O adeus à rainha

Morre, aos 96 anos, Elizabeth 2ª, a monarca do reinado mais longo da história do Reino Unido

Mariana Araújo Colaboração para Splash Suzanne Plunkett/Reuters
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Morreu hoje, aos 96 anos, a rainha Elizabeth 2ª, encerrando assim o reinado de 70 anos, o mais longo — e da monarca mais longeva — da história britânica. Um período sólido, sim. Estável? Nunca.

Enquanto a coroa esteve sobre sua cabeça, a instituição passou por divórcios, escândalos de abuso sexual e tráfico de pessoas, acusações de racismo, envolvimento com o nazismo, e de abandono de membros com deficiência, além de críticas de republicanos e mortes.

Seu grande trunfo foi justamente navegar os acontecimentos mais atrozes com a constância e a gravidade que por vezes pareciam faltar à instituição que representava.

Portanto, se hoje a monarquia permanece firme e, de alguma maneira, saiu incólume de todos estes golpes à sua imagem, muito se deve à mulher que a conduziu com postura estoica por sete décadas.

A infância

Reuters - 1941

Nascida Elizabeth Alexandra Mary Windsor ou, oficialmente, princesa Elizabeth de York em 21 de abril de 1926, Lilibet, como a família a chamava, nunca deveria ter assumido o trono. Seu pai, o duque de York, era o segundo filho do rei George 5º e, se a linha sucessória tivesse prevalecido, ele também nunca teria exercido a função.

Mas o tio mais velho de Elizabeth, o rei Edward 8º, assumiu a coroa em 1936 para reinar por apenas 11 meses, quando suas pretensões de se casar com uma mulher americana e divorciada, a socialite Wallis Simpson, provocaram uma crise constitucional.

A monarquia poderia virar república se a família real não fosse cuidadosa e, assim, Edward renunciou. Foi então que o duque Albert se tornou George 6º, a duquesa de York se tornou a rainha Elizabeth (mais conhecida anos depois como Rainha-mãe), e ela, ainda Lilibet aos 10 anos, a princesa herdeira do trono.

Educada em casa ao lado da irmã, a princesa Margaret, por tutores particulares, a futura monarca finalmente teve contato com meninas de sua própria idade ao se tornar escoteira. Grande parte dos registros que se tem de sua infância, no entanto, descreve uma garota que se interessava mais por cães e cavalos e era "organizada e responsável", segundo Marion Crawford, autora do livro "The Little Princesses" e ex-governanta das irmãs Windsor.

O primeiro-ministro Winston Churchill, ao conhecer Elizabeth aos 2 anos de idade, teria dito que ela tinha personalidade forte e "um ar de autoridade e reflexão assustadores para uma criança pequena". Já a prima Margaret Rhodes dizia que a princesa era "uma garotinha alegre, mas fundamentalmente sensata e bem-comportada", de acordo com o biógrafo Gyles Brandreth.

Reuters - 1941
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O casamento com príncipe Philip

A princesa de York e o então príncipe da Dinamarca e da Grécia se conheceram em 1934, no casamento de uma prima de Philip, quando Elizabeth ainda era criança e seu futuro marido acabava de entrar na puberdade.

Primos distantes (ambos eram trinetos da rainha Vitória), os dois se encontrariam ainda esporadicamente ao longo dos anos em ocasiões promovidas por conhecidos em comum.

A reunião definitiva se deu em 1939, quando o rei George 6º e a Rainha-mãe resolveram levar as filhas em visita oficial ao Royal Naval College, instituição de formação de oficiais da Marinha Britânica. Lord Louis Mountbatten, tio de Philip e oficial de alta patente, deveria acompanhar suas Majestades.

Para então fazer companhia às princesas Elizabeth e Margaret, ele sugeriria seu sobrinho, que começava o serviço militar. Na época, a futura rainha ainda tinha 13; o príncipe acabava de completar 18.

A partir daquele encontro, os dois passaram a trocar cartas carinhosas. Também segundo o biógrafo Gyles Brandreth, autor de "Philip and Elizabeth: Portrait of a Marriage", o futuro casal se apaixonou naquele mesmo verão. Em outro, sete anos mais tarde, o príncipe pediu a mão da princesa em casamento.

Casamentos reais tinham que ser, em primeiro lugar, convenientes. A família do noivo era o oposto: a mãe lutava contra a esquizofrenia, as irmãs estavam casadas com oficiais nazistas, o pai era ausente e sua casa real havia se tornado obsoleta. Ainda assim, Elizabeth se fez ouvir, antes mesmo de assumir o trono. O rei George concordou com o matrimônio, mas fez Philip esperar um ano pela mão de sua filha. Elizabeth ainda tinha 20 anos e, de acordo com a vontade do pai, só poderia ficar noiva aos 21.

O casamento dos dois, no entanto, era dado como certo já cinco anos antes. Em 1941, sir Henry Channon, famoso político conservador britânico, escreveu que "Philip será nosso príncipe consorte". Em 9 de julho de 1947, o anúncio oficial foi feito e o noivo ofereceu a ela um anel de diamantes de 3 quilates, com uma pedra central e 10 diamantes menores ao redor, que pertenceram a uma tiara da mãe do príncipe, a princesa Alice de Battenberg.

