—, mas tenho de ser sincero: já desconfiava do uso de impulsionamento artificial em outros programas da emissora, como o ex-badalado "Masterchef".
Explico: nas primeiras edições de fato o "Masterchef" era um fenômeno de ibope na TV e se tornou também nas redes sociais.
Nos últimos dois anos, porém, o reality culinário sofreu enorme sangria de telespectadores devido às infindáveis e enfadonhas versões: Kids, profissionais, perdedores, vencedores, remakes, pipipi popopó.
O "mistério" culinário
No entanto o "Masterchef" continuou não só sempre nos TT´s, mas deixando transparecer um suposto truque para inflar sua hashtag.
Reparei que os tuítes eram postados numa estranhíssima ordem: cada um dos concorrentes do programa ganhava um certo número de tuítes, um de cada vez, depois cada um dos jurados, depois a apresentadora.
Era muita ordem e tudo muito lógico, certinho e asseado para o mundo caótico e orgânico do Twitter.
Se há uma qualidade que essa rede tem —ainda— é justamente isso: naturalidade. Exceto, claro, quando entram em ação os robôs "particulares".
Por exemplo, o Facebook é ele próprio um manipulador que não permite que assunto algum "bombe" a menos que o postador pague para "impulsionar" o post. Para mim isso é desonesto.
Claro que o reality "Masterchef" continuou a ter público e seus candidatos, torcedores.
Mas, ano após ano, eles minguaram e os números do ibope provavam isso.
No entanto, o programa, sua hashtag e seus participantes seguiram em ascensão no Twitter, mas sempre com com um quê de artificial. Não tenho como provar, repito. Mas desconfio, sim, e muito.
O fenômeno de hashtag do SBT
Outro exemplo é o "Fofocalizando", "Triturando" ou o nome que o valha, do SBT.
Embora sempre tenha sido um fiasco de audiência (no máximo terceiro lugar no ibope), quando a atração tinha Mara Maravilha e Lívia Andrade o programa estava SEMPRE no topo dos TT´s.
A saída das duas apresentadoras, além de mudanças infinitas no seu conteúdo, coincidentemente derrubaram a relevância da hashtag.
Minha suspeita nº 1: que os fanáticos seguidores de Lívia e Mara, famosos inimigos figadais da internet, disputavam quem xingava mais a rival —muito mais do que elogiar seu ídolo—, e isso acabava subindo indiretamente a hashtag do programa;
Minha suspeita nº 2: o uso de "fazendinhas" ou escritórios de cliques pagos (não sei por quem) para inflar artificialmente a importância do programa e seus participantes. Será que Silvio caía nessa? Uma coisa é certa: ele é que não estava pagando por isso.
Quero dizer que já desconfiei até do uso dessa estratégia pela Globo, em programas como o "The Voice Kids. Mas, repito, não tenho como provar. É uma ilação.
Também quero dizer que não estou denunciando nenhum "crime", vamos deixar claro. Pode não ser honesto, mas está longe de ser uma contravenção. É um truque publicitário, sim; é manipulação, sim. Mas, se é ilegal? Não conheço leis que proíbam.
Casos reais
Claro que existem fenômenos inegáveis de ibope e de Twitter.
Cito dois exemplos aqui: Sikêra Jr. na RedeTV e Danilo Gentili no SBT. São atrações e apresentadores que definitivamente mexem com paixões, controvérsias e, claro, tuiteiros.
De que serve tudo isso, no entanto?
Para os anunciantes, nada. E cada vez mais eles estão descobrindo isso. O que vale é telespectador, não tuíte.
Foi-se o tempo em que o departamento comercial de uma TV conseguia convencer um anunciante mostrando "oh, nosso ibope até caiu um pouquinho, mas veja como estamos bombando nas redes sociais!"
Isso, tudo indica, vai acabar cedo ou tarde, e para sempre.
O fracasso do "Aqui na Band" é prova dessa tendência: prova que esse tipo de tática farsesca não tem valor comercial ou importância como conteúdo televisivo nem para o anunciante e nem para o consumidor.
"Amigos estamos em primeiro nos trending topics!!", bradava Lacombe orgulhoso.
Pena que ninguém estava vendo o programa.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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