Emoções à flor da pele: a brasileira que ajudou a criar as aventuras de "Divertida Mente 2"

"Divertida Mente 2" acaba de chegar aos cinemas brasileiros. No mundo, já arrasta multidões e, só no primeiro final de semana de estreia, rendeu quase US$ 300 milhões em bilheteria, a mais rentável do ano até agora. É também um recorde para uma animação no mercado fora dos Estados Unidos, com US$ 140 milhões em ingressos vendidos nos três primeiros dias. Dentre os que comemoram o já grande sucesso da sequência que ganhou o Oscar de Melhor Animação em 2016, está a carioca Bruna Berford.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Bruna trabalha na Pixar desde 2020 e, no último ano, fez parte da equipe de animadores de "Divertida Mente 2". Para esse segundo final de semana em cartaz, a expectativa é bater US$ 600 milhões - um alívio para Hollywood, que enfrenta desafios para atrair o público para as salas, e uma alegria para a equipe que tem nesse sentimento um dos maiores trunfos do filme.

"A gente era encarregado de fazer toda a encenação, a atuação dos personagens que estavam em cena. Cada animador recebe uma quantidade 'x' de cenas para animar e desta vez conseguimos fazer três sequências diferentes", conta ela à RFI em Emeryville, na Califórnia, nos estúdios fundados por Steve Jobs e que foram comprados pela Disney há 18 anos. "Fiz uma sequência com a Ansiedade, que tem um pedacinho do meu coração. Foi muito divertido fazer, com a Ansiedade e com a Joy, a Alegria. Foi um momento especial poder animar esse personagem que eu tanto queria", disse a brasileira.

Além de "Divertida Mente 2", Bruna trabalhou em outras cinco produções do estúdio, entre elas "Luca" (2021) e "Red: Crescer É uma Fera" (2022). Formada em design gráfico pela PUC-Rio, ela chegou a trabalhar nessa área no Brasil, mas descobriu que queria mesmo investir no mundo da animação.

"Foi um caminho longo. Vim para os Estados Unidos em 2012, meu sonho era trabalhar aqui, mas aí a realidade bateu, com a questão de visto. Trabalhei em outras empresas antes, com outras mídias, com realidade virtual, até que tive a oportunidade de vir trabalhar aqui e não pensei duas vezes", relembra.

"Desde que assisti ao primeiro filme, fiquei impressionada. Amei a forma como conseguiram contar uma temática tão difícil, um assunto pesado e muito abstrato. E você pode contar isso de uma forma divertida, leve, com humor. Então, quando soube que teria 'Divertida Mente 2', disse: preciso trabalhar nesse filme", relata.

Quem senta para ver duas horas de animação não imagina quanto tempo leva para cada cena. Quadro a quadro, essa arte é um artesanato minucioso e detalhado. O talento, muita imaginação e paciência tecem a magia.

"Meus pais brincam comigo dizendo que às vezes eu gasto um mês, um mês e meio para fazer uns 15 segundos de animação", explica.

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Um ode à Ansiedade

No novo filme, que mostra a entrada da personagem principal, Riley, na puberdade, o enredo apresenta novos sentimentos além dos já conhecidos do primeiro filme, Alegria, Tristeza, Nojo, Medo e Raiva. Agora, na adolescência, a menina encontra a Ansiedade, o Tédio, a Inveja, a Vergonha e flashes de Nostalgia.

Pouco depois de começar a trabalhar no longa, Bruna descobriu que estava grávida da primeira filha. "Ela me deu boas referências para a Ansiedade, porque quando a gente anima, a gente tenta gravar referências para deixar a personagem mais crível. Estar grávida, com toda a ansiedade, foi ótimo", brinca.

Em tempos ansiosos no mundo, a trama é uma forma divertida para não só as crianças, mas também os adultos pararem para pensar e avaliar seus sentimentos. Bruna relembra o quanto a pandemia mexeu com a saúde mental das pessoas.

"Virou um assunto de conversa, talvez até um pouco mais aberto do que era antes, com menos tabu. Acho que da forma como demonstramos e trazemos esses conceitos que são abstratos de uma maneira tão leve e divertida, fica mais fácil abrir um diálogo com as pessoas", avalia. "E não é só para adolescentes, mas em qualquer fase da vida, acho que você pode se ver representado neste filme. Acho que é mais fácil abrir um diálogo para conversar sobre o que você está sentindo, qual emoção está controlando sua mente no momento, ou o que você pode fazer para dar espaço para outra emoção", disse a animadora, à RFI.

A filha de Bruna, Victoria, estreou no mundo antes do filme. Quem assistir aos créditos finais poderá ver o nome dela na lista entre os 35 bebês da produção - que inspiraram, acalentaram ou despertaram sentimentos entre os artistas que assinaram a trama.

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