Gabriel conta que quase desistiram de tocar antes de descobrirem que, na região de Bragança, havia uma cena igualmente de saco cheio da calmaria e empolgada para fazer som próprio. E os rolês aconteciam em chácaras, eventos produzidos na base do "se vira".
A gente fazia show em motoclube para roqueiro velho e desanimava porque eles cagavam para o som. Queriam ouvir 'Born to Be Wild'. Ao procurar lugares, conhecemos outras bandas punk e tocamos com elas em um evento improvisado em uma chácara. Foi a primeira vez que a gente tocou para pessoas que entendiam o nosso som.
Hoje, a região tem um "lugar oficial" para shows de banda de punk como a Sem Valor: o Abbey Roça, um antigo rancho na cidade vizinha de Socorro do pai de Hiro Ishikawa, 36 anos, baterista da Sorry For All. O lugar se se tornou, além de casa de shows, estúdio para gravar bandas — eles fizeram a coletânea "Esquadrão da Roça", com bandas da região.
Hiro e o colega de banda Marcelinho Mantovani comandam o rolê, que chegou a receber 120 pessoas em uma noite (muito antes da pendemia), conta:
Não tinha lugar para tocar punk. Geralmente, era em casa de forró ou na praça, por isso decidimos fazer aqui. A galera do interior não tem muito o que fazer em casa e acaba vindo para ver gente diferente. A galera de outras cidades começou a colar porque achou legal evento no mato.
Gabriel considera o Abbey "um marco" para a sobrevivência de bandas locais. "É uma cena que tem de se ajudar muito. Senão, a galera acaba desistindo", diz o líder da Sem Valor Comercial.
E é com tesão pelo som e muito "corre" para fazer acontecer que bandas continuam criando som e alimentando cenas como as de Bragança, São José, Belém e Marabá.
Seja no Abbey Roça, no Cafofo ou online, o punk vive também fora dos centros urbanos. Hiro resume:
Música punk é para desafiar o status quo, por isso sempre vão matá-la, e ela sempre vai ressuscitar. Sempre vai existir um jovem revoltado, não muito talentoso, para fazer seu protesto barulhento.