Nas semanas que antecederam a união, o príncipe abandonou seus títulos na Dinamarca e Grécia, além de oficialmente deixar a Igreja Ortodoxa Grega e se converter ao Anglicanismo, religião que já praticava desde a mudança para o Reino Unido. O casal subiu ao altar em 20 de novembro de 1947, na Abadia de Westminster, em cerimônia assistida por 200 milhões de pessoas no mundo todo.

Da união que veio a durar 73 anos e lhes deu quatro filhos, Philip saiu duque de Edimburgo, Conde de Merioneth e Barão Greenwich. Já a herdeira do trono se tornou, naquele momento, Princesa Elizabeth, duquesa de Edimburgo. Durante os primeiros anos, estabeleceram residência oficial na Clarence House, em Londres, mas se dividiram entre a Inglaterra e Malta, onde Philip servia a Marinha Britânica.

A perda do pai e a ascensão ao trono

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A princesa Elizabeth acompanhava o rei George 6º em eventos oficiais desde 1951, quando a saúde do monarca começou a piorar. Em 31 de janeiro de 1952, ela partiu em turnê pelo Quênia e pela Austrália no lugar de George, que se despediu da filha no aeroporto contra indicação médica. Seis dias depois, coube ao príncipe Philip dar a Lilibet a notícia de que ela tinha perdido o pai e que havia se tornado rainha durante a madrugada.

Aos 25 anos, Elizabeth assumiu a coroa e a escolha do nome com que reinaria — seu pai, por exemplo, na verdade se chamava Albert — rendeu o primeiro de muitos conflitos. O motivo? Enquanto a Inglaterra havia tido uma primeira Elizabeth no trono entre 1558 e 1603, a Escócia nunca esteve sob o comando dela, já que não era parte do Reino Unido no período. Então, como poderiam ter Elizabeth 2ª?

A nova rainha passou por cima de saias justas e questionamentos a respeito de sua capacidade de reinar (a última mulher jovem a ocupar o trono tinha sido a rainha Vitória, sua trisavó) com a mesma postura serena, firme e silenciosa da infância. Ao menos, publicamente. Não era como se sua chegada ao posto não tivesse trazido desafios entre quatro paredes.

Apesar de não haver nenhuma evidência que sustente a história de que o príncipe Philip tenha, de fato, se recusado a ajoelhar diante da esposa em sua coroação, o nome da Casa Real trouxe tensão para o casamento dos dois. Era costume no Reino Unido — e assim foi feito em gerações anteriores — que a rainha, mesmo reinante, assumisse o nome do marido. Assim, a Casa de Windsor deveria ter se tornado a Casa de Mountbatten, como queria o tio de Philip.

Mas a rainha Mary, avó de Elizabeth, e o primeiro-ministro Winston Churchill acreditavam que o nome Windsor sinalizaria a continuidade da identidade britânica e da estabilidade política da monarquia, e a aconselharam a não ceder aos desejos do marido. Menos de um mês e meio após sua ascensão, em plena mudança ao Palácio de Buckingham, a rainha anunciou que a Casa de Windsor se manteria. O duque de Edimburgo então teria reclamado: "Sou o único homem no país que não pode dar seu nome aos seus próprios filhos".

Em 1960, após a morte da rainha Mary e a saída de Churchill do poder, Elizabeth 2ª assinou um novo compromisso e Mountbatten-Windsor se tornou o sobrenome dos descendentes do casal que não têm títulos.

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A coroação

Apesar da chegada aos tronos (sim, a soberana do Reino Unido possuía oito tronos espalhados pelos palácios de Buckingham, Westminster, St. James' e pelo Castelo de Windsor) em fevereiro de 1952, a coroação, no entanto, teve de esperar.

O período de luto por George 6º e os longos preparativos, conduzidos por uma comissão comandada pelo escritório do duque de Edimburgo e com participação de altos-comissários dos países do Commonwealth, levaram a cerimônia a acontecer mais de um ano depois, em 2 de junho de 1953, na Abadia de Westminster.

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Estima-se que o evento tenha custado £1,57 milhão na época, algo em torno de £ 43,5 milhões hoje, ou R$ 260 milhões. Os gastos cobriram carruagens, acomodações para 96 mil pessoas durante a procissão, lavatórios, decorações, roupas e alterações para cetros e coroas que seriam usados pela rainha e pelo príncipe Philip. Elizabeth ainda teve bordados em seu vestido emblemas florais de todos os países do Commonwealth especialmente para a ocasião, a seu pedido.

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E por falar em joias, Elizabeth teve que treinar para encarar a "Imperial State Crown" que carregaria sobre sua cabeça. A peça, com molduras de ouro, prata e platina, contava com 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e 5 rubis e pesava cerca de 1,06 kg. Segundo a professora e pesquisadora de história da moda Pauline Weston Thomas, a rainha passou a usar a coroa antes do evento para tomar chá, ler o jornal e seguir com sua rotina normalmente, até que pudesse se acostumar com ela.

