A impressão é de que Ayrton Senna nunca errava. O piloto bateu? A culpa foi de algum concorrente. O brasileiro perdeu uma corrida para Prost? Surgia o discurso do vilão que pontualmente superava o herói. Senna era uma figura "quase santificada", diz Flavio Gomes, que cobria Fórmula 1 pela Folha de S.Paulo.
Mesmo introvertido, o paulistano também se destacava pela forte presença na mídia. A conhecida amizade com Galvão Bueno e o namoro com Xuxa, por exemplo, tornaram Senna ainda mais popular —e heroico— na visão do público brasileiro. Esse cenário é retratado na série "Senna", que será lançada nesta sexta-feira (29) pela Netflix.
E muito antes da era "media training", o discurso de Senna alinhava-se com a saga de um herói. Em diferentes momentos, o piloto retratou epifanias ao alcançar impressionantes marcas na F1 ou fez discursos religiosos ao celebrar vitórias. "Esse cara pode dizer o que quiser e sempre receberá apoio", dizia Alain Prost sobre o rival.
A construção de um "atleta perfeito" ignorou atitudes pontuais do piloto brasileiro. Splash selecionou sete momentos em que Senna escorregou, seja em declarações, atitudes ou escolhas, ao longo da carreira encerrada de maneira trágica em 1994.