Ser jogador de futebol é uma espécie de bilhete premiado para jovens das periferias de São Paulo. É usando a bola que muitos sonhavam em dar uma casa para a mãe, comprar o carro importado e ser uma celebridade. Mas agora o funk passou a também ocupar esse espaço no imaginário dos garotos e garotas que nascem nos cantos da cidade.
A morte de MC Kevin, aos 23 anos, chocou o Brasil pela forma trágica como ocorreu e pela repercussão. Mas para quem acompanha os números e a indústria do funk de São Paulo, a comoção não foi uma surpresa.
Kevin era uma referência de sucesso para a molecada:
Jovem, subia ao palco para cantar músicas que estavam na boca do povo, tinha condições para comprar o que sempre sonhou, sem abdicar dos prazeres da vida de artista, as noitadas, a diversão.
Para um MC, o funk oferece quase todo o bônus de um jogador de futebol e cobra uma disciplina menor para conquista do sucesso.
Todo esse mercado consegue funcionar fora dos olhos da mídia tradicional e das grandes figuras da indústria fonográfica. São milhões de reais e milhares de empregos gerados no ecossistema que vai desde o produtor musical até a tia que vende cachorro-quente na porta dos bailes.
Porém, o ônus para o jovem pode custar caro. A responsabilidade de ser, muitas vezes, o principal provedor da casa ainda na juventude, estando exposto a uma vida noturna agitada e com responsabilidades que muitos adultos nem imaginam experimentar podem corroer a saúde mental de uma criança.