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Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Exclusivo - Governo federal vai lançar mais um canal de TV

Presidente Jair Bolsonaro disse que ia acabar com "a mamata" na TV pública - REUTERS
Presidente Jair Bolsonaro disse que ia acabar com "a mamata" na TV pública Imagem: REUTERS

Colunista do UOL

06/07/2021 00h18

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O governo federal vai lançar nas próximas semanas mais um canal de TV. A estimativa inicial é que ele possa custar entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões anuais. A verba sairá do MEC (Ministério da Educação).

Por meio de sua assessoria, o Ministério da Educação confirmou ontem à coluna o plano de lançamento do novo canal.

O MEC, no entanto, nega que será gasto o montante previsto acima, mas não informou valores (veja íntegra da nota ao final deste texto).

Um canal às pressas

O projeto está sendo feito a toque de caixa pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação), hoje responsável pela TV Brasil 1 e 2 (antiga NBR), além de rádios e sites como a Agência Brasil.

Quem está cuidando do projeto desse novo canal é mais um militar: coronel Roni Pinto, diretor-geral da EBC, mas que na prática se tornou o manda-chuva da estatal —apesar de o presidente da EBC ser Glen Valente.

Curiosamente, o coronel Pinto está lá desde as gestões petistas.

A coluna passou a semana passada tentando entrar em contato com a assessoria da EBC e a TV Brasil. Apesar dos e-mails enviados e do contato feito, a EBC não se manifestou até a publicação deste texto.

TV Brasil deixará de ser HD

O novo canal será uma subdivisão do sinal da TV Brasil. Desde a implantação do sistema digital e do HD, os canais de TV (abertos) podem —em tese— serem subdivididos em até 4 diferentes canais.

A vantagem é ter mais "plataformas" de exibição, a chamada "multiprogramação". A desvantagem é a perda da qualidade HD.

O novo canal é mais um passo no "projeto" governamental do chamado "homeschooling", ou educação em casa (pronuncia-se "roume´sculin").

Alguns canais, como a TV Cultura, já fizeram testes com a subdivisão do sinal. TVs comerciais também têm feito isso em algumas regiões do país.

Embora ainda não esteja devidamente regulamentada em lei, a prática não é considerada ilegal (assim como a venda de horários de programação para igrejas, por emissoras comerciais).

"TV Olavo"

O novo canal do governo (ainda não tem um nome definido), mas a ideia é que seja dedicado à educação e principalmente às "teleaulas".

Nos bastidores, porém, a nova emissora vem sendo chamada jocosamente de "TV Olavo".

Isso porque é certo que boa parte de sua programação seja dedicada a conteúdo 100% pró-governo, "conservador" e "cristão" —fornecido possivelmente, em boa parte, por seguidores do "guru" do bolsonarismo, Olavo de Carvalho.

Calote na TV Escola

Enquanto investe dezenas de milhões de reais em um novo canal "educativo", o governo federal ainda mantém o calote milionário na TV Escola, cujo contrato foi rescindido unilateralmente pelo ex-ministro Abraham Weintraub, em 2019 —e cuja programação é uma das melhores do país (senão a melhor).

Desinformado, Weintraub chegou a expulsar das dependências do MEC funcionários da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), responsáveis pela TV Escola.

Seu objetivo era aparelhar a emissora com funcionários e programação "olavista" (provavelmente o que será feito agora).

Só não deu certo porque o desinformado Weintraub achava que o nome e a concessão pertenciam ao governo. Ele se "surpreendeu" ao saber que na verdade ambos pertenciam à Acerp.

E a mamata, Jair?

É mais uma quebra de palavra e descumprimento de promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro.

Em 2018 ele prometeu acabar com a "mamata" e com a TV Brasil —apontada como um cabide empregos petista.

Hoje virou um "cabide" de militares, filhos de militares e outros apaniguados bolsonaristas.

A TV Brasil custa R$ 550 milhões anuais, dos quais quase R$ 400 são só em salários.

Desde sua criação, em 2007, no governo Lula, ela dá o chamado traço de ibope.

Nota-se, portanto, que a mamata não só não acabou como está cada vez mais parruda.

Outros lados

A EBC não respondeu às perguntas desta coluna sobre o novo canal. Foram enviados dois e-mails cobrando e a coluna ainda entrou em contato com funcionários da EBC, alertando sobre o envio.

Fala o MEC

Por meio de sua assessoria, o MEC enviou a seguinte nota à coluna:

"O Ministério da Educação informa que está em fase final de negociação com a EBC um contrato de um novo canal de TV público. Neste novo contrato serão atendidos projetos educativos, além de diversos outros serviços.

A pasta ressalta que essa é uma iniciativa desta administração e que o objetivo é economizar, racionalizar e melhorar os processos de gestão.

O valor que está sendo negociado é muito abaixo do informado (notada coluna: estimado) pelo UOL. Atenciosamente, Ascom/MEC."

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