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Com exceção dos ritos religiosos conduzidos pelo Arcebispo de Canterbury, quase toda a celebração, incluindo o juramento da rainha, foi televisionada mundialmente -- a primeira transmissão do gênero na história acompanhada por 277 milhões de pessoas. Mais de 200 microfones foram dispostos em um corredor que levava até a Abadia para cerca de 750 comentaristas que narraram o cerimonial em 39 idiomas. Outras 3 milhões de pessoas se reuniram nas ruas de Londres para ver Elizabeth 2ª.

Paul Schutzer/The LIFE Picture Collection via

Fortaleza silenciosa

Por décadas, Elizabeth conduziu a coroa, o Reino Unido e o Commonwealth, com seu estilo sóbrio de reinar. Ela raramente se permitia desvios de protocolo em público e se manteve fiel não só a princípios e tradições seculares, mas às suas obrigações, em primeiro lugar.

Em 1961, durante a turnê real por Gana, o staff do Palácio de Buckingham enfrentou o primeiro de diversos sustos ao longo dos anos em relação à segurança de Sua Majestade quando surgiram possíveis ameaças de morte à rainha. Ela, no entanto, se recusou a interromper a programação normal, segundo o primeiro-ministro à época, Harold Macmillan.

A rainha tem sido completamente determinada enquanto isso... Ela está impaciente por causa da maneira como a tratam, como se fosse uma estrela de cinema. Ela tem, de fato, o coração e o estômago de um homem. Ela ama o seu dever e o que significa ser rainha.

Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico entre 1957 e 1963, em suas memórias.

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Elizabeth, no entanto, jamais falou em público em relação a estas experiências. Aliás, ela raramente ofereceu opiniões extremamente pessoais ou posicionamentos que não fossem, em primeiro lugar, necessários e alinhados com o cumprimento de suas responsabilidades.

Por isso mesmo, o retrato atípico da vida íntima da monarquia mostrado no documentário "Royal Family" (Família Real, em inglês) — uma ideia de William Heseltine, Secretário de Imprensa da Casa Real nos anos 60, apoiada pelo Lord Mountbatten e pelo príncipe Philip — foi banido pela coroa.

Com ares e cores de reality show em uma época em que não se sonhava com Big Brother, a produção mostrava dias comuns e a rotina mundana da família: as audiências com políticos e diplomatas se misturavam a passeios e churrascos com os filhos e discussões sobre a escolha de roupas. Diante da recepção hostil da mídia, que considerou a obra perigosa por banalizar a monarquia, a rainha, que tudo indica era reticente em relação à proposta, resolveu retirá-la de circulação de vez. Desde 1977, o documentário não ganha a luz do dia na televisão.

Se nos últimos anos de sua vida o público viu ainda momentos mais humanos de Elizabeth 2ª, como a atenção que ela dispensava aos seus cães da raça corgi — publicações que cobrem o cotidiano da realeza como a Town & Country estimam que ela teve mais de 30 no seu século de vida —, a falta de contato com esta faceta da realeza resultou em um golpe duro à sua popularidade nos anos 90.

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A perda de Diana

Enquanto o mundo fervilhava com teorias da conspiração a respeito do possível envolvimento da família real na morte de Diana, após o fatídico acidente de carro em 31 de agosto de 1997, em Paris, a rainha se manteve em silêncio por cinco longos dias. Os súditos, órfãos da Princesa do Povo, deixavam flores em frente ao Palácio de Kensington e cobravam uma resposta vinda de Buckingham.

Em entrevista à CNN em 2012, a prima da rainha e sua confidente por anos, Margaret Rhodes, explicou as circunstâncias da distância de Elizabeth, vista então como frieza, e que jamais foram completamente abordadas por ela. "Ela foi castigada por ter ficado em Balmoral com os dois meninos [William e Harry]. Ela estava sendo uma boa avó."

Segundo Margaret, foi o primeiro-ministro Tony Blair quem pediu que Elizabeth 2ª voltasse para Londres para lidar com o luto nacional, que era sentido, embora não fosse oficial, porque, pela primeira vez em seu reinado, ela havia deixado o povo em segundo lugar. "Ela fez o certo, no fim, ao voltar [para Londres] e vir ver as flores".

A primeira aparição da rainha após a perda de Diana foi ao lado do príncipe Philip; eles visitaram os portões de Kensington para ver as mensagens de carinho deixadas pelos admiradores da princesa em frente à residência dela. De acordo com o documentário da National Geographic "Being the Queen", o casal temia ser hostilizado ao chegar ao local.

Elizabeth parecia tensa na sequência de imagens, mas ela teria se sentido acolhida quando uma súdita lhe entregou flores. A rainha, acreditando que o buquê seria para Diana, teria perguntado à mulher se ela gostaria que ele fosse depositado junto a outros no portão, mas ouviu como resposta que as flores seriam para ela mesmo — acompanhadas de condolências pela perda da família.

