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Ricardo Feltrin

OPINIÃO

Opinião: BandNews TV faz 20 anos com ibope baixo, mas qualidade alta

 Thays Dias, Carla Bigatto e Nelson Gomes, jornalistas da equipe da Band News TV - Divulgação/BandTV
Thays Dias, Carla Bigatto e Nelson Gomes, jornalistas da equipe da Band News TV
Imagem: Divulgação/BandTV

Colunista do UOL

19/03/2021 04h05

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Até parece que foi ontem, mas o canal pago BandNews comemora hoje 20 anos. E são duas décadas de bons serviços prestados ao jornalismo e ao telespectador.

O slogan de lançamento da emissora era "muito mais notícia" e combinou perfeitamente com a linha editorial escolhida pelo Grupo Band.

Apesar da modéstia de sua redação em relação à GloboNews (cinco anos mais velha), Record News (seis anos mais nova) ou a recém-criada CNN Brasil (2020), a BandNews sempre optou pelo "hardnews" 24 horas por dia —a notícia quente, os boletins informativos dia e noite.

Mais notícia, menos 'pitaco'

Desde sempre a emissora teve muito mais noticiário em tempo real —e conciso— que suas congêneres, que apostam numa maior diversificação de conteúdo, com programas longos ou debates (muitas vezes diários e não raro pouco aproveitáveis).

Não que a emissora da família Saad não tenha certa variedade em sua grade. Tem, sim, mas, diferentemente das outras, há muito mais informação que opinião.

Para quem gosta do chamado jornalismo puro, a BandNews definitivamente é uma opção certa na TV por assinatura.

Já em seu primeiro ano de vida ela passou pelos piores testes de fogo que o jornalismo poderia apresentar: o sequestro da filha de Silvio Santos; seguido pelo dia em que o próprio Silvio virou refém do sequestrador dentro de sua casa no Morumbi.

Pouco mais de uma semana depois veio o 11 de setembro, fato que mudou o mundo para sempre.

Em seguida veio a vingança dos EUA com a guerra do Afeganistão e a caçada a Osama Bin Laden.

A emissora noticiosa do Grupo Band mostrou que era um veículo à altura de sua missão. Foi aprovada com louvor já em seu primeiro ano.

Boechat & Simão

Não é possível esquecer que, nesses 20 anos, a BandNews teve um conteúdo inimitável e que proporcionou ao telespectador brasileiro os minutos diários mais hilários de qualquer outra TV noticiosa: as entradas diárias do saudoso Ricardo Boechat (1952-2019) com o humorista José Simão.

As entradas ao vivo eram feitas diretamente da BandNews FM, em São Paulo, de onde Boechat conversava por telefone com o (brilhante) humorista todas as manhãs.

Trechos do quadro, que contava ainda com as participações de Eduardo Barão, Carla Bigatto, Luiz Megale e quem mais estivesse na redação, eram replicados diariamente na programação do canal pago.

No meio de tantas más notícias, esse quadro deixou sua marca na história da TV e da rádio brasileira.

A química entre o âncora Boechat e o humorista Simão, além da equipe da rádio, se tornou algo inesquecível, e que faz muita falta.

Jamais houve —e dificilmente haverá— algo tão engraçado numa TV ou rádio dedicados às notícias.

Nem tudo merece elogios

De defeitos evidentes, a BandNews TV apresenta uma cobertura fraquíssima de macro e microeconomia, assim como do mercado de ações.

Seu acompanhamento sobre o que acontece no mundo empresarial também é tacanho, o que inclui algumas entrevistas "amigáveis" demais, que podem ser consideradas "chapas-brancas" até.

O telespectador que quer ficar por dentro do que vai acontecer ao seu próprio bolso não tem na TV do Grupo Band uma aliada. Eis um ponto a se corrigir nos próximos aniversários.

Qualidade alta, mas ibope baixo

No ano da pandemia, que ainda estamos vivendo, a emissora também tem feito um ótimo trabalho, sem dever absolutamente nada a suas concorrentes.

Ela traz uma cobertura correta, informativa, com entrevistas bastante relevantes com especialistas em saúde e, principalmente, sem deixar de lado a característica inata e de nascimento —da informação em tempo real, o tempo todo.

Ainda assim, 20 anos depois de sua primeira transmissão, a BandNews TV segue com um ibope muito baixo. Em muitos meses ela não fica nem sequer no ranking dos 30 canais pagos mais vistos no país.

Por exemplo, foi ultrapassada sem qualquer dificuldade pela CNN Brasil desde o dia da inauguração desta última. Também jamais fez nem cócegas na audiência da líder GloboNews.

Parte disso é a força do hábito do telespectador brasileiro, é claro, mas outra parte se deve obviamente ao pouquíssimo investimento publicitário que a direção do grupo faz de sua (ótima) emissora noticiosa. Aliás, "ótimas": isso vale para a rádio também.

Talvez a saída seja a fusão e sinergia cada vez maior da TV com a BandNews FM, que desde seu surgimento, em 2005, está entre as melhores rádios brasileiras, e com a própria Band aberta, que conta com um dos melhores e mais sérios jornalismos do país.

Tudo indica que isso já começou a ocorrer. Talvez esse seja o futuro tanto do rádio quanto da TV, além das outras plataformas que estão chegando.

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