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Ricardo Feltrin

Fundação ignora "ultimato" de Mário Frias e mantém Cinemateca

Fac-símile do ofício da Roquette Pinto enviado ao secretário Mário Frias - Reprodução
Fac-símile do ofício da Roquette Pinto enviado ao secretário Mário Frias Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

17/07/2020 00h09

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A Fundação Roquette Pinto, que controla a Cinemateca (sediada em SP), não tomou conhecimento do "ultimato" do secretário especial de Cultura, Mário Frias.

Ele exigiu a "entrega das chaves" do órgão de audiovisual à sua secretaria em ofício enviado por meio de uma funcionária no último dia 8.

Conforme esta coluna antecipou hoje, Frias e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio tentam desde a semana passada criar uma "narrativa" de que estão sendo "impedidos" pela Roquette de ter acesso à Cinemateca para "cuidar" do órgão.

Na verdade nenhum dos dois fez nada para regularizar a situação da Cinemateca, para o qual o governo deve mais de R$ 14 milhões e está fechada e sob risco de acidente grave por falta de segurança.

A fundação respondeu a Frias com um ofício (veja imagem acima que ilustra este texto) no qual diz que o tal ultimato é um "ato nulo" e que, grosso modo, não vai entregar nada antes que a secretaria regularize os pagamentos e a situação contratual.

Ou seja, não vai ser agora que Frias vai ter o controle do complexo que abriga o maior acervo audiovisual e de cinema da América do Sul, localizado hoje na região da Vila Clementino, em São Paulo.

A resposta é de certa forma uma derrota humilhante para o ex-ator de "Malhação" (Globo), recém-nomeado secretário especial em substituição à também ex-atriz global Regina Duarte: quis falar grosso e levou uma "invertida".

Apesar de reafirmar constantemente ser um aliado incondicional do governo Bolsonaro, Mário Frias não conta com a simpatia ou apoio de boa parte dos militares e até mesmo de muitos "olavistas", que o consideram um arrivista.

Antes mesmo de assumir ele já vinha sofrendo processo de "fritura" semelhante ao que sua colega atriz veterana sofreu.

Numa subida de tom, a fundação Roquette Pinto também vai se reunir para decidir se move ação judicial por calúnia e difamação contra a funcionária que tentou entrar na Cinemateca para "pegar as chaves".

Segundo testemunhas da Roquette, a servidora foi agressiva e desrespeitosa com funcionários da fundação.

Calote milionário

O governo federal está devendo mais de R$ 14 milhões à fundação pela manutenção do acervo desde o ano passado. Por mês a Cinemateca custa cerca de R$ 1,3 milhão e seu acervo precisa de manutenção altamente especializada.

Numa proposta que pode ser considerada surreal, a secretaria (ainda sob a gestão Regina Duarte) propôs rescindir o contrato com a fundação; que a Roquette demitisse todos os 70 funcionários que trabalham lá e ainda por cima assumisse os ônus trabalhistas das dispensas.

Também propôs fechar a Cinemateca até o final do ano.

O contrato, no entanto, vai até 2021 e a Roquette Pinto foi à Justiça para exigir seu cumprimento.

O Ministério Público Federal agora entrou no caso e está investigando a situação.

Os procuradores já tomaram conhecimento, segundo documentos, de que um dos principais responsáveis pelo "imbróglio" é o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Foi ele quem decidiu rescindir unilateralmente o contrato da Cinemateca no ano passado.

Também foi ele que encerrou o contrato do ministério da Educação com a TV Escola. Num caso grosseiro de desinformação, Weintraub achava que a concessão e a marca da TV Escola pertenciam ao governo federal.

Seu plano era entregar a TV para "olavistas". Mas, depois que expulsou os funcionários da Roquette Pinto do ministério, ele descobriu que nome e concessão pertencem à fundação.

SP salva Cinemateca

A situação piorou em Brasília quando Frias e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, souberam que a Prefeitura de SP, gestão Bruno Covas, e a Câmara Municipal de SP, haviam decidido ajudar a manter o acervo e pagar as contas atrasadas.

Assim como Bolsonaro, eles também acreditam que há um "complô" do governador João Dória Jr. e o prefeito Bruno Covas para prejudicar o presidente de qualquer forma. E que ajudar a Cinemateca foi uma das formas encontradas.

O acervo da entidade corre risco de incêndio por estar sem sistemas de segurança, sem bombeiros e com ao menos um gerador falhando —e, claro, por ter uma quantidade gigantesca de material inflamável.

Como esta coluna antecipou hoje com exclusividade, a Prefeitura de SP já está pagando as primeiras contas e planejando ajudar a reativação do complexo e a volta dos funcionários.

Isso causou ainda mais revolta junto aos "olavistas" em Brasília, que ainda controlam parte das secretarias de Cultura, do ministério da Educação e do Turismo.

A prefeitura de SP está dando ajuda à Cinemateca por meio da SPCine, órgão criado em 2015 pela gestão Fernando Haddad (PT), que facilita o desenvolvimento da indústria audiovisual e, São Paulo.

Como a Cinemateca está em São Paulo e se trata de patrimônio histórico e cultural, nada impede que prefeito e vereadores façam ações municipais" para manter a instituição em pé. E em segurança.

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