'Desi' para os íntimos

No Desiree Swing Club de Curitiba, as mulheres é que comandam a pegação

Jess Carvalho (texto) André Sanches (fotografia) Colaboração para o UOL, de Curitiba André Sanches/UOL

São três da manhã e ela está no pole dance. Com uma expressão séria, quase debochada, desliza de cima a baixo na barra enquanto solteiras e casados giram desnorteados em torno da sua bunda.

Vejo as cordas douradas das sandálias trançadas em suas pernas, o pirulito neon que entra e sai de sua boca e os adesivos de estrela cobrindo seus mamilos. Conversando baixinho, eu e minha amiga invejamos o que chamamos de "vibe de gostosa" —uma energia de quem veste bem o próprio corpo e sabe o que quer.

É o mês mais molhado dos últimos 26 anos em Curitiba e lá fora a chuva é torrencial, mas aqui dentro do Desiree Swing Club, a "balada liberal" mais antiga da capital paranaense, tudo é quente, macio e úmido.

Elas por cima

Com 28 anos de existência, a "Desi", como o estabelecimento é chamado pelos fiéis frequentadores, aposta no protagonismo das mulheres liberais. Ali, são elas que comandam o show —e ditam as regras da casa.

Na visão do dono, Maurício Camargo, o que mantém o negócio vivo há tanto tempo são as mulheres felizes e seguras. "Se vocês não se sentirem respeitadas", diz ele à reportagem do UOL, "não adianta eu oferecer ouro que vocês não voltam".

São nove os seguranças por noite, e homens interessados devem tocar as mulheres nas mãos ou no ombro. Se elas não corresponderem imediatamente, a recomendação é "ter a inteligência" de não insistir. Quem ousa descumprir o código de conduta da Desiree, mesmo pagando, corre o risco de ser mandado embora.

Hotwife de calcinha

À nossa direita, uma esposa dança para o marido só de calcinha, com seus óculos escuros de grau e os cabelos desgrenhados num coque. No centro da pista, há uma loira de meia-idade beijando um homem mais jovem enquanto é encoxada por seu cuckold (marido com fetiche em ser corno). Quando terminam o amasso, ela sorri para o amante e diz "obrigada". Ele assente e se afasta.

Esposas e solteiras desfilam na passarela, exibindo suas curvas exuberantes, cada uma à sua maneira. O clima "alto nível" faz parte da filosofia da casa: pelo dress code da Desi, mulheres devem vestir "roupas de balada" e salto —tênis, rasteirinhas e calças jeans não são "nada comuns", alerta o site do estabelecimento. Aos homens, é recomendado o traje "esporte fino" —bonés, camisetas de time, chinelos, regatas, bermudas e moletons são proibidos.

Casais, solteiras e solteiros são bem-vindos —mas, no caso dos homens, o número de vagas pode ser limitado, a depender da temática da noite. Uma aura de prazer e mistério que envolve o espaço, um terreno de 5.000 m² —sendo 1.200 m² de área construída— no bairro Butiatuvinha, próximo de Santa Felicidade.

Gemidos e voyeurismo

Ao chegarmos, recebemos uma pulseira rosa choque e a informação de que cada uma teria direito a três bebidas de graça ao longo da noite, além da entrada isenta —cortesias que a casa dá para as mulheres solteiras. Casais (parceiros fixos) pagam R$ 100 e solteiros pagam R$ 150, com direito a estacionamento e guarda-volumes gratuitos, além de um double drink.

O proprietário nos oferece um tour pela casa. Ao todo, a Desi conta com 30 cômodos privados e coletivos. Começamos por um dos espaços íntimos coletivos, frequentado por solteiras e casais. Tento prestar atenção à fala de Maurício, descrevendo a dinâmica do local, mas é difícil abstrair os gemidos de um casal que se devora atrás dele, em um dos sofás de couro branco da sala.

Ela é comida de quatro e geme numa frequência que conheço bem: está em êxtase, prestes a gozar. Ele parece gostar de ser olhado de costas, com as mãos no quadril da moça. Antes de seguirmos, o casal se levanta, dá as mãos e some na escuridão do darkroom. Como somos novatas, o dono nos conta que naquele quarto escuro ninguém é de ninguém e recomenda que a gente não entre.

Um pouco à frente, há um aquário para os exibicionistas. Quem está lá dentro não vê o que acontece lá fora e pode manter a porta aberta caso queira companhia. Do lado de fora, é possível assistir às cenas de sexo através do vidro.

'Buracos de glória'

Passamos, também, pelos glory holes —buracos de glória, em tradução livre. São cubículos com buracos por onde os frequentadores colocam o pênis ou os seios para jogo e recebem carícias de quem está do outro lado. Todos estão lotados.

No fim do corredor, há mais espaços íntimos compartilhados e cabines privadas que podem ser alugadas. Elas custam R$ 80 e os usuários podem ficar lá dentro durante minutos, horas ou até mesmo a noite toda. Do outro lado da pista, também existe um darkroom e salas específicas para os solteiros.

Discrição é tudo numa casa de swing. Por isso, é proibido usar celular dentro da Desi, e seguranças e frequentadores estão engajados em fazer com que a regra seja cumprida —dá pra deixar o aparelho no guarda-volumes de graça. Maurício se orgulha de não haver uma foto vazada sequer em quase três décadas.

Comunidade swingueira

As amigas da academia sempre combinavam de ir à Desi, mas Cami, uma paranaense do interior, única filha mulher entre nove irmãos, conta que sentia um misto de frio na barriga e medo de aceitar os convites. Quando finalmente resolveu dar uma chance à casa, gostou tanto que perdeu a saia comprida no meio do salão.

Cami conta que nunca mais quis frequentar baladas comuns. Até seus aniversários passaram a ser comemorados no swing —há cinco anos, ela "ferveu" com tanta intensidade que clientes começaram a perguntar por ela ao dono da Desi, que resolveu contratá-la como gogo girl.

Hoje, Cami é paga para transitar entre o pole dance e a pista, dando "match" entre as pessoas. Outros habitués se ligaram à casa. O chamado "casal tentação" passou por muitas casas de swing até encontrar a Desi, de onde nunca mais saiu. Ela é arquiteta e gosta de mulheres; ele é advogado e adepto do menáge feminino.

A dupla faz parte do grupo de WhatsApp "I Love Desi", que reúne mais de 50 casais apaixonados pelo que chamam de "melhor noite liberal da cidade". Fora das dependências do estabelecimento, eles combinam rolês ao motel e à praia juntos, ocasiões em que bebem, dançam com pouca roupa e se divertem —sem fazer sexo.

Em sua porção coach liberal, Maurício recomenda que os casais não cultivem namorados ou namoradas fixas no swing. Na sua visão experiente, se quiserem manter um casamento longevo e saudável, "figurinha repetida não completa álbum" e o que acontece na Desi deve ficar na Desi.

Serviço
Dias: quartas, sextas e sábados
Valores: R$ 150 para solteiros e R$ 100 para casais
Endereço: R. Brasílio Cuman, 2100, Butiatuvinha, Curitiba (PR)

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