Horas depois, a soberana finalmente decidiu falar ao público em uma transmissão em rede nacional que foi depois acompanhada pelo mundo todo. No discurso, ela se dirigiu à nação "como avó e rainha" e disse que admirava a princesa, que era "um ser humano excepcional". "Em momentos bons e ruins, ela nunca perdeu a capacidade de sorrir, nem de inspirar os outros com seu calor e gentileza. [...]. Que cada um de nós agradeçamos a Deus por alguém que fez muitas, muitas pessoas felizes."

A mensagem, ainda que considerada apropriada, não arrefeceu as tensões por meses, nem mesmo depois de Elizabeth ter quebrado protocolo e se curvado diante do caixão da ex-nora. A soberana, no entanto, manteve sua firmeza.

Foi apenas uma carta escrita pela rainha a uma de suas secretárias seis dias depois da morte da Diana, e publicada pela imprensa britânica em 2017, que deu maior dimensão de seu estado emocional naquele setembro de 97. No texto, ela reconheceu que foi "tomada por um misto de emoções" diante da perda "terrivelmente triste" da princesa, mas que o luto e o funeral na Abadia pareciam ter unido as pessoas de maneira inspiradora. Ela ainda se dizia orgulhosa dos netos, corajosos frente à tragédia.

Quem era Elizabeth na intimidade?

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É difícil compor um retrato fiel de como foi uma figura pública como Elizabeth 2ª na esfera privada, afinal, a rainha dedicou a vida a servir uma instituição cuja representação maior era ela mesma. Ao longo dos anos, ela tornou-se a própria encarnação da "firma", como gostava de chamar a coroa, em tom de gozação, o sempre controverso príncipe Philip.

Entre quatro paredes

A ex-governadora-geral do Canadá Michaëlle Jean passou um final de semana na Escócia na companhia da família e fez um dos poucos relatos da vida íntima da realeza. A política disse ao jornal The Star ter se surpreendido com o fato de que quase todos cozinhavam juntos e que a rainha preparava sua própria receita de molho para salada, além de depois arregaçar as mangas e lavar a louça.

Outros raros comentários sobre Elizabeth sugeriam que ela era apegada ao protocolo apenas fora do palácio. Desde a infância, foi taxada como 'tomboy', ou moleca, e gostava de atividades ao ar livre, mais do que de festas ou qualquer glamour associado à realeza — o oposto da irmã.

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Rixas com a irmã?

Tida como festeira e rebelde pelos tabloides, políticos e famosos que a conheceram, a princesa Margaret viu sua relação com a irmã se tornar notoriamente mais complexa após a ascensão de Elizabeth.

Coube à mais velha vetar o casamento da caçula com Peter Townsend, um oficial da Força Aérea Britânica divorciado, o que iria de encontro não só ao protocolo, mas às legislações pertencentes à coroa na época. Elizabeth deu a Margaret uma condição: ela poderia se casar, se renunciasse ao título de princesa, assim como fez o tio delas, o exilado duque de Windsor, antes conhecido como rei Edward 8º.

Margaret desistiu então do relacionamento, mas continuou a desafiar as normas e responsabilidades de seu papel real, incumbindo a rainha de administrar seu comportamento por vezes vibrante, mas errático, regado a bebidas, cigarros, escândalos e relacionamentos conturbados, a exemplo de seu divórcio do fotógrafo Antony Armstrong-Jones, o Conde Snowdon, em meio a traições de ambas as partes bem documentadas pelos jornais da época.

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Suspeitas de traição do marido

A soberana raramente fez comentários públicos sobre o comportamento dos membros de sua família, mas o marido se tornou uma conhecida exceção. Mais de uma vez, Elizabeth se referiu a Philip como "sua fortaleza" diante de suas obrigações e de tempos difíceis. O casamento de pouco mais de 73 anos, no entanto, também foi alvo de especulações.

Os jornais britânicos apontaram diversos nomes de bailarinas e atrizes como possíveis amantes para o jovem, bonito e sociável príncipe nos anos 50 e 60, mas nunca se tornaram públicas provas definitivas tanto de que Philip tivesse traído a rainha, como de que ele não tivesse traído. Segundo o jornal Express, em 1992, o duque de Edimburgo perdeu a paciência com uma repórter que lhe questionou a respeito das teorias de infidelidade e perguntou:

Você já parou para pensar que, nos últimos 40 anos, eu nunca fui a lugar nenhum sem um policial me acompanhando? Então como eu poderia me safar de uma coisa dessas?

Príncipe Philip, duque de Edimburgo

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Os rumores não parecem ter afetado a dinâmica do casamento real. Durante a primeira década de seu reinado, Elizabeth já era mãe do príncipe Charles (nascido em 1948) e da princesa Anne (nascida em 1950), mas os compromissos oficiais a mantinham bem longe das crianças.

Ela então delegou ao marido muito da rotina familiar, de acordo com a biógrafa real Sally Bedell-Smith, jornalista e autora de "Elizabeth The Queen: The Life of a Modern Monarch". Foi assim que coube ao príncipe Philip se responsabilizar pelos pormenores da educação dos dois, que passaram os primeiros anos também acompanhados de babás até serem enviados para internatos.

