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Praticamente ninguém sabe: no último trimestre do ano passado, uma das maiores grifes de jornalismo no mundo esteve a um passo de fechar suas portas no Brasil.
Menos de três anos após sua inauguração, o projeto da CNN Brasil quase acabou de forma trágica, com a demissão de centenas de funcionários e colaboradores.
CNN na UTI: Seria um fiasco sem precedentes na história da marca, o que só não aconteceu porque a aposta foi dar uma espécie de "reset" em tudo que já havia sido feito e acordado fora das "quatro linhas" editoriais.
O diagnóstico de que a emissora estava na UTI foi feito por João Camargo, atual presidente e o terceiro a comandar o negócio no Brasil (depois de Douglas Tavolaro e Renata Afonso, respectivamente).
Gastos irreais
Segundo esta coluna apurou, ao assumir o posto a convite de Rubens Menin (dono da "franquia"), Camargo se desanimou ao checar as receitas e as despesas da CNN Brasil.
Para esse bem-sucedido empresário de comunicações, a planilha de gastos que lhe foi apresentada era irreal diante da situação que o país, a economia e o mundo atravessavam.
"Reset": Não só os salários eram elevadíssimos para o padrão da mídia nacional; os contratos de prestação de serviços também eram de "arrepiar". As sucursais no Rio e em Brasília eram imensas e caríssimas também. Parecia haver sobreposições de funções em várias áreas.
Por que isso teria acontecido? Bem, segundo especialistas ouvidos pela coluna nas últimas duas semanas, é comum que a instalação de grandes marcas (de qualquer área) em um novo mercado demande gastos e investimentos bem acima do "comum" ou previsto.
Em outras palavras, é mais comum que se peque por excesso do que por falta. E isso vale ainda mais no caso de uma grife do porte da CNN.
Porém, depois de um ano já seria possível iniciar o "ajuste" entre necessidade e demanda. Em outras palavras: iniciar os cortes. Só que isso não foi feito, notou Camargo.
Ibope não ajudou
Outro agravante era que o ibope da emissora, após mais de dois anos, não decolava. Aliás, não só não decolou, como ainda foi ultrapassada por uma emissora recém-inaugurada e com características mambembes, com custo muitíssimo mais baixo: a JP News.
Lembremos que a "franquia" de Menin estreou no país num momento de decadência da TV paga, em plena pandemia de coronavírus e com concorrentes já assentados, como GloboNews e BandNews.
Portanto, não seria fácil aboletar mais um canal noticioso no mercado brasileiro.
Cortar ou morrer
Só havia duas alternativas para a "paciente" CNN Brasil: 1) fechar as portas; 2) ser submetida a uma "cirurgia" de emergência que lhe permitisse ao menos continuar a viver para tentar levantar da maca de novo.
Alternativa 2: Em menos de um mês, Camargo, 61 anos, novo presidente da CNN Brasil (o cargo de CEO foi extinto), fez os cálculos com seus especialistas.
Planejou os cortes de pessoal e de custos e, principalmente, se preparou para a onda de críticas internas e externas que sabia que iria sofrer quando a "degola" corporativa se tornasse pública. E não deu outra.
O Dia C: No dia 1º de dezembro de 2022, a CNN Brasil cortou de uma só vez mais de 120 funcionários, como esta coluna publicou então com exclusividade.
Dezenas de cargos foram extintos em todos os escalões (vice-presidência, diretorias, gerências etc.). O anúncio provocou um verdadeiro furor nos mercados jornalístico e publicitário.
Contratos renegociados
As demissões acabaram atingindo pessoal à frente e atrás das câmeras.
Nomes como Monalisa Perrone, Sidney Rezende e Glória Vanique já estavam na primeira leva (no caso de Monalisa, seu contrato venceria dias depois e não foi renovado).
Mas, outro grande volume de gastos cortados não estava dentro da CNN Brasil, e sim fora dela.
Eram contratos assinados com prestadores de serviço de ponta, como a produtora Casablanca (operações, switcher, edição, câmeras etc); e com a Paris Filmes (para gravações externas). Eles tiveram de ser "resetados" e refeitos.
Nenhum dos prestadores de serviço se opôs. Afinal, era ganhar menos ou nada.
Foi justamente isso que permitiu à CNN Brasil uma sobrevida.
Sim, sobrevida, porque ainda é cedo para dizer se a paciente já está 100% recuperada.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram, site Ooops e YouTube.
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