Al Pacino atropelou os protocolos, não repetiu o nome dos indicados e leu sem muita cerimônia o envelope que trazia "Oppenheimer" como o melhor filme do Oscar 2024. E tudo bem. Sem muitas novidades, a festa da Academia consagrou o filme do diretor Christopher Nolan, também agraciado com uma estatueta, e cumpriu seu papel de farol de uma indústria que finge buscar uma reinvenção, mas que está contente com o estado das coisas.
Ao menos o Oscar 2024 ampliou levemente seus horizontes para além das fronteiras de Hollywood. Teve "Anatomia de Uma Queda" premiado por seu roteiro original, teve "Zona de Interesse" consagrado como melhor filme internacional. Teve celebridades defendendo (com total razão!) causas em um dos maiores palcos do mundo. Teve poucas surpresas. Teve Martin Scorsese com zero prêmios para "Assassinos da Lua das Flores", certamente pensando que poderia estar tranquilo em casa.
Mas o Oscar é isso. Entra ano, sai ano discutimos os esnobados, os injustiçados, a audiência da festa, os momentos bacanas ("I'm Just Ken", nunca critiquei), as gafes, os looks, a política. É o momento em que o cinema encerra um ciclo e já começa a espiar quem ficará sob os holofotes no ano seguinte. Em uma festa como a do Oscar, não há exatamente perdedores. Por alguns momentos, breves ou não, todos ganham o olhar do mundo.
Não significa que a edição 2024 tenha sido perfeita. Wes Anderson, cineasta consagrado, ficou com a estatueta de melhor curta-metragem - que, convenhamos, serve muito melhor a diretores colocando seus pés na indústria. Toda a sequência de homenagem aos artistas mortos no ano passado é vulgarizada por um número musical com direito a coreografia canhestra. Faltou respeito.
Mas a indústria segue assim seu rumo. Martin Scorsese, que tem um Oscar solitário pela direção de "Os Infiltrados", segue como um dos maiores cineastas vivos. "Barbie" não teve a consagração de seus pares, mas nada muda que o filme de Greta Gerwig foi um fenômeno cultural e financeiro que marca uma geração. Bradley Cooper não deve desistir em um dia ter um careca dourado para chamar de seu. A festa é um recorte deste momento, e agora fica a cargo do tempo determinar quem merece seu lugar na história. Ano que vem, por óbvio, tem mais.
Aliás, ontem, na enquete do nosso canal Dicas de Filmes e Séries, Barbie ganhou disparado com mais de 4,4 mil votos.
Roberto Sadovski
Colunista de Splash