A sociedade secreta do sexo

Primeira pousada liberal do Rio de Janeiro faz até entrevista para aceitar público

Luiza Souto (texto) e Lucas Landau (fotos) Colaboração para o TAB, do Rio

Eram duas horas da manhã e todo mundo dançava ao som da DJ Laura Keller. Na pista, salpicada por beijos triplos, uma mulher põe a mão na saia de uma outra, enquanto um homem acaricia seus seios por trás.

Mais tarde, durante a apresentação de duas strippers, uma jovem de 22 anos rebolava de vestidinho, sem calcinha, em cima do bar, segurada pelo namorado, de 63, enquanto a mulher dele, de 44, conversava na varanda.

"Ele sempre traz a namorada, a rolinha dele, como carinhosamente a chamamos. Mas eu sou a esposa. E não pego ela, não. Gosto só de homem", avisa.

Em todo caso, se a coisa esquentar, 16 cabines reservadas, atrás do palco, garantem mais privacidade. Mas, naquela madrugada, a confraternização rolava mesmo na frente de todos. "A gente veio aqui mais para socializar", disse uma das frequentadoras da Pousada RioZin, o primeiro alojamento liberal da cidade do Rio de Janeiro, localizado na Barra da Tijuca, zona oeste.

O motivo da confraternização era o aniversário de 42 anos de um dos donos da pousada, Rodrigo, mas os frequentadores garantiram: "Aqui o bicho pega na madrugada, de fazer fila na jacuzzi e nas cabines pra transar", alertou um casado.

Esta é uma reportagem da série publicada pelo Aba Anônima contando o que rola nas casas de swing pelo Brasil.

Nada de casal fake

Inaugurada em dezembro de 2022, a pousada RioZin surgiu do desejo do casal Rodrigo e Jane, 40, de trazer ao Brasil a experiência que tiveram em festas liberais em lugares como Cancún e Jamaica e também em cruzeiros, onde era possível tomar um drinque pelado na piscina e usar uma lingerie na noite sem julgamentos.

Eles começaram a organizar festas mais animadas na casa onde moravam, na Barra mesmo, apelidado de "Mansão do Super Casal."

No início, as festas eram só frequentadas por casais do meio liberal e amigos não adeptos. Perceberam que os mais chegados no meio eram mais assíduos, então focaram somente nesse nicho. "Vinha gente até de fora do Rio", enfatiza Rodrigo.

As festas rolavam na piscina deles, durante todo o dia, com direito a DJ, banho de espuma e muito sexo.

Em uma das festas, o casal chegou a reunir 150 pessoas. Foi quando perceberam que precisavam de um espaço mais amplo, com opção de dormitório, principalmente para as pessoas que vinham de outros estados.

Foi assim que surgiu a RioZin, uma pousada de três andares, de frente para o mar, no início da Barra. São 23 suítes que dão a sensação de estar em Búzios ou em um balneário.

A decoração é delicada, de bom gosto, como um hotel de praia mesmo. Lembra também uma típica vila grega, com postes de madeira no meio do corredor do segundo andar, onde ficam os quartos, paredes amarelas e rooftop com uma bela vista.

A limpeza é impecável e os vários funcionários com radinhos a tiracolo atendem 24 horas. Mas não é qualquer um que pode usufruir do espaço para transar.

A pousada só aceita casais de verdade. Os homens que aparecem sozinhos são aceitos mediante entrevista: eles precisam comprovar que tem alguma relação e que não estão ali escondidos da mulher. O número de homens solo ainda é limitado para evitar gente sem noção e casais fake.

"Um grande diferencial nosso é o cuidado na seleção de quem poderá frequentar a pousada. Buscamos evitar o que tem acontecido em muitas casas liberais, em que o solteiro chama uma amiga ou prostituta para acompanhar só para pagar o preço de casal, que é bem mais barato", explica Rodrigo.

Os donos ainda fazem questão de avisar que ali não é motel: não adianta conhecer alguém na praia e querer alugar suíte ali para passar algumas horas.