Charles nunca escondeu em entrevistas a insatisfação com a decisão do pai de enviá-lo a Gordonstoun, uma severa escola em que o próprio Philip havia estudado. Tanto o príncipe de Gales quanto a princesa real foram os primeiros filhos de monarcas a não serem educados por tutores dentro do palácio na história da coroa britânica.

O historiador Robert Lacy, consultor da série "The Crown", aponta que a decisão teve o apoio da rainha e deve ter sido baseada na própria experiência que teve na infância: ela achava melhor que os filhos tivessem a estabilidade da casa ou da escola, em vez de serem arrastados a cada compromisso ao redor do mundo.

"Ela foi criada dessa forma, afinal, com os pais a deixando em casa e confiando sua educação à governanta e aos tutores", disse à revista Town & Country.

Tensão com Charles

Segundo a biógrafa Sally Bedell-Smith, a infância do príncipe Charles foi marcada pela presença da avó, a Rainha-Mãe, de quem era bastante próximo. A autora de "Prince Charles: The Passions and Paradoxes of an Improbable Life" ainda relata que o então herdeiro do trono costumava ver a mãe e o pai apenas no café da manhã e na hora do chá e que, como era comum à aristocracia, "nenhum deles demonstrava carinho fisicamente".

Ela, no entanto, afirma que o príncipe e a rainha possuíam uma dinâmica singular de admiração e compreensão, já que estavam em uma posição em que poucos já se viram no planeta: para que ele assumisse qualquer tipo de poder, teria de perdê-la primeiro.

Apesar da complexidade, a expert acredita que mãe e filho tivessem, sim, um afeto profundo um pelo outro, mas também grande inabilidade em demonstrá-lo.

Assim como no caso da princesa Margaret, o papel de monarca de Elizabeth pode ter pesado em sua relação com o primogênito, concordam diversos biógrafos da realeza. A paixão de Charles por Camilla, por exemplo, não encontrou apoio familiar antes do casamento com Diana e, após, diante de todas as ameaças que um caso extraconjugal representava para o papel dele como príncipe de Gales e futuro chefe da Igreja Anglicana, tornou-se ainda mais indesejada.

Segundo noticiou o The New York Times em 1996, à época do divórcio de Charles e Diana, o príncipe enfrentou a mãe, que não queria tirar da nora o título de Sua Alteza Real, como acabou acontecendo.

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Cumplicidade com Anne, Andrew e Edward

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Questionada se a mãe havia sido pouco calorosa com os filhos, a princesa Anne saiu em sua defesa. "Eu simplesmente não acredito que haja alguma prova para sugerir que ela não seja carinhosa. É inacreditável", respondeu, irritada, em entrevista à BBC em 2002. Anne, no entanto, também parece ter tido mais interesses em comum com Elizabeth: ambas eram apaixonadas pelo hipismo e intensamente dedicadas aos deveres reais.

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Andrew e Edward, os caçulas nascidos nos anos 60, desfrutaram mais da companhia da rainha em sua criação. Ainda de acordo com Robert Lacy, ambos conheceram uma Elizabeth mais flexível e maternal, embora seja difícil confirmar a teoria. Andrew, de acordo com os tabloides britânicos, teria sido sempre o favorito da monarca -- especialmente por seu desempenho militar destacado na Guerra das Malvinas.

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Ao longo dos anos, no entanto, a rainha pareceu ter se aproximado cada vez mais do filho mais novo, a quem passou a delegar mais projetos e também de quem apareceu mais próxima em eventos públicos. Após a morte do príncipe Philip, a esposa de Edward, Sophie, condessa de Wessex, foi apontada pela People como uma das quatro mulheres de confiança da monarca que estariam a apoiando no cotidiano sem o marido.

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Avó e bisavó presente

Ao longo dos anos e, especialmente após a morte de Diana, Elizabeth fez questão de se tornar uma avó presente na vida dos netos — não só de William e Harry, como também para os filhos de Anne, Zara Tindall e Peter Philips; as de Andrew, as princesas Beatrice e Eugenie; e os de Edward, Lady Louise Windsor e James, visconde Severn.

Bem estabelecida como uma das monarcas mais longevas da história, ela também pode tirar mais tempo livre para estar na companhia da família e chegou a dizer à atriz Kate Winslet, durante uma premiação, que o papel de matriarca era, enfim, "o único trabalho que realmente importava".

De todas as acusações de racismo e maus-tratos que dirigiu à família real, Harry jamais apontou a avó como autora de nenhuma delas. Pelo contrário. A Oprah Winfrey, ele garantiu que, de Elizabeth, jamais partiu nenhuma atitude agressiva. Após o rompimento com a coroa, ele também fez questão de homenageá-la no nome da filha: Lilibet, assim como o apelido carinhoso pelo qual ela era chamada na infância.

Ainda segundo a jornalista Sally Bedell-Smith, Elizabeth era hábil usuária de tecnologia e usava o celular para trocar mensagens em um grupo com os netos e acompanhar as novidades de mais de uma dezena de bisnetos.

