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Desde que nasceu, em outubro do ano passado, a TV Jovem Pan News deixou claro que seguiria exatamente o mesmo rumo da rádio do grupo: 99% de governismo, "chapa-branquismo" e um elenco de tietes de Jair Bolsonaro.
Os comentaristas são os "alecrins dourados" de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, 67 anos, dono do veículo.
Estão ali alguns dos autoproclamados "intelectuais" ou "analistas" da direita brasileira. Os que comungam do mesmo apoio fanático ao governo que o patrão Tutinha. Com esses, ninguém mexe.
Entre eles estão Rodrigo Constantino, Ana Paula do Vôlei, Guilherme Fiúza e Adrilles Jorge.
Este último é aquele que foi demitido, só que não, como esta coluna antecipou com exclusividade na semana passada.
Ele já voltou ao ar nesta segunda (28), no programa "Morning Show".
De novo!
Assim como fez com Constantino em 2020, "demitido" de mentirinha da rádio depois de uma fala absurda sobre estupro, a JP novamente deixou "vazar" que havia demitido Adrilles, após ele ter feito um gesto considerado nazista ao vivo na TV.
A reação de comunidades judaicas, laicas, a explosão de críticas, xingamentos ao envolvido e sua emissora nas redes sociais, e, principalmente, a ameaça de fuga de alguns patrocinadores (que já não são muitos, acrescente-se) fizeram a empresa simular a punição.
Por que simular? Simples. Porque, como empresário veterano da comunicação, Tutinha conhece muito bem o mercado publicitário e o país.
Ele sabe muito bem que, não só esse setor, mas o brasileiro, de forma geral, parecem ter a agressividade e o apetite por "cancelamento" de um leão, mas a atenção e a memória curtas como a de um passarinho.
"Não é bem assim.."
Adrilles falou com esta coluna e afirmou que jamais fez gesto nazista algum, que era só uma forma de se despedir, que foi mal interpretado e "destruído" pelas pessoas. "Inclusive por conservadores", disse.
É evidente que esse tem sido o "modus operandi" retórico de comentaristas que passam por cancelamento, como Monark, Constantino ou, agora, Adrilles.
"Eu não quis dizer nada disso"; "Fui mal-interpretado"; "Estou sendo vítima de uma injustiça"; Quem me conhece, sabe..." etc. etc. etc.
No caso de Adrilles, o agravante é que não há outras "despedidas" como aquela do "gesto nazista".
E que foi feita justamente após o burburinho e a também "demissão fake" de outro bolsonarista ferrenho, o tal Monark, por parte de um podcast. Sua "recontratação" já ocorreu, inclusive.
O segundo agravante —se é que podemos dizer assim— é que Adrilles está muito longe de ser burro ou parvo. Pelo contrário. Tem uma inteligência muito acima da média. Sabe exatamente e muito bem o que diz, escreve e faz.
Dito isso, fica mais óbvio ainda que o gesto foi apenas um deboche de muito mau gosto.
"Bolhinha"
Deboche que, no caso da JP, já começa no topo do grupo.
Ao se tornar um "porta-voz" do governo, Tutinha fez a maior e mais arriscada aposta em quase 80 anos que o veículo existe (como rádio, internet e agora como TV).
Ele vestiu não a camisa, mas até o tutano (sem trocadilho) do bolsonarismo.
Apagou décadas de bom jornalismo (sim, isso já existiu na Pan), trocou uma programação variada e divertida por uma grade "chatésima" e com o mesmo "nhenhenhém" quase 24 horas por dia e jogou por terra qualquer resquício de credibilidade aos olhos do público e passou a ter zero senso crítico.
A Jovem Pan hoje é uma caricatura do veículo de comunicação que já foi. Opera hoje num nível de sabujismo a Bolsonaro ainda maior que o da Fox News por Donald Trump.
Virou "meme", alvo de piadas e do mesmo deboche que seu dono tem por seus inimigos.
Seus colunistas professam a mesma fé e não estão nem aí para "cancelamentos". Pelo contrário, eles até monetizam isso, seja em canais do YouTube, seja em palestras pagas.
"Jovem Klan", como ironizam na internet. A "Jovem Pano".
Há um preço a pagar
Pano que seus todos carregam com afinco para defender e justificar quaisquer barbaridades, ataques à Constituição, atos desumanos e/ou insanos do atual presidente da República.
Disputam cordialmente quem tem a melhor "retórica" ou discurso em defesa de Bolsonaro. Um concorda com o outro. Um elogia ao outro. Um joga confete no outro.
Mas, tudo isso tem um preço e um risco embutidos:
Preço: A rádio, que já foi um paradigma copiado Brasil afora, perdeu qualquer protagonismo (já a TV nunca foi nada mesmo);
Risco: Se esse governo não se reeleger, o grupo pode enfrentar o pior cenário possível.
Todo mundo sabe que boa parte dos empresários não têm ideologia. Eles têm interesses. Assim como apoiaram Bolsonaro, esse apoio vai virar fumaça no exato segundo que surgir um novo eleito.
Já a TV Jovem Pan News é um curioso caso: parece ter tantos defensores nas redes sociais, mas os números do ibope mostram que não tem público algum (justiça seja feita, CNN Brasil e Band News TV também não têm, mas lhes resta alguma credibilidade).
Ao optar em falar apenas com sua "bolhinha", e de menosprezar sua história e seu público de décadas, ela se tornou uma espécie de TV quântica, onde o visível e o invisível coexistem.
Ou talvez a TV-gato do axioma de Schrödinger, onde o animal está vivo e morto ao mesmo tempo.
Mas, não é possível saber ao certo, já que ninguém está vendo.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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