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Ricardo Feltrin

Análise: Acordo no streaming é bom para Globo e ótimo para Disney

Serviços de streaming Globoplay e Disney+ podem ser adquiridos num só pacote - Reprodução / Internet
Serviços de streaming Globoplay e Disney+ podem ser adquiridos num só pacote Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

06/11/2020 02h16

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A Globo surpreendeu a mídia brasileira na última terça (3) ao anunciar uma parceria na oferta de "combos" mútuos Globoplay e Disney+.

Antes mesmo de o Disney+ (Disney Plus) entrar no ar no país (dia 17), o Grupo Globo já anuncia o valor das mensalidades dos dois serviços unidos.

Serão R$ 37,90 por mês (só streaming Globoplay & Disney+); ou até R$ 59,90 no caso de inclusão dos canais da Globo ao vivo no pacote.

Tem razão quem acha que a Globo vai se beneficiar muito desse acordo.

A parceria com um dos maiores estúdios e produtores de conteúdo do mundo obviamente só traz vantagens para o grupo nacional, cujo acervo e produção também têm nível de excelência.

Mas, engana-se redondamente quem não enxergar que a Disney também sairá ganhando, e muito.

Por quê?

Embora tenha renome e público mundial, com esse acordo a Disney passa a ter visibilidade e acesso potencial a milhões de usuários que têm APP da Globoplay baixado (são cerca de 15 milhões de brasileiros que instalaram o aplicativo, estima-se; não confundir com assinantes).

Além desses, há outros 4 milhões (também estimados) de assinantes de fato do serviço do Grupo Globo.

Então a Disney já chega ao país com vantagens.

Além da certeza de um público orgânico (formado por fãs do estúdio) ela pode atrair:

1 - Pessoas que hoje não assinam, mas acessam algum conteúdo da Globoplay, e que podem agora com essa oferta "plus", da Disney, decidir enfim assinar ambos serviços; nesse caso seria bom para as duas partes;

2 - Os estimados 4 ou 5 milhões de assinantes do Globoplay, que podem ficar tentados em pagar mais alguns punhados de reais e ter também o fabuloso inventário Disney, Pixar, Star Wars etc. Nesse caso, ótimo negócio para a Disney.

Por fim, a parceria abre (ainda mais) as portas na Globo para a publicidade dos produtos Disney (inclusive o serviço de streaming, claro).

Notem: ser parceira e "amiga" corporativa da maior emissora e líder de audiência num país com 210 milhões de habitantes não é pouca coisa. Não há muitos países desse porte dando sopa no mercado mundial, por mais dinheiro que a Disney tenha em caixa.

Mas, há bem mais coisas em jogo: há ainda o simbolismo de uma parceria corporativa desse porte, e neste momento.

Ok, eu sei, Globo e Disney já são associadas desde os anos 70 (quem lembra da sessão "Disneylândia", aos sábados?)

Mas, o novo acordo abre portas para futuras negociações bilaterais, coproduções em cinema, troca de conteúdo esportivo, ou, quem sabe até, uma parceria/sociedade futura em TV aberta.

Bem, por que não? Afinal, os dois grupos estão livres e desimpedidos.

Além disso a legislação midiática está em vias de mudanças no Brasil, e tudo indica que todos os grupos —nacionais e estrangeiros— podem ser muito beneficiados no curto e médio prazos.

Apenas para registro: hoje, se uma TV aberta quiser vender uma fatia para uma empresa estrangeira, há o limite de 30%. Nada impede que essa porcentagem aumente com a mudança da legislação no Brasil.

Globo gigante

Outro dado divulgado mostra não só o tamanho do investimento, mas também da "fé" que o Grupo Globo está colocando em streaming: a empresa anunciou que serão gastos R$ 1,4 bilhão no próximo ano somente no Globoplay.

Isso representa bem mais do que o faturamento anual do SBT, por exemplo. É o equivalente a quase "quatro" Bands.

Claro que esse valor ainda não chega aos pés do que a Globo gasta anualmente em produção na TV aberta e nos canais pagos (uns R$ 10 bilhões).

Mas, prova mais uma vez que a Globo continua a anos-luz da concorrência, e planejando seu futuro em longo prazo, passo a passo, e não com imediatismo.

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