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Como o UOL publicou ontem, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) encontrou um "malware" (programa espião e ladrão de dados pessoais de usuários) em uma TV box HTV -o modelo de equipamento pirata mais vendido no Brasil.
Esta coluna já havia antecipado essa possibilidade quatro anos atrás, após entrevistar especialistas.
Os engenheiros e técnicos da Anatel descobriram que manipuladores remotos do equipamento podem invadir o wi-fi, o roteador e ter acesso a todos os dispositivos ("devices") usados na residência onde ele foi instalado.
Isso significa que quem instalou o "malware" no aparelho pode ter acesso a registros financeiros, senhas bancárias e outros dados pessoais.
A TV Box é comprada por milhões de brasileiros e esse tipo de equipamento fez a pirataria triplicar no Brasil, que não por acaso é o país que mais consome conteúdo ilegal por IPTV no mundo, segundo pesquisas.
Para se ter uma ideia do tamanho da pirataria brasileira, basta dizer que o número de usuários desse "pseudo serviço" já se aproxima do total de assinantes regulares da TV paga.
Argumentos hipócritas
A pirataria de sinal de TVs (e agora de streaming) é tão velha quanto a própria TV por assinatura no país.
"Ainnn, mas se as operadoras cobrassem menos, as pessoas não precisavam comprar box TV pirata."
Nos últimos 25 anos em que venho cobrindo TV e mídia, esse é o argumento hipócrita que mais ouço ou leio sempre que eu ou meus colegas de profissão publicamos algo sobre o assunto.
Seria preciso ser parvo, ingênuo ou apenas burro mesmo para acreditar ou levar a sério esse tipo de argumento.
Esses milhões de brasileiros fazem pirataria porque -vamos dizer a verdade crua-, no fundo não são nada diferentes dos políticos que tanto criticam: espertalhões, oportunistas e sempre prontos para levar vantagem em tudo, nem que seja por meio da ilegalidade.
Pirataria para não pagar R$ 9,90 mensais
É um argumento tão oco que não se sustenta nem por um segundo sequer. Basta olharmos a realidade atual.
Primeiro porque se criticam a TV por assinatura por seu preço, a nova "moda" dos ilegais agora é piratear conteúdo de serviços de streaming que chegam a custar apenas R$ 9,90 por mês.
Em servidores localizados em outros países, eles armazenam todo o conteúdo baixado desses serviços, que levaram anos -e uma fortuna- para criar e montar um respeitável acervo.
Além disso essas pessoas, quando não podem ter outros tipos de benesses, como um carro importado ou beber um uísque "single malt" envelhecido 50 anos, não as vemos invadindo concessionárias da Ferrari ou supermercados e lojas de bebidas para furtar produtos e saciar seus desejos.
Elas sabem que serão perseguidas e presas.
Aí que está: o (relativo) anonimato e a (quase) certeza de impunidade dão a "coragem" necessária para fazer algo ilegal.
Essas pessoas estão furtando não só um sinal de TV ou conteúdo de streaming.
Estão furtando o trabalho de milhares de profissionais: autores, roteiristas, produtores, técnicos, iluminadores, maquiadores, pessoal de limpeza. Estão furtando direitos autorais consagrados.
Risco de prisão
Essa impunidade agora começa a ser ameaçada, pois uma série de países ao redor do mundo, polícias federais e entidades no Brasil como a ABTA (Associação Brasileira de TVs por assinatura) e serviços de streaming decidiram entrar de cabeça na briga.
E nos últimos anos o cerco está atingindo judicialmente até "youtubers" que "monetizam" seus canais ensinando as pessoas como fazer pirataria com seus aparelhos ilegais (não sancionados pela Anatel).
Vejam, ter um aparelho de IPTV (Internet Protocol Television) não é ilegal e há vários aprovados pela agência. Mas, obviamente, em número muito menor que os ilegais.
E, se por acaso, você for flagrado com um funcionando em sua casa, pode ser processado. Diante das autoridades o argumento "ainnn, mas o serviço legal cobra muito caro", definitivamente não vai colar.
Enxugar gelo
O "malware" descoberto pela Anatel numa TV Box pirata é um veneno a mais nessa poção e talvez sirva para acordar muita gente para o fato de que colocou uma arma contra si e sua família dentro de casa, e por livre arbítrio.
Mas a maioria, obviamente, vai continuar presa a seu autoengano com suas justificativas sem fundamento.
Muita gente diz que combater a pirataria é como enxugar gelo.
Concordo, e parece ser não um gelo, mas iceberg de incivilidade. Só que as autoridades terão que enxugá-lo para sempre. Em nome da civilidade, das leis, e da profissão de milhões de profissionais e de empresas e marcas que investem nisso
Usar boxes de TV ou aplicativos para piratear sinal e conteúdo alheio é crime. Ponto.
Quer continuar? Cedo ou tarde você sairá prejudicado. Seja pela lei, seja pelos criminosos que roubam seus dados. É por sua conta e risco, brasileiro.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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