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Elizabeth R., a feminista sorrateira

Quem já assistiu "The Crown" talvez se lembre bem que a rainha tradicionalmente não fazia posicionamentos políticos em público: suas visões de mundo e orientações eram restritas às audiências a portas fechadas em seu gabinete com seus primeiros-ministros.

Mas a intérprete da monarca durante a terceira e quarta temporadas, Olivia Colman, acredita que, apesar da oficial neutralidade, Elizabeth 2ª sempre foi a feminista definitiva.

Ela guiou com tremenda estabilidade o Reino Unido e 54 membros do Commonwealth por décadas, navegou um universo de poder predominantemente masculino, enfrentou dúvidas a sua habilidade de reinar com firmeza, historicamente deu seu apoio mesmo em meio a discordâncias a primeira mulher a ocupar Downing Street na história do país, Margaret Thatcher, e não foi apenas a chefe de Estado, como também a chefe de uma família repleta de complexidades.

Apesar de o argumento de Olivia ter sido considerado simplista por veículos de mídia tradicionais, como é o caso do jornal The Guardian, a verdade é que ela não está sozinha: ao longo dos anos, a imprensa especializada na cobertura da realeza classificou a rainha como "sorrateiramente feminista".

Em 2013, por exemplo, a rainha fez uma rara e significativa alteração no Ato de Sucessão à Coroa, a lei que regulamenta as condições para herdar o comando do Reino Unido. Com a reforma do texto, homens e mulheres que são filhos de qualquer monarca passaram a ter direitos iguais ao trono. Na prática, ela impediu que o príncipe Louis, irmão caçula da princesa Charlotte, passasse à sua frente na linha sucessória apenas por ser homem.

Algumas barreiras desafiadas por ela

  • Direitos da mulher

    Se faltava apoio claro aos movimentos de direitos da mulher, sobrava ousadia e, em alguns momentos, pioneirismo. Elizabeth 2ª foi a primeira mulher na história da família real a servir às Forças Armadas em tempo integral, ainda durante a Segunda Guerra. Em 1943, ela se filiou ao Women's Institute, uma organização que promove "o avanço da educação de mulheres e garotas, sem limitações de área", entre outros direitos sociais femininos. Desde então, ela foi presidente do escritório de Sandringham da instituição.

    Imagem: Wikipedia
  • Quebra de protocolo

    Uma anedota relatada pelo diplomata britânico Sir Sherard Cowper-Cowles, que era embaixador do Reino Unido na Arábia Saudita em 2003, ainda ilustra mais das posições pouco ortodoxas, firmes e dificilmente acidentais para uma mulher que viveu regida pelo protocolo. Ao receber o rei saudita Abdullah na propriedade real em Balmoral, Elizabeth o convidou para um passeio pela propriedade. O rei aceitou. O que ele não esperava ao subir no jipe real é que a própria rainha o conduziria; mulheres só ganharam o direito de dirigir na Arábia Saudita em 2018, mas ela fazia questão de assumir o volante desde o Exército.

    Imagem: Max Mumby/Getty Images
  • Primeiro post

    Foi uma breve mensagem assinada por Elizabeth R. (Elizabeth Regina, ou Rainha Elizabeth, em latim) no Instagram da família real, em 2019 -- o primeiro post feito pessoalmente por Sua Majestade -- que encerrou, ou quem sabe reacendeu, a discussão. Para este marco, a monarca escolheu homenagear Ada Lovelace, a primeira programadora de computadores, que teve seu trabalho preterido diante da produção acadêmica de homens e só foi reconhecida nos anos 50, quase 100 anos depois de sua morte.

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Um século de história

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Os principais momentos de seu reinado

  • Anos 50

    Após sua ascensão e sua coroação no início da década, em 1957, a jovem rainha enfrentou a Crise do canal de Suez. Segundo Lord Mountbatten, Elizabeth era contrária à invasão por parte do Reino Unido e da França do canal em território egípcio. Downing Street, como é chamado o gabinete do primeiro-ministro, discordava, já que a região é estratégica para o comércio e sua nacionalização prejudicaria a economia britânica. Após dois meses de tensão entre monarquia, imprensa e parlamento, o premiê Anthony Eden renunciou e um tratado de paz foi assinado.

    Imagem: A rainha Elizabeth II com um de seus cachorros em 1952 - Foto: Getty Images
  • Anos 60

    O início da década foi tranquilo para a rainha. Em 1961, por exemplo, ela recebeu os Kennedy, "a família real americana", no Palácio de Buckingham, um encontro que gerou curiosidade pelas diferenças de perfil dos dois carismáticos clãs. Em 1966, no entanto, ela enfrentaria uma das maiores crises do seu reinado: o desastre de Aberfan, uma espécie de Brumadinho britânica, em que o colapso de uma mina de carvão matou 116 crianças e 28 adultos após atingir uma escola e causou revolta na população local, que cobrava a ajuda da coroa após a tragédia.

