Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O último fim de semana foi marcado por um bate-boca digital entre o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e jornalistas, no Twitter.
Durante a discussão, Faria foi provocado: em vez de ficar batendo boca com jornalistas, por que não "cumpria" a promessa de seu chefe, Jair Bolsonaro, de fechar a TV Brasil, emissora pública que dá traço de ibope?
Visivelmente irritado, Faria respondeu que, antes, precisaria arrumar um comprador disposto a investir "numa TV que deixa R$ 550 milhões de prejuízo por ano".
A coluna foi atrás das informações, apurou e descobriu que o ministro está errado e ao mesmo tempo certo.
1.879 funcionários
Na verdade, R$ 550 milhões é o orçamento total da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e esse montante paga seus 1.879 funcionários concursados e nomeados (cargos de confiança), além de alguns prestadores de serviço terceirizados.
A TV Brasil sozinha custa por volta de R$ 412,5 milhões (75% do total orçamento).
Para efeitos de comparação, esse é o valor aproximado que uma TV aberta comercial e antiga, como a Band, fatura anualmente.
O que espanta, porém, é que, desse total de R$ 550 milhões orçados para a EBC, quase R$ 400 milhões (exatos R$ 378,4 milhões) são só em salários.
O custo operacional de toda a empresa é bem menos da metade do custo só em salários.
Prejuízo líquido
A EBC também diz ter receitas, embora na internet esse dado hoje esteja vedado ao público comum.
A maioria do dinheiro arrecadado pela EBC em publicidade tem origem governamental ou estatal, mas também há vendas de conteúdo e parcerias. A TV Brasil vai ao ar de forma compulsória.
A lei do seAC (serviço de Acesso Condicionado) obriga as operadoras colocar em seu menu dois canais do Executivo. No caso, TV Brasil 1 e 2 (ex-NBR). Com isso, o Executivo acaba sendo obrigado também a reservar um orçamento para cumprir a obrigação.
Segundo a presidência da EBC, entram outros R$ 200 milhões em verbas oriundas da CFRP (Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública).
Quem paga essa contribuição são as empresas brasileiras de telecomunicação (operadoras Claro, Tim, Oi etc.).
Nesse caso específico, como a TV Brasil mostrou até hoje pouquíssima utilidade pública palpável, tem um ibope beirando o traço, um jornalismo inexpressivo e, desde a fundação, tem, por preocupação aparente, mais acomodar jornalistas e funcionários apoiadores deste ou daquele governo e menos servir ao público, então o ministro Faria está certo: são de fato R$ 550 milhões anuais de "prejuízo" ao país.
Outro lado
Por meio de sua assessoria, a direção da EBC confirmou todos os valores listados nesta coluna (veja ao final deste texto quanto a EBC custou aos cofres públicos neste e nos últimos seis anos).
Uma TV sem público
A TV Brasil foi lançada em 2007, no segundo mandato de Lula, e seu idealizador foi o então ministro das Comunicações, Franklín Martins.
Desde o dia que foi ao ar até hoje, a emissora nunca deu nem sequer um ponto de ibope.
Um dos motivos é que sua grade de programação sempre foi confusa, errática e desinteressante.
Nos primeiros anos a TV Brasil até produzia algum conteúdo exclusivo, mas, com o passar do tempo, passou quase que apenas a reproduzir programas comprados ou "emprestados" em parceria por emissoras como a TV Cultura.
Hoje a TV Brasil virou "duas": o governo Bolsonaro transformou a NBR —antiga emissora governamental e dedicada apenas a propagandear os atos do Executivo— na TV Brasil 2.
Durante a campanha eleitoral, em 2018, Bolsonaro prometeu várias vezes que iria "fechar" ou vender a emissora.
Na verdade, desde que tomou posse Bolsonaro vem aparelhando a TV Brasil com aliados e até filhos de aliados.
Ou seja, faz a mesma coisa que criticava no PT.
Veja quanto custa a EBC por ano aos cofres públicos:
2015 - R$ 560 milhões
2016 - R$ 595 milhões
2017 - R$ 603 milhões
2018 - R$ 678 milhões
2019 - R$ 549 milhões
2020 - R$ 540 milhões
2021* - R$ 550 milhões
*estimativa
Fonte: EBC (Empresa Brasil de Comunicação)
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.