Análise: Aos 70 anos, TV aberta no Brasil não cria, só copia
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Até o próximo dia 30 o Splash vai publicar textos especiais para marcar a efeméride de 70 anos de TV aberta no Brasil.
Como sempre atrasado, o Brasil estreou a TV em 1950 —cerca de duas décadas depois da primeira transmissão da BBC, no Reino Unido.
Ela completa aqui 70 anos ainda como o principal veículo de comunicação do país, isso é fato: ainda é relevante e o principal veículo do grande anunciante do país.
Mas, até quando?
Pergunto isso porque parece que a TV já se "aposentou" 20 anos atrás.
Desde os anos 2000, pelo menos, as emissoras passaram a criar cada vez menos.
Talvez não seja por acaso que esse longo período de ócio criativo comece com a compra do reality "Big Brother" pela Globo, pela primeira vez, no início dos anos 2000.
Desde então a compra de formatos "pré-fabricados" virou a regra.
Tudo chega prontinho, basta aquecer. Como comida para "microondas".
Nada se cria...
De programas de entrevistas a competições de cantores; das mesas redondas aos realities tolos e primários, as TVs abertas preferem hoje comprar tudo com fórmula, ao invés de colocar dois ou três executivos para pensar.
Já perguntei a vários diretores de TV nos últimos anos: "Por que vocês compraram o reality X se isso é igualzinho ao quadro que fulano exibia nos anos 80?"
A resposta comum é: "Ah, mas eles já têm a tecnologia toda pronta, os quadros, as ideias para cenário!"
Nossa, que trabalheira deve ser criar meia dúzia de quadros e um cenário, costumo responder com certo desdém.
A única outra explicação que eu teria seria bem mais capciosa: "alguéns", que não as TVs, devem estar ganhando muito dinheiro com essas compras e vendas de formatos, que, convenhamos, em muitos casos são verdadeiros fracassos comerciais.
Até tu, novela?
Até mesmo as novelas da Globo, que sempre foram aclamadas como um mundo de excelência à parte, estão perdendo seu poder hipnótico (e ibope) há anos.
Basta ver quantos "bebês foram trocados" nas tramas nas últimas décadas.
Há 20 anos novelas davam 50 pontos de ibope. Hoje, quando chegam a 30 já abrem champanhe no estúdio.
Um motivo para tudo?
Minha opinião é que diretores da TV aberta brasileira, de forma geral, passaram as últimas décadas parados no tempo, sonhando com um passado de glórias que não existe mais, ou com um futuro promissor irracional.
A resposta já veio na queda de relevância e na audiência da TV aberta, como demonstrou esta coluna em números de ibope em julho deste ano.
Tudo se copia
Se não reagir, ainda há um outro concorrente que pode enterrá-la de vez nos próximos anos: o streaming.
Hoje os serviços de streaming já têm mais ibope que SBT, Record ou que todos canais da TV paga somados.
Se antes a TV aberta se gabava de não perder audiência para a TV por assinatura, hoje os telespectadores e famílias das classes B, C e D estão migrando em massa, e alegremente —em horário nobre— para a Netflix, a Amazon e, em breve, para a Disney.
É preciso ser muito tolo ou cheio de um otimismo "vazio" para acreditar que essa tendência vá se inverter daqui em diante.
Não vai. O caminho é sem volta
Se continuar a dormir, a TV aberta vai cada vez perder mais audiência, relevância e vai acabar trocando o pijama pelo cemitério da mídia.
Não adianta só apostar em torneios de futebol ou formatos de reality show britânicos, holandeses, sul-africanos etc.
Falta conteúdo brasileiro, isso sim.
Apenas comprar formatos prontos em detrimento do processo criativo interno tem vários efeitos colaterais daninhos. Entre eles a atrofia.
Mexa-se, velhinha!
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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