    Imagem: Divulgação/Bettmann Archive
  • Anos 70

    Elizabeth lançou moda já em 1970: em turnê real pela Austrália, ela deixou para trás séculos de tradição e, em vez de acenar de longe para os súditos, foi às ruas caminhar com eles. Apesar do sucesso da visita, a coroa enfrentaria problemas com o país em 75, após a rainha se negar a reinstaurar o Governador-Geral que havia perdido o cargo; uma decisão que alimentou desejos republicanos de parte da população. O movimento, no entanto, não foi para frente e, em 1977, a monarca comemorou seu jubileu de prata (25 anos no trono) com o reino intacto.

    Imagem: Anwar Hussein/Getty Images
  • Anos 80

    Um dos períodos de maior popularidade da família real, que também deixou Elizabeth mais vulnerável. Se 1981 trouxe o 'casamento do século', com o príncipe Charles subindo ao altar com a princesa Diana, ele também incluiu dois atentados a tiros contra a vida da rainha em funções oficiais, dos quais ela escapou ilesa. Além disso, em 1982, o súdito Michael Fagan invadiu o quarto da monarca enquanto ela dormia. Os tabloides também não a deixaram em paz, questionando e ironizando a postura da coroa em relação à gestão Thatcher.

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  • Anos 90

    Em contrapartida, os anos 90 foram brutais para a coroa. O 'horrível' ano de 1992 trouxe o divórcio da princesa Anne e dos príncipes Andrew e Charles, todos envolvidos em escândalos de traições amplamente documentados pela imprensa. Em 1997, Diana morreria, deixando William e Harry órfãos e a imagem da rainha arranhada, acusada de frieza em relação à "Princesa do Povo" e até responsabilizada pela sua morte. Em raro discurso pessoal, Elizabeth chamou o marido de sua 'fortaleza' durante o período mais desafiador para a monarquia desde a 2ª Guerra.

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  • Anos 2000

    O início da década foi agridoce para a rainha: 2002, o ano de seu jubileu de ouro de celebrações recordes, com direito a shows de Paul McCartney e Queen dentro de Buckingham, também trouxe a morte da Rainha-mãe e de sua irmã, a princesa Margaret. Em 2005, Charles voltou a subir ao altar, com Camilla Parker-Bowles, apontada como pivô do divórcio de Diana. Um raro movimento de Elizabeth foi compreendido como apologético à memória da ex-nora: ela emitiu um comunicado oficial garantindo que Camilla não será rainha um dia, mas, sim, princesa.

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  • Anos 2010

    Além dos avanços diplomáticos, como a chegada de Elizabeth 2ª à Irlanda depois de 100 anos de animosidades entre a coroa e o país republicano, a rainha assistiu à expansão da família -- e, com isso, o retorno aos holofotes. Em 2011, o príncipe William se casou com Kate Middleton. Dois anos depois, o príncipe George, futuro rei, veio ao mundo. Ele foi seguido pelos irmãos, a princesa Charlotte, em 2015, e o príncipe Louis, em 2018. No mesmo ano, o príncipe Harry disse "sim" à Meghan Markle que, em 2019, deu à luz Archie Mountbatten-Windsor.

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  • Anos 2020

    O período de luto mundial por causa da pandemia do coronavírus também tocou a família e, sobretudo, a rainha. Isolada no Castelo de Windsor com o príncipe Philip, ela manteve poucas atividades e aderiu ao trabalho remoto como uma plebeia, conduzindo audiências por videochamada (foto). Enquanto isso, os príncipes Charles e William contraíram a covid-19 e precisaram se manter isolados da matriarca. Em abril de 2021, no entanto, ela perdeu seu fiel escudeiro: Philip faleceu em casa aos 99 anos após uma cirurgia no coração.

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O 'annus horribilis' de Sua Majestade

Segundo o calendário real, 1992 seria um ano de alegria: nele, a rainha festejaria seu Jubileu de Rubi, ou seja, os 40 anos de sua ascensão ao trono. No entanto, o discurso da celebração naquele novembro foi bem diferente do esperado; e o tom de rara lamentação pública de Elizabeth fez história.

1992 não é um ano para o qual eu olharei com puro prazer. Nas palavras de um dos meus mais compreensivos confidentes, este foi afinal um 'annus horribilis'.

O tal 'annus horribilis' (ano horrível, em latim) da rainha mereceu o termo. Logo em março, o príncipe Andrew, seu terceiro filho, se separou da mulher, Sarah, a duquesa de York. Um mês depois, em abril, a princesa Anne, sua segunda filha, se divorciou do capitão Mark Phillips. Ambas as separações foram marcadas por escândalos de traições que alimentaram os tabloides por meses.

Em junho, foi publicado o livro "Diana: Her True Story", a famosa biografia escrita por Andrew Morton com a cooperação da princesa, que enviava gravações secretas ao jornalista relatando a rotina do seu casamento com Charles e as traições do marido com Camilla Parker-Bowles, hoje duquesa da Cornualha.

