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No próximo sábado (19), o maestro João Carlos Martins se apresenta no Carnegie Hall, em Nova York, num concerto que celebra sua primeira apresentação na casa como pianista, há 60 anos.
O Carnegie Hall é uma das maiores e mais famosas casas de concerto do mundo. Com estilo renascentista italiano, foi construída há 132 anos a mando do mega-empresário e mecenas das artes Andrew Carnegie (1835 -1919).
Na apresentação de março de 1962, com apenas 21 anos, Martins assombrou os norte-americanos com sua técnica precisa e repertório heterodoxo.
No meio clássico nacional, ele já era conhecido desde ao menos os 15 anos. Quando pisou no palco do Carnegie pela 1ª vez, já era considerado um dos melhores pianistas do mundo.
Poucos anos depois seria considerado também, por um bom período, o maior intérprete de Johann Sebastian Bach no planeta.
Pelada trágica
Em 1967, porém, sofreria o primeiro de muitos graves acidentes e doenças que afetariam suas mãos pelo resto da vida.
Numa manhã daquele ano, de um apartamento em Manhattan, ele viu seu time de coração, a Portuguesa, brincando com bola nos jardins do Central Park.
Como era muito conhecido pelo time, foi recebido para entrar na "pelada".
No meio do jogo, caiu sobre uma pedra que se enterrou na região do tríceps de um dos braços e lesionou de forma permanente ligamentos e nervos.
Também foi vítima da violência e quase perdeu a vida. Em 95, quando terminava de gravar a obra completa de Bach para teclado em um estúdio de Sofia (Bulgária), foi assaltado e agredido na rua com uma barra de ferro.
Ficou em coma, mas se recuperou após alguns meses. Se "recuperou" em termos: a pancada na cabeça afetou de novo, justamente, o movimento das mãos.
25 cirurgias
Desde 1962 até hoje, Martins já se submeteu a 25 cirurgias, na tentativa de retomar a carreira como pianista.
Uma das operações, inclusive, foi feita em 2017 pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer. Nela, Martins foi obrigado a passar toda a operação acordado na mesa, e com a caixa craniana aberta.
Era uma técnica nova, mas não deu muito certo porque qualquer intervenção sempre acaba sendo sobrepujada por outra doença crônica: a distonia focal.
(Nota: foi a distonia um dos motivos que levaram à depressão e ao suicídio de outro gênio das teclas em 2016: Keith Emerson, do trio Emerson, Lake & Palmer).
Luvas biônicas
Impossibilitado de se apresentar nas teclas, João Carlos Martins se tornou maestro no início dos anos 2000.
Nos últimos anos ele voltou a tocar piano, e com os dez dedos, graças a um par de luvas extensoras biônicas, projetadas para ele pelo "designer industrial" Ubiratan Costa.
No sábado, o brasileiro vai liderar a Orquestra Sinfônica de Nova York (Novus NY), com uma programação focada no grande amor musical de sua vida, Bach.
Também está na programação a execução de peças de Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), e também de André Mehmari —provavelmente o mais talentoso compositor erudito do Brasil atualmente.
De Mehmari, Martins vai conduzir a espetacular "Portais Brasileiros nº 2 - Uma Suíte Fantasia".
Concerto: 60 anos da estreia de João Carlos Martins no Carnegie Hall
Onde: Carnegie Hall, Nova York
Quando: Sábado, 19h30 (21h30 horário de Brasília)
Programa: Concertos Brandenburg nº 1 e Nº 3; e "Jesus, Joy of Man´s Desiring" (J.S. Bach); "Bachianas Brasileiras Nº4" (Heitor Villa-Lobos); "Portais Brasileiros nº 2 (Cirandas), A Fantasy inspired in Brazilians traditions" (André Mehmari).
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