Gente bonita, de preferência

Há mais de 20 anos no swing, uma empresária do ramo da beleza, de 51 anos, diz que gosta dessa seletividade. "Tem lugar que pensam que é uma boutique de carne", compara ela, observada pelo marido.

Um engenheiro de 56 anos, que se diz "tarado desde que nasceu", ressalta outro filtro: a beleza. Na sua visão, o público que frequenta a RioZin é o grande diferencial da casa. "O problema não é o solteiro, mas tem lugar que é a porta do inferno de gente feia."

A mulher dele, aliás, é linda. Tem 52 anos, altona, cheirosa, uma bunda bem carioca. Tomando alguns drinques ao seu lado, ela conta que só transa com alguém na presença do companheiro. Já ele pode se divertir sozinho com outra.

"Não tem nada a ver com machismo. Vai que ela pega um cara grande e forte e machuca ela. Tenho que estar junto, por segurança", ele explica ao ser questionado sobre a dinâmica que claramente o favorece.

Para o engenheiro (que não gosta de gente feia), outro ponto importante é a animação dos liberais. Para ele, casais que não curtem swing, conhecidos como preto e branco (o famoso P&B), são pessoas chatas, que só falam que "o filho ou a mãe estão doentes". "Aqui ninguém fala de família, só de coisas felizes, é um mundo maravilhoso, independentemente se você veio para transar."

Rodrigo complementa: "O ambiente de liberdade faz elas se soltarem muito mais, sem o julgamento que aconteceria num ambiente P&B."

O diferencial é a piscina

Na noite em que UOL visitou a RioZin caía uma chuva torrencial e ninguém parecia disposto a dar uns mergulhos, mesmo o local sendo coberto. Tanto a piscina que tem no meio do térreo como a jacuzzi mais próxima da entrada são aquecidas.

Mas pelo menos três casais apontaram essas estruturas como o maior diferencial do espaço —são as mais usadas no final das festas noturnas e durante as pool parties de dia.

Há cinco anos no swing junto ao marido, uma mulher de 46 anos, que se apresenta como "heteroflexível", diz que, para melhorar a fluidez, principalmente com mulheres, nada melhor que a água. "Na piscina tem mais interação", ela diz.

Os donos da RioZin dizem que a piscina era mesmo o sonho deles, já que nas viagens que fizeram por outros resorts liberais a pool party é indispensável. "A ideia é que seja um espaço de liberdade e de curtição, onde eu possa deixar minha mulher nua e ninguém vai meter a mão", resume Rodrigo.

Uma empresária paulistana de 50 anos complementa: "Aqui é mais para curtir, gastar uma onda e ser vista. Somos uma família de verdade."

Família no swing

Além das suítes e da piscina, o local oferece ainda camas coletivas, cabines com glory hole, redroom e darkroom. Tem ainda uma cabine de vidro para quem quiser se exibir, no estilo Distrito da Luz Vermelha, o circuito de prostituição de Amsterdã, na Holanda.

As festas na RioZin são organizadas por diferentes produtores e sempre seguem alguma temática. De dia, também há atividades para entreter quem está hospedado ali, com direito a um pequeno touro, que parecia um brinquedo infantil, mas com um um dildo no meio para sentar.

Dá até para fazer 'network'. Uma modelo de 21 anos, que todos os fins de semana se hospeda no local com o namorado, um fotógrafo de 52, explica: "Você curte uma piscina ou jacuzzi sem roupa enquanto está batendo papo sobre contabilidade. É uma troca de verdade. A gente brinca que é a maçonaria da putaria, porque somos uma família secreta."

Conhecido no meio como Casal Summer, dois moradores de Santos, litoral paulista, de 33 e 35 anos, falam com orgulho de serem os primeiros hóspedes cadastrados na pousada.

Adeptos do swing há dois anos, também são do time que fica mais à vontade no meio liberal pela confiança de que que nada sairá dali. A discrição fez a mulher Summer levar junto para a pegação a própria mãe, viúva, além de uma tia e uma prima, ambas solteiras.

"Minha mãe é a mais animada", diz ela.

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