O lançamento expôs, como nunca antes, detalhes da vida íntima da família real e da já especulada crise por trás do casamento de conto-de-fadas do príncipe e da princesa de Gales. Diana foi acolhida pela imprensa como vítima da instituição que não lhe ofereceu apoio enquanto sua saúde mental deteriorava; a coroa sofreu por não ter respondido publicamente pelo comportamento de Charles.

Separada, mas ainda não divorciada de Andrew, a duquesa de York foi fotografada tomando sol sem a parte de cima do biquíni durante viagem de férias com o empresário americano John Bryan, em agosto. Na sequência de imagens, os dois se beijam e John também aparece com os dedos do pé de Sarah na boca, enquanto a princesa Eugenie observava o casal ao lado da piscina. As fotos foram consideradas um escândalo na época.

Apenas quatro dias depois, gravações de conversas telefônicas íntimas da princesa Diana com James Gilbey em 1989, que ficaram conhecidas como "Squidgygate", foram publicadas pelo The Sun. Nelas, a princesa reclama da relação com o marido e diz estar com medo de estar grávida. Outro (e maior) problema para o palácio, já que, a esta altura, Charles e Diana disputavam a simpatia do público abertamente.

Em novembro, pouco antes do discurso de Elizabeth, houve ainda o incêndio dentro do Castelo de Windsor. Os estragos foram tão grandes que a coroa abriu, pela primeira vez na história, o palácio de Buckingham para a visitação com o propósito de arrecadar fundos para a restauração da residência medieval.

O que a rainha não sabia é que seu 'annus horribilis' ainda não tinha acabado. Em dezembro, Charles e Diana anunciariam, oficialmente, sua separação — mesmo depois da interferência da rainha e do príncipe Philip para promover uma possível reconciliação do casal.

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Um novo 'annus horribilis'?

Desde 1992, a família real enfrentou, como qualquer outra família, altos e baixos. Mortes, casamentos, brigas, comemorações. Mas entre 2020 e 2021, Elizabeth 2ª passou por outros novos e difíceis acontecimentos.

Em março de 2020, a monarquia voltou aos holofotes com o que os tabloides ingleses chamaram de "Megxit": o anúncio da saída oficial do príncipe Harry e de Meghan, a duquesa de Sussex, do serviço à coroa. O casal, um dos mais populares da família, deixou o Reino Unido e passou a viver nos Estados Unidos em meio a rumores de uma briga com o príncipe William.

Ao mesmo tempo, com o início da quarentena devido à pandemia do coronavírus pelo país, a família real enfrentaria, assim como o resto do mundo, um duro período de autoisolamento, que teria afetado principalmente os mais idosos.

Segundo o jornal britânico The Standard, o príncipe Philip teria se queixado bastante, em seu último ano de vida, por não poder interagir mais com a família. Ele e Elizabeth ficaram isolados no Castelo de Windsor e não voltaram mais a Londres durante aquele ano. Enquanto isso, os príncipes Charles e William foram contaminados e tiveram a covid-19.

Dois meses depois do início da pandemia e da saída de Harry, em maio de 2020, o príncipe Andrew se "aposentou permanentemente" da vida pública e deixou suas funções junto à coroa, após se tornar alvo de investigações da justiça americana pelo seu possível envolvimento com um esquema de tráfico de pessoas e abuso sexual de menores.

Amigo pessoal de Jeffrey Epstein, milionário americano que foi condenado por comandar um esquema de aliciamento de mulheres, o príncipe teria participado das festas na mansão de Epstein e feito sexo com garotas pagas ou aliciadas por ele, segundo dados preliminares da investigação publicados pela imprensa dos Estados Unidos.

Em março de 2021, Harry e Meghan deram uma controversa entrevista à apresentadora americana Oprah Winfrey em que acusaram a realeza de racismo contra o filho do casal, Archie. Segundo o casal, um familiar teria manifestado "preocupações" em relação à cor da pele do menino ao nascer, já que Meghan é birracial e sua mãe é negra.

Os Sussex garantiram que a rainha e o príncipe Philip não estavam envolvidos nos desentendimentos que eles tiveram com os Windsor, mas a entrevista repercutiu duramente pelo Reino Unido, a ponto de o príncipe William afirmar que a família deles não é racista, publicamente, e de a rainha anunciar que investigaria as 'sérias acusações' feitas pelos dois.

Um mês depois, em abril, Elizabeth 2ª perdeu o príncipe Philip, que morreu aos 99 anos, ao seu lado, segundo os jornais ingleses, no Castelo de Windsor. Ela surgiu visivelmente abatida no funeral do duque de Edimburgo, seu marido por 73 anos e seu companheiro por cerca de 80 anos. Desde então, a saúde da rainha se deteriorou: ela teve problemas de mobilidade, covid-19 e se ausentou de diversos compromissos, entre eles eventos do Jubileu de Platina, em comemoração aos 70 anos de seu reinado, em junho. No mês seguinte, ela reduziu a carga de trabalho.

A última aparição pública da rainha foi na terça-feira (6), nomeando Liz Truss como a nova primeira-ministra do país em sua casa escocesa, o Castelo de Balmoral.

Era o fim de uma era.

Ronny Hartmann/AFP Ronny Hartmann/AFP
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