Um mês antes de lançar a TV no Brasil, o empresário Assis Chateaubriand recebeu a visita de um engenheiro norte-americano, diretor da NBC-TV, para supervisionar as primeiras semanas de funcionamento da Tupi, canal que ele inauguraria em 18 de setembro de 1950. Ao chegar, o gringo quis saber: quantos aparelhos de TV já haviam sido vendidos ao povo de São Paulo?
A chocante resposta foi: nenhum!
A história, contada no livro "Chatô: O Rei do Brasil", de Fernando Morais, mostra que a TV brasileira quase estreou sem ter ninguém para assisti-la —a situação acabou sendo revertida por um "jeitinho" de Chateaubriand na época: ele mandou contrabandear 200 aparelhos. Setenta anos depois, há televisores espalhados por todos os cantos do país, mas os desafios agora são outros.
Com a renovação de público e a tecnologia mais acessível, como a TV pode se manter relevante para uma geração acostumada a consumir conteúdo na velocidade que deseja, quando deseja, da forma que deseja? Como manter os índices de audiência e garantir a sobrevivência da sua indústria com um público hiperconectado o tempo todo, habituado a produzir e a consumir conteúdo pelas redes sociais e que tem a tela do celular como companhia constante?
Para muitos, a TV já não faz falta. "Quando um programa específico me interessa, eu o assisto em alguma plataforma digital", afirma o economista Rodrigo Pavan, 37 anos, para quem ter o aparelho de TV em casa deixou de fazer sentido. No lugar, ele usa o notebook e o celular. Ele, como tanta gente, hoje não se chocaria ao ouvir "nenhum" para a pergunta do diretor norte-americano em 1950.
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