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Após anos de expectativas e agruras no meio do caminho nasceu ontem "oficialmente" a TV Jovem Pan News.
Estreou apenas nas operadoras da TV paga e na parabólica (já podia ser acessada antes pelo aplicativo Panflix).
O grande revés é que a emissora deveria ter estreado também em sinal aberto, na antiga frequência da MTV (atual canal Loading).
O problema é que uma pendenga jurídica suspendeu as pretensões de Tutinha, o dono da Pan, de ocupar o canal aberto. Não há prazo previsto para uma solução.
Do ponto de vista de conteúdo, não há muito o que comentar.
A JP News é sabidamente um veículo governista e abriga alguns dos personagens mais pitorescos (e até risíveis) do jornalismo e entretenimento nacional.
Para o telespectador comum, é como se existisse uma rinha interna para ver quem é o comentarista que mais defende e bajula Jair Bolsonaro.
Mesmo os ditos jornalistas "discordantes", enfiados no meio da conversa para tentar "rebater" o "chapa-branquismo" que jorra da tela, têm pouca ou nenhuma segurança no que falam. Pisam em ovos, literalmente.
Até mesmo a picuinha do dia da estreia —a saída abrupta de Bolsonaro de uma entrevista ao "Pânico" após uma pergunta sobre a "rachadinha" familiar— soou farsesca.
Semana que vem ou no mais tardar na outra, o irritadiço presidente já deve estar lá de volta para outra entrevista "exclusiva". Ali ele sabe que está em casa e cercado de apoiadores.
Problemas de imagem
Tirando o conteúdo para lá de previsível, a TV JP tem outros problemas estruturais que precisarão ser resolvidos —a menos que estejam querendo reinventar a roda das comunicações de massa (ou de massinha, nesse caso).
A TV está com imagem escura; a iluminação de estúdio é difusa, acinzentada e alguns cenários têm reflexos amadores de vidros poluindo a "tela".
Em um determinado momento, nesta quarta (27), repórteres e produtores que apareciam (sic) ao fundo na redação-cenário se assemelhavam a vultos ou seres inorgânicos dos contos sombrios de xamanismo.
É um erro técnico ou óbvia má escolha na intensidade das duas iluminações: a anterior e a posterior. Se fosse no cinema poderíamos dizer que a "fotografia" do filme estava ruim.
Em outro quadro, os comentaristas convidados pareciam estar meio degrau abaixo que os âncoras, o que tornou tudo mais esquisito visualmente.
Ah, e falando neles —os âncoras—, o enquadramento também está infeliz: alguns parecem deslocados no cenário, quase desajeitados. É um problema de quem "olha" pela câmera, mas chega ao telespectador.
Graficamente, a TV JP também tem um déficit de personalidade: a vinheta "ao vivo" é repetitiva, confusa, pouco informativa, poluída visualmente e certamente deverá sofrer mudanças (ocorreu o mesmo com a CNN Brasil, a propósito).
Outro problema muito mais estrutural pode ser visto nas fotos de divulgação do canal, divulgadas à imprensa: pelo jeito, para a "nova" emissora, só existem jornalistas "brancos caucasianos" no mundo.
Sim, não é fácil
Importante lembrar humildemente que não é fácil montar uma TV, e que a quantidade de variantes técnicas, de luz e de enquadramento —sem falar nas pessoas— são uma dor de cabeça praticamente eterna. Mas, quem se propõe a fazê-lo, sabe dos riscos.
Enfim, para um veículo que se gaba de estar cobrindo as "hard news" desde 1942, e que há tempos se preparava para lançar sua própria TV, foi uma estreia consideravelmente decepcionante.
Curiosamente, por outro lado, foi 100% previsível.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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